RAIMUNDO FERREIRA
Artigo do professor da Ufac Raimundo Ferreira aborda tema bem pertinente em relação aos dias atuais: “Sobre o consumismo”
SOBRE O CONSUMISMO
Raimundo Ferreira
De forma muito radical e austera, desde o começo da era Cristã os filósofos estoicos, especialmente Sêneca, já se preocupavam com os modos de vida consumistas das pessoas. Segundo suas teorias, o ser humano, pela providência Divina, dispõe de tudo ou quase tudo que necessita na natureza, por custo irrisório ou até mesmo gratuitamente, já que, para matar a fome e saciar a sede, um pedaço de pão e uma pequena porção de água já são suficientes para satisfazer as necessidades mínimas. Quanto aos desejos adicionais, segundo estes pensadores, são necessidades inventadas, ou melhor, são os supérfluos criados pelo homem. E segundo suas visões, estas necessidades são as responsáveis pela ganância e consequentemente, pelos desejos insaciáveis, ou seja, os verdadeiros vícios. Existe inclusive uma premissa interessante sobre esse ponto de vista que afirma: o homem que vive pela sua razão, jamais será pobre e o homem que vive a mercê de seus desejos, jamais será rico. A verdade é que essa ideia ganhou vários seguidores na época, inclusive a adesão de outro filósofo, Diógenes, que por toda sua existência viveu com mínimo necessário, as próprias roupas eram pequenos trapos e usava apenas uma pequena cuia para beber água, mas no dia que viu uma criança tomando água na fonte, com as mãos em forma de concha, jogou a cuia fora. Estas vivências radicais desprovidas de qualquer utilização de coisas desnecessárias e do consumo do supérfluo, certamente não terá como ser praticada nos dias atuais. No entanto, não deixa de ser uma temática para que façamos uma reflexão sobre os gastos desnecessários e o consumo exagerado, especialmente sobre a falsa superioridade de muitas pessoas com maior poder aquisitivo, que acreditam exercer sobre as outras menos favorecidas. Apesar de cada pessoa viver e conviver de acordo com suas possibilidades e tendo a liberdade de satisfazer seus desejos conforme achar mais conveniente, mas ao nosso vê, uma parcela significativa da população, especialmente a juventude, sente-se de certo modo rejeitada e até coagida por não conseguir, por exemplo, utilizar os aparelhos celulares de última geração, não se locomover abordo dos últimos lançamentos automobilísticos, não residir em mansões de 250m², ou apartamentos de cobertura, não está saboreando as melhores iguarias e degustando as bebidas mais caras, e consequentemente não está frequentando os ambientes denominados da alta sociedade. E conforme as teorias estoicas já demonstravam esse tipo de necessidade, de qualquer natureza e que são denominadas de vícios, são insaciáveis e verdadeiramente responsáveis pela inveja, a ganância, pelas disputas ferreneas por bens matérias, atos de violência e também pela prepotência de algumas pessoas, que se julgam superiores às outras por conta de usufruírem das mais abastadas condições de vida.