Política & Economia
Valterlucio Campelo sobre guinada do MDB rumo ao Governo: “Antes, afaste-se e observe o campo de batalha”

Parece que está em discussão, para alguns causando ebulição mesmo, a possibilidade de o MDB no Acre dar uma guinada em direção ao Governo e emplacar (quem diria?), seu representante mais vermelhinho na chapa liderada pelo partido azulzinho. Tal movimento seria um cavalo de pau ideológico de fazer corar qualquer cidadão esclarecido nas coisas da política, mas não o cidadão esclarecido nas coisas da politicagem. Somando ao fato os resultados das pesquisas recentes, há margem para algumas elucubrações, embora tudo isso possa mudar a depender de decisões ministeriais superiores.
Considere-se como pano de fundo a pesquisa divulgada ontem (VER AQUI), segundo a qual Jair Bolsonaro, (não testaram seus filhos) ou Michele Bolsonaro ganhariam de lavada do presidente Lula. Além disso, fica evidente que outros possíveis candidatos conservadores (Tarcísio, por exemplo) também levam vantagem perante o mais viável candidato da esquerda. Faltando um ano para o início mesmo do processo eleitoral, o cenário é de decepção com o governo imposto pelo consórcio Luloalexandrino, o que, aliás, explica a fúria suprema contra os Bolsonaros.
Voltemos ao Acre. Nesta quinta-feira, vem a pesquisa encomendada por agentes do MDB (ver AQUI), na qual aparecem em números bastante coerentes, Alan Rick, Marcus Alexandre e Maiza Assis com 34%, 26% e 13% respectivamente. Coerentes porque a pipa do Alan já voou desde o ano passado e vem se mantendo no alto apesar dos “cortes” que andou levando. Marcus Alexandre carrega os votos da esquerda que nunca se deslocam para outro candidato, mas existem, tanto que Lula e Jorge Viana mantém aqueles 30% de sempre – é seu teto. Mailza, porque está em evidente ascensão, considerando que saiu de patamares muito baixos.
É neste ambiente estatístico que vem, assim, de repente, logo após a morte do seu líder histórico – Flaviano Melo, os herdeiros do MDB oferecendo o espólio ao projeto do adversário nas últimas eleições. Melhor dizendo, parte dos herdeiros, porque os filhos mais velhos, os grisalhos, não apareceram para endossar o negócio. Sendo Wagner Sales o inventariante, a sua ausência na negociação permite prever que a partilha talvez não dê aos novatos adesistas a maioria das ações emedebistas. Então, como briga de herdeiros, a coisa pode render.
A ideia dos neogovernistas é ocupar o espaço deixado por Alan Rick que, pelo andar da carruagem, terá que se mudar do União Brasil, se quiser disputar o governo, pois não lhe cabe na eventual federação PP-UB. Com isso, Allan Rick tomaria o caminho, talvez, do PR. Algumas perguntas são automáticas: Esse MDB governista, com Marcus Alexandre, se aliaria ao bolsonarismo de Marcio Bittar, do Bocalom e da própria Mailza que já estão lá assentados? O vale do Juruá ficaria sem representação na chapa? Marcus Alexandre faria campanha para a dupla Gladson-Marcio contra seu padrinho Jorge Viana? Seus eleitores, majoritariamente de esquerda, seguiriam seu comando à direita? Pelo que se sabe, sozinho ou em federação com o União Brasil, e em aliança com o PL, o PP estará no palanque nacional da direita, seja ele bolsonarista ou tarcisista, o que dá no mesmo.
Tudo isso nos manda honestamente para o campo ideológico da disputa. Na canoa governista não cabe um MDB avermelhado. Se couber a sigla, ela teria que vir azulada com uma Jéssica Sales, o que parece improvável dada a crueza da disputa recente em Cruzeiro do Sul, quando a boa moça foi tratorada de modo drástico, para dizer o mínimo. A não ser que apareça outro nome emedebista com densidade eleitoral. Quem? Limpei as lentes dos meus óculos e não vi.
Sobra ao MDB três possibilidades. Uma, a possibilidade preferida de Jorge Viana, esta sim, factível, apesar do beicinho de alguns e da aparente falta de dinheiro para a campanha, que seria de lançar o Marcus Alexandre ao governo, em aliança com o PT. Isso repetiria a aliança nacional, daria um palanque para o Jorge e para o Lula e, de bônus, a possibilidade de eleger um federal. Obviamente, não ganharia o governo, mas, quem se importa? A ordem de cima, inclusive do STF, é fazer SENADORES para evitar que a oposição se fortaleza e faça uma assepsia no STF.
A outra possibilidade do MDB é atrair Alan Rick e lançá-lo ao governo em chapa pura, com a Jéssica de Vice. Mas, isso interessa ao Alan Rick? Não creio. Uma chapa emedebista pura desanimaria o PR, inclusive o bolsonarismo, afinal, lá em Brasília, o MDB estará com Lula e o PR com Bolsonaro. Se há, conforme demonstram os dados das últimas eleições e as pesquisas, algo que dá voto, ainda mais no Acre, é o bolsonarismo, né, Bocalom? Ou alguém vai cair de novo naquela besteira de que “a eleição é do buraco”?
A terceira hipótese seria, considerando que o Alan Rick não pode se afastar desse vento se quiser voar mais alto, aliar-se com ele no PR, onde o atual senador pode manter-se em plena e completa liberdade para ser bolsonarista como sempre foi. Os votos da esquerda do MDB iriam com a Jéssica de vice.
Sim, é cedo, aliás, muito cedo para definição de qualquer chapa, mas, como se vê, as peças nunca param de se mexer. Sábias mesmo são as águias que observam o lago por horas antes de darem seu mergulho fatal.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.