ACRE
Cartunista famoso faz homenagem à irmão que nasceu no seringal, cria quatro filhos e ainda se formou em Direito
O cartunista Enilson Amorim, historiador e artista plástico dos mais famosos da região Norte, presta homenagem a seu irmão mais velho, Moisés, por meio de artigo. Ela elogia a garra do mano, que mesmo tendo nascido no seringal, não se rendeu ao analfabetismo.
Veja o artigo:
ELE AGORA TEM “DIREITO”
Por Enilson Amorim
Nascido no Seringal São Sebastião na Bolívia, meu irmão Moisés Amorim de Lima foi uma criança sofrida. Na sua infância, seus pais migraram do seringal para ‘A RUA” (termo usado pelos seringueiros quando falavam que vinham para a capital Rio Branco) em busca de uma vida melhor, incluindo a educação de seus filhos. Sendo seu pai carpinteiro e sua mãe lavandeira o jovem Moisés teve que trabalhar duro para ajudar nas despesas de casa considerando a quantidade de irmãos ainda muito pequenos, motivo pelo qual parou seus estudos na quarta série, enfim, sua vida de labuta intensa, acabou lhe negado o DIREITO de ir para escola. Com vinte e dois anos casou-se, e aos 23 com o apoio de sua esposa Ester Bomfim Ramos, resolveu voltar à escola. Conseguiu fazer supletivo do primeiro grau (progressão escolar, semelhante ao atual EJA) e logo depois decidiu fazer o Magistério (Antigo Ensino Médio que preparava o aluno para ser professor de primeira à quarta série) numa tentativa de conseguir um espaço ao sol de maneira honesta e de forma ética.
Mesmo trabalhando como frentista o dia inteiro, concluiu o curso e logo virou professor em áreas rurais de Rio Branco, agora, ele abandonaria o cheiro da gasolina pelo aroma intrigante do Giz e do apagador. Aos 42 anos, graduou-se em matemática pela Universidade Federal do Acre (UFAC) e, ao mesmo tempo em que estudava e ministrava aulas, o agora conhecedor de inúmeros cálculos matemáticos Moisés Amorim ainda tinha que dar afeto e carinho para seus seus cinco filhos e esposa, afinal de contas segundo ele “O homem que não cuida de sua família não poderá cuidar de nada na sua vida”. No entanto, mesmo cansado das lutas da vida, Moisés Amorim resolve nos mostrar o quanto ama o conhecimento e logo decide seguir em frente rumo a mais um desafio, ingressando na Faculdade de Direito aos 50 anos e graduando-se este ano na Uninorte aos 55.
Com este breve relato, agora você e eu sabemos que, mesmo que a sociedade nos negue tudo, principalmente à educação, teremos a informação de que o menino que foi negado o DIREITO ao estudo devido aos labores da vida, neste momento pode dizer que agora ele tem “DIREITO” graças a sua determinação. Portanto, sejamos determinados naquilo que queremos!
Porque mano, eu me orgulho em tê-lo como símbolo de muita garra, porque para mim tu eis um dos maiores exemplos de força e superação. Que outros Moisés nasçam a cada minuto neste país!