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CULTURA & ENTRETENIMENTO

Valdir Perazzo Leite escreve: “O italiano que casou com a filha do coronel Chico Miguel”

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O ITALIANO QUE CASOU COM A FILHA DO CORONEL CHICO MIGUEL

Em 1992 fiz uma viagem turística à Itália. A bem da verdade não era uma viagem integralmente turística. Havia também um curso de Direito Processual Civil na Pontifícia Universidade Urbaniana em Roma. É uma instituição Católica, especializada na formação do Clero. Tenho o certificado do curso de especialização, ministrado por professores brasileiros e italianos.

Nessa viagem que fiz à Itália me inspirei para buscar minhas origens italianas. Sabia que meu bisavô Antônio Perazzo (avô de minha mãe), era italiano. Mas, não sabia de onde era originário. Acho que deve ter falado quase nada para seus filhos de sua origem. Não deixou nada escrito. O único documento que eu consegui dele era uma velha fotografia que encontrei na casa de uma prima que não sabia de quem se tratava.

Eu sabia que aquela velha fotografia encontrada por acaso era dele, porque na casa de meu avô (Benedito Perazzo de Almeida Pedroza), havia um retrato dele, pintado a partir dessa velha fotografia. Anos depois encontrei velhas escrituras públicas da sua fazenda “Riachão”, adquirida de parentes de sua esposa, documentos que me foram regalados por seu neto Francisco Chaves Perazzo (Seu Perazzo).

Fazendo uma pesquisa nos cartórios da cidade de Afogados da Ingazeira, onde casou-se em 30 de agosto de 1885 (devo dizer que também tenho sua certidão de casamento religioso no Brasil), encontrei os autos do inventário de sua sogra (Leopoldina Lina de Siqueira, filha de Chico Miguel), em que Antônio Perazzo figurava como inventariante (inventário de 1911). Encontrei também seu inventário de 1917, em que figura como inventariante seu filho Caetano Perazzo de Almeida Pedroza.

Pois bem. Quando estive em Roma participando do evento turístico/cultural acima relatado, e que me interessei em saber da origem do meu bisavô, dei-me conta que era um trabalho difícil encontrar seus parentes e o local onde havia nascido. Mas, não desisti; perseverei. De volta ao Brasil fui o local onde havia sido sepultado. Mas não obtive sua certidão de óbito. A oficial do registro civil me forneceu um documento que a substituiu. No Ministério da Justiça em Brasília obtive um documento de que não se naturalizou brasileiro.

Em Afogados da Ingazeira, onde se casou com a neta do Coronel Francisco Miguel de Siqueira em 30 de agosto de 1885 (Amélia Leopoldina de Almeida Pedroza), obtive na Igreja Católica sua certidão de casamento religioso. Porém, na certidão de casamento a secretária grafou errado o local de nascimento de Antônio Perazzo.  Local inexistente.

Pedi informações ao Bispo Egídio Bisol sobre o local de nascimento de meu bisavô. Recebi uma resposta alvissareira. Informou-me o religioso: “Valdir Perazzo, onde a secretária escreveu “Lalum” no Reinado da Itália, eu leio claramente “Salerno no Reinado da Itália”.

Graças a Deus! Estava resolvido o problema. Descobri o local de nascimento de Antônio Perazzo. Havia nascido no Sul da Itália, na Província de Salerno.

Em 1995 eu estava residindo no Distrito Federal. Exercia um cargo no Senado Federal, na 4ª Secretaria, assessorando um Senador do Estado de Rondônia. Enviei uma carta para o arquivo de Estado em Salerno, em que solicitei a certidão de nascimento do meu bisavô Antônio Perazzo. Recebi a resposta do arquivo de Estado. A carta resposta, contendo a certidão de nascimento do meu bisavô foi enviada para o Rio de Janeiro, mas os Correios fizeram chegar ao Senado da República onde eu estava trabalhando. A surpresa. Aí estava a certidão de nascimento que eu procurava.

Antônio Perazzo nasceu em 30 de abril de 1847, na cidade de San Giovanni A Piro, na Província de Salerno, no Reinado da Itália. A Itália não estava ainda unificada quando Antônio nasceu. Trata-se de uma cidade muito antiga, com mais de mil anos, no Sul da Itália, próxima do Golfo de Policastro. Conheci depois.

Com a certidão de nascimento em mãos, comecei a reunir a documentação necessária para obtenção da cidadania italiana. Como dito acima, ele não se naturalizou brasileiro. Esse documento obtive no Ministério da Justiça. Já tinha obtido um documento substitutivo da sua certidão de óbito. A obtenção do documento do meu avô (Benedito Perazzo de Almeida Pedroza) e de minha mãe (Josefa Perazzo Leite) não foram difícieis. Minha mãe ainda vivia.

Residindo em Brasília e de posse dessa documentação, dei entrada na documentação no Consulado da Itália, na Embaixada italiana no Distrito Federal. Uma funcionária do Consulado (lembro bem dela), ainda tentou criar uma dificuldade com um documento erroneamente grafado, mas resisti e se deu início o procedimento com o envio para o local de origem de meu bisavô (San Giovanni A Piro).

Em 21 de dezembro de 1998, recebi um comunicado do Consulado da Embaixada da Itália, pedindo que eu alí comparecesse. Estava reconhecida minha cidadania italiana e de meu filho Filipe Zimmermann Perazzo. Eis o que diz o documento: “Si informa che l´iter per il riconoscimento dela cittadinanza italiana del Signor Perazzo Leite Valdir nato a Tuparetama (PE-Brasile) il 04/08/1955 è considerato concluso, ed il nº d´iscrizione AIRE, agli atti di questa Ambasciata è il seguinte: 1172. Brasília (DF-BRASILE), addi 21/12/98”.  

