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Mora na Filosofia

Professor Aldo Tavares atualiza sua coluna no Acrenews: “Quando os comunistas foram ‘cachorros'”

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A editora Alameda lançou em agosto Cachorros: a história do maior espião dos serviços secretos militares e a repressão aos comunistas até a Nova República, um agenciamento-livro com 550 páginas escritas por Marcelo Godoy. A pesquisa levou dez anos e mostra-nos uma forma de poder de que um segmento das forças armadas se serviu a partir de 31 de março de 1964 para combater o comunismo e os grupos armados no Brasil, o que conseguiu êxito, pois a ditadura militar realizou a mais inteligente guerra, qual seja, a guerra sem guerra.
O maior representante dessa guerra sem armas é o cabo Anselmo, documentado pelo diretor Carlos Alberto Jr. na série Em busca de Anselmo. No entanto, para o autor de Cachorros, Severino Theodoro de Mello, o Vínícius ou o Pacato, da cúpula do Partido Comunista Brasileiro, causou mais estragos do que o cabo Anselmo, sendo “o maior traidor da história do movimento comunista no país”, escreve Godoy. Para os militares, o infiltrado era chamado de “cachorro”, e Mello era o cachorro de Carlos I. S. Azambuja, o capitão Antônio Pinto, o doutor Pirilo ou Azambuja.
O capitão, no auge dos estudos militares dos movimentos de libertação de inspiração marxista-leninista, formou-se em 1964 e seu anticomunismo pesou ainda mais no Forte Gullick, Panamá, em 1967, onde fica a Escola das Américas, tendo sido o segundo colocado da turma. Por causa de sua formação intelectual, um prisioneiro disse certa vez que Pirilo era um tipo de analista e muito gentil, que ficava batendo papo com o prisioneiro. Com artigos e livros escritos, afirmava que suas mãos nunca torturaram um prisioneiro. “Não lhe agradavam os métodos violentos porque acreditava serem ineficazes”, observa Marcelo Godoy.
  Em virtude disso, a inteligência militar do doutor Pirilo representa a forma mais bem elaborada de um poder cirúrgico a serviço de patentes que apoiaram a ruptura Constitucional de 1964. Visto que seu poder opera nos detalhes do cotidiano, justifica-se o ato cirúrgico por se tratar de uma intervenção que permitiu, segundo Godoy, algumas das mais importantes infiltrações em partidos e em organizações. O PCB, por exemplo, esteve sob sua vigilância e controle até os anos 1990, mas sem causar desconfiança: em 1992, o capitão Antônio Pinto participou e votou em um congresso do partidão.
Se desconhecemos tamanho poder encarnado nesse capitão, “é impossível ter a dimensão correta da ação militar no país”, ressalva Godoy, adicionando ainda estes nomes: Del Nero, Romeu e Mário Sérgio. Pirilo representa a forma mais bem-acabada de domínio de que a ditadura militar se serviu, no sentido de que o militar se identifica com o guerrilheiro e o guerrilheiro, com o militar, não havendo, portanto, oposição entre os desiguais. Quando Lamarca e Iara viajaram para o interior da Bahia, quem dirigia a Kombi era o capitão Antônio Pinto, porque quem estava ao volante era o seu cachorro do PCB, Waldir Fiock da Silva, um infiltrado.
Severino Theodoro de Mello
  Segundo as pesquisas de Marcelo Godoy, o responsável pela queda do PCB foi Vinícius, o infiltrado por meio do qual “os agentes da ditadura mapearam o trabalho de fronteira, a confecção de documentos e as relações entre os integrantes do Comitê Central”, escreve o autor. O cachorro principal do doutor Pirilo era Severino Theodoro de Mello, comunista infiltrado no núcleo do PCB desde 1974, quando, a caminho da casa da namorada, na Vila Formosa, zona leste de São Paulo, foi  abordado por dois homens e conduzido a uma casa em Itapevi, a Boate, frequentado por militares do Exército, onde sairia cachorro ou morto. Saiu como um infiltrado do Destacamento de Operações de Informação (DOI), conhecido pela sigla DOI-Codi (Centro de Operações de Defesa Interna).
  O autor de Cachorros, baseado em vasta documentação, detalha o poder da ditadura militar, que, ao negar o confronto direto, identifica-se de tal forma com o inimigo que chega a ser camarada. Sem fazer uso da violência, Mello conduziu vários membros do PCB à morte ou, se fosse útil, à infiltração. Em uma entrevista a Godoy, Mello diz que, se não cedesse, mulher e filhos seriam liquidados na porrada.
Poder neutro
O senso comum sempre afirma que o “neutro” não tem lado. Engano: ele tem os dois lados ao mesmo tempo. Para compreender melhor o sentido do “infiltrado” ou do “neutro” nas páginas de Cachorros, o filósofo Gilles Deleuze é imprescindível, porque ele pensa o “entre”, que pode ser sinônimo de “neutro”. É a guerra sem guerra.
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