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Conheça o ‘Gordinho do Sexo’, ambulante que lucra nas noites da cidade vendendo sexy shop

Aviso de conteúdo sensível. Leitura +18!

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O jovem trabalha no mercado informal há seis anos. Já ouviu de tudo e é testemunha dos pedidos mais insanos (Foto: Wanglézio Braga)

Por Wanglézio Braga

Era noite de quarta-feira num churrasquinho popular do bairro Manoel Julião, em Rio Branco. Um jovem de semblante exaurido, com uma caixa nas mãos, se aproxima e o reconhecem para a “alegria” de alguns: “Lá vem o Gordinho do Sexo!”. Não demorou e o jovem, que tem 24 anos, num tom desavergonhado, porém, sem malícia, oferece: “Vai um lubrificante? Tenho camisinhas de todos os jeitos! Tem gel! Quer estimulante?”.

A cena, considerada incomum, chamou a atenção da nossa reportagem. Ao se aproximar, o rapaz que chamaremos de João topou conversar conosco e relatar, sem gracejo, um pouco da sua história que envolve muito trabalho para sustentar a família, a vontade de empreender e a satisfação de servir como voluntário de um projeto social para crianças carentes da periferia da capital.

Na conversa, João conta ainda da dureza dos tempos de pobreza, explica como deixou a vergonha de lado para focar nas vendas do sexy shop e relata histórias engraçadas de clientes que possuem gostos, fantasias e desejos incomuns.

Leia na íntegra o bate papo:

AcreNews: Você topou conversar conosco mantendo o anonimato. Existe um motivo especial?

Não posso falar meu nome e nem ser fotografado por dois motivos: O primeiro é que trabalho numa loja muito séria, tradicional, daqui de Rio Branco. Durante o dia, presto serviço a eles, tenho carteira assinada e para não me associar, prefiro manter o anonimato.

O segundo motivo é que executo um projeto social com crianças pobres da periferia. Com esse dinheiro dos trabalhos, consigo desenvolver esporte com elas. É dessa renda que compro o material, os lanches e tudo que precisam. E para evitar possíveis falatórios, julgamentos por parte das famílias, desistências ou ainda constrangê-los, prefiro evitar!

AcreNews: Trabalhar durante o dia e ser ambulante de noite em prol de projeto social, vale a pena tamanho esforço?

Vale muito! Eu já fui pobre, sei como é difícil. Chegou um tempo na minha casa que não tinha nada para comer. Trabalho desde os seis anos e ajudo no sustento da minha família. Meu pai era usuário de drogas, minha mãe dona de casa. Nesse tempo, desde os seis anos, faltaram oportunidades para nós. Basta olhar para os jovens de hoje e também para as crianças que são pobres e veem que elas não têm oportunidades. Eu sinto que o meu projeto vai ajudá-los futuramente. São 55 crianças que dependem do meu esforço. São 55 pessoas que vão ter um futuro brilhante, se Deus quiser!

AcreNews: Há quanto tempo como ambulante e por que você escolheu as noites, os locais públicos para vender esses produtos?

Faz seis anos que estou trabalhando assim. Escolhi vender nas ruas, nos bares, nas praças, nos locais públicos pelo movimento e fluxo de pessoas. Eu fiz uma pesquisa e cheguei à conclusão de que ninguém trabalha com sexy shop assim, escancarado. Sempre é numa loja, num ambiente fechado, muito formal, muito careta. E sendo sincero, eu vejo que isso já passou de moda. Muita gente não tem tempo de ir nesses lugares, os meus produtos são de qualidade e baratos, logo, os clientes aproveitam para fazer a ‘feira’.

AcreNews: E o primeiro dia, como foi?

Complicado. Suava bastante. Apesar de que a venda sempre dominou a minha vida. Já vendi de doces até produtos para cabelo, mas sexy shop era a primeira vez. Lembro que no dia, além de suar bastante, o pessoal mangava. Depois comecei a pegar a prática. Foi dando certo e atualmente eles sentem falta quando não passo. Tem uma empresa ali que se deixar de passar na semana, ficam loucos, começam a ligar! Viraram fregueses.

A gente vai ganhando experiência, né? Até para quem é acanhado como eu, bastante envergonhado, trabalhar com essas coisas assim, num lugar público, é muito complexo. Só que isso vai passando, principalmente quando tu pensa que tem boletos, contas para pagar. Rapidinho tudo muda de figura.

AcreNews: E os produtos, onde são comprados? O que você traz na caixa?

Os meus produtos são todos de fora. Eu peço numa empresa e chega pelos Correios. Em casa, tenho muito em estoque, só que nos lugares por onde ofereço levo cerca de 40 variedades como anestésico anal, dilatadores, retardante sexual, capas penianas, vibradores, gel e essências para massagem. Os valores variam de R$ 10 reais até R$ 80. Caso a pessoa não encontre conosco, como roupas e outros, faço o pedido em São Paulo e em alguns dias chega aqui no Acre. 

AcreNews: O lucro é bom? A aceitação é boa, tem saída?

