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Como um homem de 22 anos, vendedor de quinquilharias, está conseguindo mudar a história de crianças no subúrbio de Rio Branco, onde todo mundo acha que reinam as facções

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Por Evandro Cordeiro

A capital do Acre, Rio Branco, tem 212 bairros, maioria absoluta habitados por famílias de baixa renda. Em alguns deles a pobreza predomina abaixo da linha de miséria. Nos últimos 20, 30 anos os governos não investiram praticamente nada nesse subúrbio imenso, uma boa parte resultado de invasões. Os indicadores sociais são cruéis nessas regiões. Com isso, os filhos desse bolsão, quase indigentes, acabam virando estatísticas. Alguns que não morrem de fome são exterminados pela violência, depois de se alistarem no crime. Ou seja: os números são desalentadores e um desestímulo à vida. Tem gente que nem sonha mais. A sorte é a existência de alguns abnegados, que acendem feixes de luz em lugares tão escuros.

Lucas Bonnatchelly é esse garotão em pé, o primeiro da esquerda para a direita; queríamos mais fotos dele, mas preferiu aparecer junto com todo mundo

O Acrenews achou um desses sujeitos que não param de sonhar, independentemente do tamanho da adversidade: o Lucas Bonnatchelly Pinheiro Almeida, um “senhor” de 22 anos, casado há sete. Isso mesmo. Ele casou aos 15 anos de idade e toma de conta de sua família com a dificuldade peculiar de quem sobrevive como autônomo. O Lucas vende quinquilharias, lucra pouco, mas desse pouco empresta para a vizinhança de sua comunidade, a do bairro Rosalinda, no segundo distrito da capital, mais precisamente às margens da BR-364, sentido Porto Velho, também conhecido pela violência.

Com seus 1,85m de altura e 155kg de muita gentileza, o “Luquinha”, ou “Lucão”, se for considerar o tamanho do homem, e como ele é distinguido carinhosamente naquela região, pode não mudar o mundo, mas pelo menos deixa acesa uma fagulha de esperança. Ao reparar as necessidades dos vizinhos, ele pensou no futuro daquele povo. Criou uma escolinha de futebol, mesmo não tendo sido jogador, nem sendo um craque da bola.

Lucas chegou no Rosalinda em outubro do ano passado em meio a pandemia do coronavírus. Ele e a esposa trocaram o conjunto Universitário, na saída da capital para Cruzeiro do Sul, pela saída da cidade rumo ao Estado de Rondônia. “Onde eu chego a criançada faz logo amizade comigo e aqui não foi diferente. Cheguei, fiz amizade com todos, e com dois adultos, chamados Geovani e Sabá.  Disse a eles que queira ajudar aquele monte de menino que vi soltando profeta pelas ruas do bairro. Saiu a ideia da escolinha. Deu certo, graças a Deus”, conta.

O projeto do Lucas deu certo mesmo, porque no primeiro dia de “aula” se alistaram 27 crianças. Seis meses depois eles somam 41 alunos. Os dias de treino são quinta, sábado e domingo. Antes de entrar em campo, um desses de chão de barro comuns das periferias, a meninada primeiro toma café da manhã. O pão, café, leite e manteiga o Lucas Bonnatchelly consegue no dia anterior. “Quando não tenho dinheiro eu peço”, diz ele, bem objetivo. Alguns comerciantes do bairro fazem questão de ajudar, segundo o “professor” Bonnatchelly. “Dia de sábado tem um comerciante que doa as frutas para o café”, conta.

O trabalho do Lucas e dos parceiros Geovani e Sabá é tão promissor que começa a alcançar até as meninas do bairro. Clientes da esposa do Lucas doaram bolas de vôlei para o projeto delas. A esposa de Lucas, a Isabela Carolina, junto com outro parceiro, Elvandio Venâncio, são responsáveis para buscar patrocínio para os sacolões, outra iniciativa social deles. De vez em quando as famílias em situação mais vulnerável são abençoadas por uma feira.

LUTA PELA SOBREVIVÊNCIA EM CAMPO

A ideia do Lucas reacendeu a esperança de gente sem perspectiva e começa a materializar sonhos. Algumas famílias estão entusiasmadas com a ideia de ver os filhos dentro daquele campo de barro, driblando a fome e o crime. O coordenador do projeto, mesmo com pouca instrução do ponto de vista da educação física, da didática, faz o que pode, utilizando boa vontade. Dividiu a garotada por idade. Tem o time dos meninos de 5 a 12 anos, e dos 12 até os 18. Está dando super certo, segundo o empolgado Lucas.

Na hora certa, diz ele, chega todo mundo. Essa hora é às 7 da manhã. Depois do café, bola e sonho. A vestimenta para os treinos é um surrado material que o Lucas comprou há cinco meses, mas ninguém se incomoda com isso. O sonho fica bem acima de um colete surrado. “A coisa está tão legal que mais pessoas do bairro estão ajudando a gente. Muitos voluntários”, conta o Lucas.

O objetivo do Lucas e seus amigos é ousado. Ele pensa em trocar a fama do bairro, de violento, para um bairro conquistador de medalhas no esporte. Para isso conta com a solidariedade. Disse que não tem vergonha de pedir porque o que está em jogo é, no fundo, a vida de maioria daqueles meninos, que depois da linha divisória do campo só a sorte ou um propósito de Deus pode os salvar. “Peço mesmo. Peco pelas nossas crianças porque evito, assim, que estas entrem nas drogas, principalmente nessa época de pandemia, quando ninguém tem para onde ir, ficando ainda mais vulnerável”, diz.

O KIT DE NECESSIDADE DOS MENINOS DO ROSALINDA

O Lucas fez uma lista dos itens de primeira necessidade para tocar a escolinha do Rosalinda e ajudar Governo e Prefeitura a evitar a entrada de muitos daqueles meninos no crime.

VEJA

Bolas de futebol

Coletes

Bolas de vôlei

Rede de vôlei

Cones para os treinos

Pratos de plástico

Luvas para goleiro

Sacolões

Chuteiras com números entre 35 a 42

COMO AJUDAR O LUCAS

Caso a história do Lucas com a comunidade Rosalinda tenha tocado o coração de alguém, o contato dele é o (68) 98110-5768.

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