Parecia inacreditável que eu, bisneto de um italiano pobre e analfabeto (descobri que era analfabeto numa velha escritura pública da Fazenda “Riachão” que adquiriu dos parentes da esposa e que me foi cedida por Seu Perazzo), quase sem informações deixadas por seu ancestral italiano, obteria a cidadania italiana, quando outros descendentes, com muito mais dados, ainda não a obtiveram.

De posse do passaporte italiano, fiz a minha primeira viagem à Itália como cidadão da Comunidade Europeia em 2002. Visitei a cidade de San Giovanni A Piro, onde meu bisavô nasceu. Fui à Igreja de San Gaetano onde foi batizado, bem como, aí se casaram seus pais (Gaetano Pirazzo e Domenica La Guardia), bem como aí foram batizados seus irmãos: Antonia Pirazzo, Biagio Pirazzo, Francesco Pirazzo e Vincenzo Pirrazzo.

Fiz uma visita ao Arquivo de Estado em Nápoles, onde obtive todos os documentos da família do meu bisavô. Como informações para posteridade, transcrevo o nome do casal (pais de Antônio) e os nomes dos filhos/irmãos, com respectivas datas (casamento e nascimento).

Gaetano Pirazzo nasceu em 01.07.1815, e a esposa Domenica La Guardia nasceu em 22.05.1814), casaram em 30.01.1848, na Igreja de San Gaetano em San Giovanni A Piro, Província de Salerno. Filhos do casal: Antonia Pirazzo, a mais velha, nascida em 27.11.1845; Antonio Pirazzo, meu bisavô, nascido em 30.04.1847; Biagio Pirazzo, nascido em 28.10.1849 (tem descendentes no Rio de Janeiro e aí está sepultado); Francesco Pirazzo, nascido em 12.09.1852 (pelas informações que tenho morreu jovem) e Vincenzo Pirazzo, nascido em 04.09.1856 (tem muitos descendentes na Itália).

Para eternizar a imagem de Antonio Perazzo, contratei o pintor peruano e há muito tempo radicado em Rio Branco, no Acre (há pouco tempo falecido) Rivasplata para, a partir daquela velha fotografia que encontrei do meu bisavô, retratá-lo. Fiz uma doação desse retrato ao Consulado italiano de Recife e é essa imagem dele que circula pela rede mundial de computadores. Se isto não tivesse feito, sua imagem estaria sepultada na noite da História. A importante História da presença italiana no Nordeste do Brasil.

Nos documentos que obtive de Antonio Perazzo (meu bisavô) e dos seus pais e irmãos na Itália, uma coisa constatei. Eram muito pobres! Analfabetos e braçais (bracciale, como está escrito em seus documentos), o que me leva a uma conclusão de orgulho e esperança do meu país. O Brasil era um país de oportunidades para os estrangeiros que para aqui imigravam.

Antonio Perazzo casou-se com a neta do meu tetraavô Francisco Miguel de Siqueira, descendente do Mestre de Campo Pantaleão Siqueira Barbosa. Mestre de Campo seria o título corresponde ao de Coronel. Um título muito importante no velho regime.

O nome de meu tetravô está indelevelmente ligado à formação histórica do Vale do Pajéu, no Sertão de Pernambuco, especificamente à atual cidade de Ingazeira. Aí Francisco Miguel de Siqueira exerceu uma intensa atividade pública e privada.

Eis o seu perfil biográfico. Francisco Miguel de Siqueira era Tenente-Coronel da Guarda Nacional, que se constituía numa elite análoga à Nobreza, como disse Plínio Correia de Oliveira (livro Elites Tradicionais Análogas à Nobreza).  Foi Comande da Guarda Nacional na cidade de Flores do Pajeú, e enquanto exercendo tal função, lutou na Revolução Praeira e na Revolta de Quebra Quilos, sempre na defesa da ordem e da Constituição do Império. Líder do Partido Conservador, liderado que era pelo seu parente e deputado do Império, Monselhor Joaquim Pinto Campos.

Francisco Miguel de Siqueira foi Juiz Municipal, Delegado de Polícia, Conselheiro Municipal (o cargo corresponde ao de vereador), Procurador da Paróquia e do Padroeiro da Vila de Ingazeira (São José) e grande proprietário rural (Fazenda Buenos Aires).

Conclusão. Antonio Perazzo, um imigrante pobre e analfabeto logrou casar-se com uma moça do patriciado rural pernambucano e projetar-se socialmente, deixando um grande número de descendentes no Sertão de Pernambuco. Talvez por questão estética, seus inúmeros descendentes fizeram opção pelo seu sobrenome (Perazzo), abandonando os nomes ilustres das  famílias Siqueira e Brito (os Perazzo descendem do casal Miguel Ferreira de Brito e Antônia Cunha de Siqueira)  que já estavam no Sertão de Pernambuco há séculos. Antônio Perazzo, considerando os parentes de sua esposa, era o adventício.

Jamais Antonio Perazzo em sua terra natal teria essa projeção social! Podemos constatar isso conhecendo os descendentes de seus irmãos na Itália. Enfim, o Brasil ainda continua sendo um país de oportunidades para os que aqui chegam como imigrantes!

Valdir Perazzo

 

 

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