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ESPORTE

O Arquivo do Façanha – Maurício Generoso: um campeão dentro e fora dos gramados para a eternidade

Publicado

em

Por Manoel Façanha

O “Arquivo do Façanha” traz, neste domingo, uma homenagem ao querido professor e ex-zagueiro Maurício Generoso, falecido aos 67 anos, em João Pessoa-PB, vítima do novo coronavírus. O leitor poderá conferir dezenas de imagens de sua trajetória como atleta, treinador e dirigente.


Mesmo ainda atônico com a perda do amigo Maurício Generoso, resolvi, primeiramente, realizar um mergulho na sua história de atleta para descobrir que o nosso personagem era considerado um zagueiro viril que, por uma década, vestiu as camisas do Atlético Acreano (Taça Cidade de Rio Branco-1974) e do Juventus. No entanto, foi no rubro-negro acreano (1975-1983) que ele faria história, ao conquistar títulos importantíssimos ao lado de zagueiros clássicos como Mustafa, Neórico, Paulão e Cleiber.

Ao todo, o Capitão, assim como era chamado entre os amigos da bola, conquistaria um tetracampeonato estadual na condição de titular da zaga juventina (1975/76/78 e 1980). O penta só não veio pelo fato do tapetão entrar em ação e tirar não somente o troféu das mãos dos juventinos, como também a faixa de campeão do peito dos seus atletas, após uma irregularidade na inscrição do zagueiro rubro-negro Neórico, isso em 1977.

O Juventus ainda neste período conquistaria outros dois títulos com Maurício Generoso fazendo parte do elenco (1981/1982), mas nesta época, ele perderia a condição de titular para o trio formado por Neórico, Paulão e César. Outra grande proeza na carreira do professor Maurício Generoso diz respeito a fazer parte do elenco que conquistou o título do Copão da Amazônia de 1981.

A Educação Física e o Handebol
Com a carreira futebolística deixada pra trás, Maurício Generoso resolveu buscar formação na área de Educação Física, na Universidade de Batatais, interior de São Paulo.

Qualificado, Maurício trabalhou décadas na rede de ensino municipal e estadual e ganhou notoriedade como treinador de Handebol, inclusive, apontado como um dos melhores do Estado.

Generoso, por diversas vezes, esteve entre os premiados do “Prêmio Destaque Esportivo Campos Pereira”, evento esse que era organizado pela Associação dos Cronistas Esportivos do Acre (Acea). Entre as dezenas de títulos conquistados na função de treinador de Handebol, principalmente no desporto educacional, onde foi o maior vencedor durante as edições dos Jogos Escolares, o mais expressivo, sem dúvida, viria, justamente, no local da sua última morada, a cidade de João Pessoa (“onde o sol nasce primeiro no continente americano”). Foi lá que ele conduziu a equipe de Handebol masculino do Acre ao vice-campeonato nas Olimpíadas Colegiais-2008, faixa etária de 15 a 17 anos.

Maurício Generoso no Maracutaia
Retomando um pouco lá atrás dessa história, quando Maurício Generoso estava no seu último ano como atleta de clube da elite do futebol acreano, ele resolveu disputar o tradicional Peladão da Funbesa. O clube escolhido foi o Volta Redonda, do então representante comercial Ivan Palheta, meu vizinho no bairro da Estação Experimental.

Mariceudo, Antônio da Loteca, Curió, Neco, Carioca, Carlinhos Pirarara, Nino, Zito, Zé Gordinho e tantos outros bons jogadores faziam parte do “Esquadrão Amarelo”, isso em 1983. Um verdadeiro Timaço! Nesta época, eu também vestia a camisa do Voltaço, mas do infantil, como contei na coluna passada. Então foi aí que conheci o professor Maurício Generoso. Lembro-me que a cada vitória do “Esquadrão Amarelo”, que era comandado pelo técnico Mustafa Anute, o churrasco, regado a cerveja e refrigerante, estava garantido, além do som ao vivo ocorrido na área da casa do Palheta, esse ex-atleta do Comercial de Sena Madureira, primo do Mariceudo e pai da professora Carla Aguiar (Escola ABC).

Depois disso, Generoso apareceu como preparador físico do Juventus na temporada de 1984. Na grande decisão, diante do Independência, então comandado pelo professor José Aparecido Pereira dos Santos, o Nino, o Juventus venceu por 1 a 0, gol do saudoso atacante Antônio Júlio, num domingo chuvoso e com arbitragem do carioca José Roberto Wright, no lendário e lotado Stadium José de Melo, onde entre os presentes estava esse escriba, com apenas 14 anos de idade e acompanhado da esposa do professor Nino, Dona Marilza.

O pé quente de Maurício também prosseguiu e durante a carreira ele trabalhou como preparador físico em diversos clubes locais, entre eles o Rio Branco (foi o preparador físico do clube na Copa Conmebol e também em outras oportunidades) e no vice-campeonato da Adesg na temporada de 1993. Sempre muito ativo, Maurício Generoso também trabalhou algum tempo em algumas equipes de futsal, ora como treinador e ora como preparador físico.

Na Fafs, o churrasco e o fusquinha do Nino
O tempo passou e voltei a encontrar o professor Maurício Generoso em edições de Jogos Escolares, mas primeiramente como participante e, logo depois, como jornalista esportivo e também tesoureiro da Federação Acreana de Futsal (Fafs) na gestão do saudoso professor José Aparecido Pereira dos Santos (Nino), isso em 1996.

