PITTER LUCENA
Morre o poeta e advogado João Crescêncio e o escritor Pitter Lucena presta sua homenagem
O adeus a Crescêncio Santana
O Amigo Dalmir Ferreira, nos informa nesta manhã (29/10) o falecimento do advogado, poeta e compositor João Crescêncio de Santana, aos 90 anos, ocorrido na tarde de ontem (28/10).
Crescêncio nasceu no dia 8 de março de 1933, no seringal Arapixi, município de Boca do Acre-AM. Chegou a Rio Branco em 1949, ainda adolescente. Em 1965, ingressou na então Faculdade de Direito do Acre (FADACRE), atual Universidade Federal do Acre, integrando a primeira turma de Direito da instituição. Depois de formado, ocupou diversos cargos públicos, como Diretor de Polícia Judiciária e Assessor Jurídico. Foi membro efetivo da Academia Acreana de Letras (AAL). Com a música “Você é minha paz”, venceu o 1.º Festival de Música Acreana realizado em 1969, idealizado pelo jornalista Elzo Rodrigues, no Cine Acre.
Aos familiares e amigos, nossa solidariedade.
CRESCÊNCIO: UMA SERENATA À VIDA E À ARTE
Nesta manhã de outubro, as brisas do Acre suspiram tristes, enquanto a notícia, carregada de melancolia, atravessa as colinas verdes e os rios serenos. Nosso amigo Dalmir Ferreira sussurra, com pesar nos olhos, que João Crescêncio de Santana, um sábio das leis, um poeta da alma e um cantor dos corações, partiu desta terra aos seus 90 anos.
Crescêncio, o filho da Amazônia, nasceu sob o espetáculo do sol nascente no dia 8 de março de 1933, nos confins do seringal Arapixi, lá onde a floresta abraça o rio e o tempo flui suave como a seiva de seringueira. Mas a vida tem seu chamado, e, aos 16 anos, com sonhos e esperanças no olhar, ele chegou a Rio Branco, a cidade que abriria os portões de seu destino.
1965 foi o ano de sua jornada acadêmica, quando ele se juntou à primeira turma de Direito na então Faculdade de Direito do Acre, que hoje abraça o nome da Universidade Federal do Acre. Com o direito a ser sua bússola e a justiça como sua estrela guia, Crescêncio percorreu os caminhos sinuosos do conhecimento, moldando sua mente e sua alma.
O advogado se tornou uma figura respeitada, um defensor apaixonado da justiça, que não apenas conhecia a lei, mas a sentia em cada batida de seu coração. Com uma toga como manto, ele ocupou cargos de destaque, de Diretor de Polícia Judiciária a Assessor Jurídico, deixando sua marca no sistema legal do Acre, sempre lutando pela equidade.
No coração literário do Acre, ele se estabeleceu como membro efetivo da Academia Acreana de Letras, uma casa de poetas e escritores, onde sua voz ecoava em versos, tocando as almas daqueles que tinham a honra de ouvi-lo. Sua poesia era um oásis de palavras, um refúgio de beleza em um mundo muitas vezes árido.
Mas havia ainda outra dimensão na alma de Crescêncio, uma que se derramava em canções. Em 1969, sob as luzes do Cine Acre, ele entoou “Você é minha paz” e conquistou os corações do público, vencendo o 1.º Festival de Música Acreana idealizado pelo jornalista Elzo Rodrigues. Sua música, como um rio manso que flui pelo coração da selva, fluía com emoção, trazendo conforto e alegria.
E agora, o amigo partiu, deixando-nos com o eco de suas palavras, versos e melodias. Suas histórias, suas batalhas e suas canções são lembranças que permanecerão vivas nos corações daqueles que tiveram a honra de cruzar seu caminho.
Hoje, um amigo se despede, mas não podemos deixar que sua melodia se dissipe no ar. Ela ecoará nos ventos da Amazônia, nas águas do Acre e nas páginas dos livros de direito. Crescêncio Santana nos deixou uma herança de poesia, justiça e música. E, como todas as melodias eternas, sua influência será sentida para sempre. Adeus, querido amigo. Que suas palavras, sua música e seu legado continuem a nos inspirar, como uma serenata eterna à vida e à arte. Mais um amigo se foi, mas sua memória persiste, imortal.
Pitter Lucena é jornalista e escritor