Jornalista e escritor Pitter Lucena faz uma contundente reflexão sobre o Natal e artigo imperdível

REFLEXÕES DO NATAL

• Pitter Lucena

O Natal, outrora repleto de simplicidade e significado, transformou-se ao longo dos anos. A essência da celebração, que deveria ser um momento de reflexão sobre o nascimento de Jesus Cristo e seu sacrifício pela humanidade, foi obscurecida por uma figura vermelha e rechonchuda que surgiu nos contornos da tradição: o Papai Noel.
Antigamente, as festividades natalinas eram permeadas por uma aura de espiritualidade e compaixão. As famílias se reuniam em torno de uma mesa farta, trocavam afetos e expressavam gratidão pelos momentos compartilhados. Contudo, desde a introdução do Papai Noel, essa atmosfera tem se perdido gradualmente.
A conexão entre o nascimento de Jesus Cristo e a figura do Papai Noel parece ser uma mistura inusitada de tradição cristã e lendas populares. A história do bom velhinho vestido de vermelho, que desce pela chaminé para presentear crianças, tornou-se um ícone do consumismo desenfreado que caracteriza a época atual. Em meio aos embrulhos coloridos, a verdadeira mensagem do Natal muitas vezes se perde, substituída pelo tilintar das caixas registradoras.
A data de 25 de dezembro, embora consagrada como o dia do nascimento de Cristo, é envolta em incertezas históricas. O homem, em sua tentativa de estruturar o tempo, escolheu essa data como símbolo, mas a realidade é que o nascimento do Salvador permanece um mistério em termos cronológicos.
Hoje, o Natal tornou-se uma corrida mercadológica, onde os presentes se acumulam sob a árvore como troféus de uma competição de consumo. As luzes brilham intensamente nas vitrines das lojas, mas muitas vezes são eclipsadas pelas sombras da fome e das guerras que assolam o mundo.
Em vez de nos deixarmos seduzir pelas artimanhas do comércio, talvez seja hora de olharmos para dentro de nós mesmos. O verdadeiro espírito natalino não reside nos embrulhos luxuosos, mas na capacidade de compartilhar, de estender a mão ao próximo, de promover a paz e a justiça. O nascimento de Cristo, seja qual for a data exata, deve nos inspirar a celebrar não apenas o passado, mas a construir um futuro melhor para a humanidade.
Que o Natal seja mais do que um dia de troca de presentes caros, mas uma oportunidade para refletir sobre o que realmente importa. Que possamos redescobrir a essência da generosidade, da compaixão e do amor ao próximo. Que, ao invés de nos perdermos na correria dos shoppings, possamos encontrar tempo para estender a mão a quem precisa, contribuindo para um mundo mais justo e humano. Que o Natal, enfim, seja um convite à reflexão e à ação em prol de um futuro onde a fome e as guerras se tornem lembranças distantes, e a verdadeira luz do Natal brilhe em nossos corações.

• Pitter Lucena é jornalista e escritor