“Muita ostentação e pouca sabedoria” é o tema da coluna desta quarta-feira, 9, do Valterlucio Campelo

“Se Goebbels estivesse vivo e tivesse acesso ao X, estaríamos condenados(…) Os nazistas teriam dominado o mundo”. Essa estupidez foi pronunciada, infelizmente, pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, em longa entrevista que deu à revista norte americana “The New Yorker”, na qual não se conteve e produziu inúmeras ilegalidades, pois, sem freios fez declarações políticas que lhes são proibidas pela Constituição Federal.

Se queria passar vergonha, conseguiu. Por exemplo, disse, se antecipando a julgamento, que Jair Bolsonaro jamais voltará ao poder e que o TSE não reverterá a inelegibilidade do Bolsonaro. Ou é adivinho, ou militante do PT, ou já sabe como votam os juízes. De todo modo, deveria manter-se calado em relação a julgamentos futuros. Como se não bastasse o rosário de bobagens, desafiou o Trump a botar um transatlântico no lago Paranoá, até que o STF desse alguma bola para os EUA. Era para ser engraçado? Não foi.

Sinceramente, sou dos que reconhecem as carreiras profissionais até de jogador de futebol analfabeto. Se dele não exigem vocabulário, que seja o melhor do mundo mexendo os pés e utilizando seu gênio. Então, espero dos ministros do STF, o ponto mais alto da carreira, um mínimo de cultura, de conhecimento histórico, mesmo de um Alexandre de Moraes que lá chegou por vias rápidas. Não dá pra ministro do STF ser igual ao Lula que dia sim dia sim diz bobagens, mas é o Lula. Não se espera dele nada que tenha algum brilhantismo, seu gênio é o de falar besteiras obvias para plateias idem.

Como então, Goebbels nos dias de hoje, com acesso às plataformas implantaria o nazismo sem adversários?  De onde ele tirou essa bobagem? Que estudos sustentam essa afirmação? Foi de seu próprio gênio deduzir o indedutível?

Somente um beócio, energúmeno, abderólogo, ababelado, calino e boçal, poderia trazer para o debate atual o infame nazista. Se o ministro se referia à máxima da repetição de uma mentira até que ela se torne verdade, errou toscamente. Falas de ministro, ainda mais em entrevistas internacionais precisam a medida da verdade, do rigor. Não há um registro sequer de que Goebbels tenha dito a famosa frase. Ele utilizou a tática assim como invariavelmente todos os ditadores antes de Hitler. Desde tempos imemoriais a repetição de uma dada versão é utilizada para sua consolidação. O que seria de todos os dogmas sem sua repetição ad nauseaum? Até a ideia de que ministros são cultos é repetida.

Cogitando, porém, os termos do ministro, é justamente o contrário. Hoje, não temos ditaduras nos níveis pavorosos do nazismo exatamente por causa da rapidez das comunicações. Hitler hoje seria esmagado em instantes e nem sequer teria havido o boicote de 1º de abril de 1933 aos produtos judeus.

Se os alemães tivessem acesso a redes sociais como hoje, em minutos o céu teria caído sobre Berlim, não é, Hamas? Se Goebbels dispusesse da rede X, não teria tempo nem para disseminar “O meu credo político” sem que as forças democráticas o lessem com lupa nas redes sociais, assim como fazemos todos os dias com as decisões jurídicas que não são carimbadas de sigilosas.

É muito mais razoável pensar, por exemplo, que se hoje não há Hitler’s ou congêneres, embora alguns pretensos movedores da civilização estejam por aí a querer dar as cartas em países da América Latina, é exatamente por causa da redes sociais, do X e tantos outras que nos permitem refutar e denunciar ao mundo, imediatamente, as exorbitâncias constitucionais que alguns andam a praticar.

Não, Excelência, se é com argumentos desse tipo que se prepara para impedir a liberdade de expressão nas redes sociais, sugiro dar uma melhorada. Não creio que o mundo acolha essa asneira como argumento válido para uma decisão com esse peso. Nem o Partido Democrata americano, ao qual fostes pedir abrigo engole essa.

Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no  DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.