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Política & Economia

“Quem tem medo da polarização?”, questiona nosso artículista Valterlucio Bessa Campelo em artigo desta quarta, 7

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Uma das palavras mais pronunciadas nos últimos anos, em todas as análises políticas, é a “polarização”. Infelizmente, por ignorância no mais das vezes, muita gente usa o termo como se fosse um evento, um acontecimento. Não é. A polarização política é um processo social no qual as pessoas crescentemente radicalizam suas posições e preferências, causas, princípios e valores, transformando o debate público e revelando a natureza mais profunda dos atores políticos.

Contra esse processo, que não é uma novidade em nenhum aspecto, se levantam no Brasil aqueles que tem como prática a acomodação de interesses divergentes a partir da concessão de parte a parte. Isso que chamam de negociação, coalizão, de governabilidade, e produziu o país que temos, mas entra em crise quando o que está em causa são princípios e valores éticos e morais.

O Brasil se rendeu durante décadas a esse modelo de não-polarização e o resultado é que fomos paulatinamente nos transformando em uma sociedade dominada pela esquerda, pelo progressismo, pela mídia degenerada, pela leniência com a criminalidade, pela conivência com corruptos e corruptores, pela degradação moral, pelo ativismo judicial garantidor do sistema e assim por diante. Enquanto isso, as nossas raízes historicamente fincadas na moral cristã, na defesa da vida, propriedade privada e família, foram sendo dominadas, embora majoritárias. O conservadorismo adormecia e era corroído perversamente com base no acordo de líderes convergentes para um centro fantasioso.

É preciso avisar para alguns que em leitura rasa arrotam o meio aristotélico como sendo o ponto da virtude, que ele se referia ao indivíduo e não à coletividade ou ao debate público. Os exemplos que ele usa para ilustrar o meio-termo (coragem, generosidade, temperança etc.) são qualidades que se manifestam nas ações e sentimentos de um indivíduo. A busca pela virtude é, para Aristóteles, um projeto pessoal de autodesenvolvimento e de busca pela eudaimonia (florescimento humano ou bem-estar). De vez em quando percebo esse tipo de ignorância com roupa de erudição vicejando por aí, sendo que não tem nada a ver com a posição política do governo.

Além disso, o próprio centro político, que para alguns resulta de uma negociação serena, madura, sóbria etc., etc., depende da “Janela de Overton”. Se ela é movida para a esquerda, como ocorre no Brasil, o “centro” não é o centro, mas uma posição à esquerda enfiada pelos manipuladores na massa ignara. Este, aliás, é um método bastante utilizado pela dominação progressista. Dou exemplo.

Pensemos nos direitos LGBTQIA+. A partir da atuação de ativistas, organizações da sociedade civil e, eventualmente, de alguns políticos, o debate público evoluiu. Leis de descriminalização, uniões civis e, mais recentemente, o casamento entre pessoas do mesmo sexo foram se tornando mais aceitáveis. Políticos que defenderam essas medidas, mesmo enfrentando forte oposição inicial, ajudaram a normalizar essas ideias e a incorporá-las à legislação, movendo a janela para a esquerda em termos de direitos LGBTQIA+. A “Janela de Overton” foi movida para a esquerda e situações que antes eram dadas como radicais são aceitas por todos nós.

Outro exemplo é a questão ambiental. Até meados do século passado, a ordem era explorar os recursos naturais praticamente sem ressalvas. A partir de livros como “A Primavera Silenciosa” de Rachel Carlson e “Os Limites do Crescimento” de Meadows et al, da criação do Clube de Roma e outros fóruns que se seguiram até culminar no Fórum Econômico Mundial, a “Janela de Overton” foi movida e hoje em dia aceitamos sem questionar, restrições ao direito de propriedade que seriam radicalmente enfrentadas há 70 anos.

O processo de polarização política no Brasil é resultado, e não causa, da percepção pela parcela mais conservadora da sociedade, de que é possível conter esses movimentos através de uma força antagônica capaz de provocar uma tensão à direita. É disso que se trata.

Independentemente do ex-Presidente Jair Bolsonaro, que liderou esse processo nos últimos anos, a direita que emergiu se reconhece e se articula com vistas ao futuro sem medo, apesar de toda a perseguição cruel movida pelo establishment. Somente um ignorante poderia achar que a sua prisão ou morte fará desaparecer do cenário milhões de brasileiros cansados de serem manipulados pelo aparelho da esquerda. Do ponto de vista prático, a polarização ajuda a revelar quem tem tutano e quem verga com o vento que sai do submundo de Brasília.

Então, o que é o centro que se articula como superação da polarização? Em tese, o chamado centro político é basicamente aquele que prioriza soluções moderadas, pragmáticas, consensuais, flexíveis e estáveis. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Esta seria a sua definição política, entretanto, no Brasil, o centro é apenas uma massa amorfa, insípida e inodora que se coloca diariamente no balcão criado por ele mesmo. Eles olham para a polarização com uma certa inveja, porque não tem coragem de assumir posições firmes por nenhum lado, eles cuidam apenas de nutrir o próprio bolso, de suas famílias e de seus partidos para se perpetuarem no abuso do patrimonialismo secular do Brasil. Não querem o fim da polarização por causa de algum estímulo ideológico, mas por desejo de serem os protagonistas do espetáculo.

Normalmente, os que entendem a polarização como sendo uma nefasta e perigosa confrontação social, ocupam o muro com as pernas viradas para a esquerda, de onde vem o conforto psicológico decorrente do politicamente correto. É preciso coragem para tomar decisões, mais ainda para defendê-las.

Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no  DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.

 

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