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Médico acreano, ex-funcionário do Banacre, estava no olho do furacão da tragédia em São Paulo: “Era só chegando gente ferida, gemendo”
Por Evandro Cordeiro
O ex-funcionário do Banacre e do Banco do Brasil, Edilson Lima de Oliveira, um acreano que nasceu em Rio Branco há 57 anos, é testemunha ocular de uma das maiores tragédias naturais registradas no território de São Paulo, as fortes chuvas que atingiram o litoral norte daquele estado derretendo encosta de morros, soterrando centenas de moradias e vitimando até aqui 56 pessoas. Ele é médico plantonista do Hospital das Clínicas de São Sebastião, no centro de uma das áreas mais afetadas.
Edilson Lima é médico há 15 anos e trabalha há 7 anos no litoral norte de São Paulo, cinco dos quais no Hospital das Clínicas. Além de plantonista do HC, tem contrato com o programa “Mais Médico” cujo serviço é prestado em aldeias de índios tupis guaranis. Entrou no plantão na sexta-feira, 24, quando iniciaram as chuvas. Menos de 24h depois, começa a tragédia. “A maior que já vi na vida”, conta ainda consternado, ao AcreNews.
Segundo o médico acreano, que passou cinco dias de plantão ininterrupto, o drama começou quando uma colega dele de trabalho foi levada já sem vida para o hospital. Morreu ela, a filha, a mãe e o padrasto. “Não abalou apenas eu, mas todos os colegas”, conta.
Edilson relata que no ápice da tragédia, na medida que a chuva não parava e os morros desabavam, o caos ia aumentando dentro do hospital. “Iam chegando muitos feridos e o pior: na maioria dos casos, já tinha passado o tempo de fazer sutura nas feridas, que é de seis horas. Tínhamos que debridar o ferimento para poder fazer a sutura. Ou seja: fazer sangrar novamente o ferimento”, dá detalhes.
Naquilo que sobrou de tragédia, transbordou em solidariedade. Edilson conta que o povo se envolveu. A população inteira. “Veio ajuda de vários lugares de São Paulo e de fora”, elogia. Além de vidas, houve muita perda material. “Muita gente perdeu tudo”, diz.
Edilson conta que o maior apoio veio do Estado. “Nosso governador veio no local da trajedia e se comprometeu em ajudar todos os desabrigados”, conta o ex-bancario. Ele não sabe precisar números da tragédia e nem faz questão. O caos total deixou o acreano em outro patamar. “Aprendi muito diante de uma tragédia sem precedentes”, finaliza pelo telefone.
MORTOS
O número de mortos por causa das chuvas no litoral norte de São Paulo chegou a 65. Do total, 64 das vítimas foram localizadas no município de São Sebastião e uma em Ubatuba. Profissionais do Corpo de Bombeiros, da Defesa Civil e fuzileiros da Marinha seguem as buscas por desaparecidos.