A partir daí nossa amizade se fortaleceu e durante uma década e meia sempre trocávamos figurinhas a respeito da modalidade, isso não somente pelo fato da minha profissão de jornalista esportivo exigir uma proximidade ao cargo que ele exercia de diretor técnico da Fafs, mas também pela admiração mútua entre as partes.

Lembro-me que, quando o Nino era presidente da Federação Acreana de Futsal (Fafs), frequentávamos aqui e ali a Churrascaria do Oscar para nossas reuniões e lá trocávamos informações no sentido de buscar o melhor para a modalidade (cursos, patrocínios e competições).

E, muitas vezes, após nossas reuniões (confraternização, pois era sempre prazeroso o bate-papo) o Nino, que era meu vizinho, pegava o volante do seu velho fusquinha da cor cinza, para irmos deixar o professor Maurício Generoso no Universitário, último conjunto residencial da saída de Rio Branco. E o papo durante o percurso até a casa do Generoso voltava a fluir com o surgimento de várias ideias e algumas gozações de situações vivenciadas pela modalidade. Também digno de registro é que, nesta época, o desportista Auzemir Martins foi nomeado pelo Nino como relações públicas da Fafs.

Professor polivalente
Além disso tudo, o Maurício Generoso era do tipo de desportista que ajudava onde era chamado. Cafezar, Fundação Cultural, Fundação Garibaldi Brasil e tantos outros setores que buscavam de uma forma ou de outra a realização de atividades esportivas.

E, nesta pegada, fiz ele se envolver várias vezes na organização da Copa Bancária de Futsal, inclusive, ele coordenou muitas vezes os congressos técnicos, opinando a respeito do regulamento e elaborando as tabelas de jogos, isso sem falar das dezenas de vezes que deixou os afazeres familiares do sábado para marcar presença à beira da quadra.

O jeito sério, mas ao mesmo tempo brincalhão, ganhou à simpatia e o respeito dos atletas-bancários, assim como da diretoria sindical e seus funcionários. Lembro-me que, geralmente, um dia antes dele ir ao sindicato para tratar das competições, me ligava e dizia: “Manoel Façanha, manda a tia preparar aquela garrafa de café e a bandeja de bodó que amanhã estarei aí pra conversarmos”.

No outro dia, no horário combinado, lá estava o Maurício Generoso, alegre e comunicativo com todos que estavam ao seu redor. E se o leitor perguntar pelo café e a bandeja de bodó, eu respondo que eram as primeiras providências que a tia tomava quando chegava à cozinha do sindicato, e isso não era por outra coisa, mas sim, pelo carinho dispensado ao professor Maurício Generoso.


E fora isso tudo, o Maurício Generoso, quando dos tempos áureos de nosso futsal, sempre, quando eu solicitava, ele fazia anotações técnicas pontuais das partidas ocorridas e me entregava in loco ou me ligava no outro dia, como o combinado.

Muitas vezes, eu já com a paixão pela fotografia enraizada pelo corpo, ficava à beira da quadra registrando os lances com o objetivo de usá-los uma ou outra imagem na página de esportes do jornal O Rio Branco.

Fechada aquela pauta, o Maurício me entregava o relatório técnico dos jogos (gols e outras anotações para enriquecimento da matéria). Lembro-me ainda que, muitas vezes, principalmente as noites de sextas-feiras, eu cruzava a cidade para ir deixar o professor Maurício no Conjunto Universitário. Lá não resistia ao seu convite para tomarmos uma gelada e esticarmos a resenha, isso lá pelo início dos anos 2000. Também digno de registro é a contribuição do professor Maurício Generoso para pautas relacionadas aos Jogos Escolares e competições de handebol.

Nossas últimas conversas
Nossas últimas conversas ocorreram no mês de janeiro e março pelo whatsapp. A primeira, ocorrida dia 28 de janeiro, quando das férias do cronista esportivo Raimundo Fernandes, na cidade de João Pessoa-PB. Certo momento da noite, recebi uma mensagem e, posteriormente, uma foto, com o Fernandes, sua esposa Clice Carvalho, e o professor Maurício Generoso, dividindo uma mesa com uma gelada no centro, no Bar Barril 21.

Falei pra ele: “Tá bem acompanhado. Diga para o Fernandes que vou mandar essa imagem para o Paulo Roberto Araújo (cronista esportivo da Rádio Difusora Acreana)”. Logo depois ele respondeu: “Estamos sentindo sua falta meu amigo Manoel Façanha”. Então respondi: “No futuro vou por aí, mestre”. Ele disse: “Já estou no aguardo, você é meu amigo”.


Já nossa última conversa, ocorreu dia 14 de março, quando perguntei a respeito do seu estado de saúde, após contrair o novo coronavírus. Ele visualizou e respondeu: “Boa tarde, meu querido Manoel Façanha. Já estou bem graças a Deus. Obrigado pela sua preocupação!

Quem era Maurício Generoso
Maurício Generoso era natural da cidade de Brasiléia, professor aposentado da área de Educação Física, com histórias construídas nas escolas Diogo Feijó, Lindaura Leitão e Colégio Estadual Barão de Rio Branco (CEBRB). Generoso há quase dois anos residia na cidade de João Pessoa-PB. O último cargo de dirigente esportivo foi de vice-presidente da Federação Acreana de Handebol (Fach) na gestão da presidente Maria Rosaídes, a Bolha (2009-2021). Maurício era casado com Dona Socorro e deixou três filhos: Mauricinho, Maurílio e Messias.

Minhas lágrimas
Eu paro por aqui, as minhas lágrimas não me deixam mais escrever uma vírgula sobre a linda trajetória desse educador e ser humano amável que foi o mestre Maurício Generoso…

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