O lucro é bom. Tem retorno. Tem saída! Às vezes consigo lucrar, por dia, cerca de R$ 500 reais. Tem dias que o valor é pouco, mas vai chegando o pagamento, por exemplo, entre o dia 1° até o dia 10 as vendas aumentam, chegando a um total de até um mil reais. Facilitamos o pagamento por usar o PIX, transferência bancária e cartão de crédito e débito.     

Sobre a aceitação, considero que seja boa. Tudo ficou mais aberto nos últimos anos. As pessoas mudaram um pouco de mentalidade. O que falta é dinheiro para muitos. Tem dias que o pessoal não tem grana, mais fica com o nosso contato para Delivery. Daí, entra em ação a minha esposa, a patroa. Ela fica responsável durante o dia de fazer essas entregas, os contatos.

AcreNews: As vendas acontecem somente na capital?

Eu percebo que essa mudança de comportamento acontece não somente na capital. O interior do Acre também gosta de produtos eróticos. Certa vez, em Brasileia, vendi todo o meu estoque em apenas alguns minutos, quase R$ 2 mil reais. Lá tem muita festa, muitas casas animadas, o pessoal gosta de novidades. Cheguei com uma caixa cheia de produtos, vendi na cidade e também para os bolivianos. O bom que lá, na Bolívia, não tem esse tipo de produto. Passei a vender foi no atacado!

AcreNews: Desses anos de vendas, algum relato interessante?

Uma história legal foi com um casal evangélico que atendi na pracinha. O primeiro contato foi com a mulher. Ela ficou interessada em um vibrador e o esposo não concordou. Ela comprou escondido dele. Ela ficou com o nosso número de contato. Ele descobriu e ligou reclamando, estava irado, que a esposa estava com aquele negócio em sua casa! Alguns dias depois, esse senhor me ligou perguntando dos novos produtos, das novidades. Todas as vezes que chega um vibrador diferente, ele compra. Já separo para eles. Virou cliente! Ou seja, acredito que mudou a relação do casal. Esquentou o íntimo deles. Né?

Também tem alguns clientes que têm obsessão por chicotes e adereços mais selvagens, ousados. Uma mulher, por exemplo, virou nossa cliente porque o marido gostava de apanhar na hora do sexo. Ela encomendou um chicotinho, simples. Algum tempo depois pediu outro, sendo mais resistente. Tivemos que mandar fazer um de couro de boi. Eles amaram! Acredite, surrava com um chicote feito de couro de boi, meu amigo!

AcreNews: Haja 50 tons de cinza! E você lembra de outras situações inusitadas?

Outra vez, uma mulher estava bebendo em um bar e viu os meus produtos. Eu tinha levado um vibrador caro, moderno e pensando que não iria vender. Essa mulher disse que se gostasse do produto, iria ficar. Ali mesmo, no bar, ela resolveu testar. Ela foi ao banheiro, demorou alguns minutos, ao retornar ficou com o vibrador. Era o mais caro do meu sexy shop, custava R$ 290 reais. Esse tinha 6 velocidades, dois plugs a mais, luzes coloridas e era recarregável na tomada.  

Certo dia a gente tinha vendido uma algema para um casal. Horas depois, toca o telefone. Não atendemos, mas ficaram ligando, insistindo. Ao atender, nós ouvimos o grito da mulher agoniada e o marido pedindo pelo amor de Deus que pudesse levar até o motel uma chave [reserva ou igual] para abri-las. Eles ligaram, meu amigo, às 3 horas da madrugada! Não conseguiram encontrá-las por lá. O resultado é que tivemos que ir socorrê-los. Foi inusitado e constrangedor ao mesmo tempo.

AcreNews: Com esses relatos, com a sua experiência no ramo, que mensagem você deixa para os nossos leitores?

A mensagem é que o trabalho dignifica o homem! Eu não estou fazendo nada de errado, assim como a minha esposa. Somos ambulantes, não vendemos produtos ilegais, temos orgulho da nossa profissão. Nosso único objetivo é sustentar a nossa família, viver bem. E para quem é acomodado ou tem vergonha de trabalhar nesse ramo ou qualquer outra coisa, que busque tomar a iniciativa. Que deixe de lado os preconceitos. Que deixe de lado tudo que possa afetar o seu trabalho, o seu sucesso e o provento da sua casa. O mundo tá diferente, as pessoas são diferentes. Hoje é cada um por si e Deus por todos. Se você não agir, vai ficar pra trás!

Aproveito para deixar o nosso telefone de contato quem sabe ganharemos novos clientes. Anote: (68) 98110-5768. Obrigado!

NOTA DO REPÓRTER

Segundo o IBGE, em agosto de 2020, das 255 mil pessoas ocupadas no Acre, 110 estavam no setor informal da economia, ou seja, eram trabalhadores sem carteira assinada, sem CNPJ. A autarquia ainda não deu estimativa local sobre esse cenário na pandemia do novo coronavírus. De forma global e nacional, a taxa de informalidade no mercado de trabalho do país subiu para 40% da população no primeiro trimestre deste ano. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad).

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