GOSPEL
Dupla de sertanejo gospel tem Chitãozinho e Xororó entre referências: ‘Não ferem princípios’
André e Felipe são abertos a influências da música secular: ‘Tem que saber dividir o bom e o ruim’. Série do g1 mostra como gospel vai além do louvor de adoração; veja VÍDEO.
Os irmãos André e Felipe cresceram no Paraná ouvindo música sertaneja na companhia do avô, Antônio.
“Ele era um compositor e cantava com esses cantores da época, sertanejos seculares. Então a gente cresceu ouvindo ele cantar músicas que falam do campo, da natureza, do fogão a lenha”, recorda Felipe, de 33 anos, em entrevista ao g1.
Em casa, também tiveram a influência musical da mãe, que, antes de se converter à igreja evangélica, cantava na banda country Brasil 2000. Soma-se a isso o incentivo do pai, que era pastor e presenteava os filhos com CDs de duplas sertanejas gospel.
Nesta semana, o g1 apresenta artistas de vários estilos da música gospel, mostrando que o gênero vai além do louvor de adoração e se mistura com todos os ritmos e batidas.
Natural de Maringá, no Paraná, a dupla cresceu em Americana, no interior de São Paulo. Foi lá que eles começaram a cantar, há mais de duas décadas. No início dos anos 2000, investiram no sertanejo mais tradicional. “É como se fosse uma linha tipo a de Chitãozinho e Xororó, só que com letra cristã, com letra bíblica”, explica André, de 35 anos.
Anos depois, embarcaram na tendência da época e investiram no sertanejo universitário. “Foi nessa pegada, como se fosse um Jorge e Mateus, um Gusttavo Lima, mas a a gente fazia dentro do gospel.”
“A gente foi mudando a sonoridade, deixando mais pop, trazendo elementos de dentro do sertanejo e de uma música mais eletrônica”, afirma Felipe.
Quando surgiu no final da década de 2000, o sertanejo universitário secular — como é chamado tudo aquilo que não é relacionado ao gospel — sofreu rejeição da crítica e de parte do público. No gospel, não foi diferente com a dupla, que também encarou o preconceito ao investir na novidade.
“Para muitos, foi algo muito chocante na época. Teve muita crítica”, afirma André, citando que “música mais animada não era comum no meio gospel”.
“Foi mais por parte dos conservadores, aquelas pessoas que nasceram e cresceram com uma cabeça um pouco mais fechada com relação a estilos musicais, ouvindo só músicas mais sacras, mais tradicionais dentro do gospel, e aí gente que veio com essa inovação. Foi algo como: ‘Poxa, estão querendo trazer o mundo para dentro da igreja'”, afirma Felipe.
Para André, o preconceito faz parte do segmento musical, sem se limitar à religião. “Não se trata só de igreja ou de evangélicos, mas em todos os segmentos. Quando a gente tenta inovar, vem com uma visão nova, com algo inovador, a gente encontra dificuldade, barreira.”
Sem barreiras
André e Felipe — Foto: Reprodução/Instagram
Apesar de serem artistas da música gospel, André e Felipe não deixam de ouvir músicas seculares. A dupla Chitãozinho e Xororó está na lista de referências dos artistas, assim como “músicas que falam do campo, do tempo de infância, aquele cheirinho do pão que a mãe fazia”.
“A gente ouve aquilo que é positivo, que não fere os nossos princípios, a família, aquilo que a gente acredita”, afirma André, que é pai de Sofia, de 7 anos, e Valentina, de 3.
“A gente costuma ouvir música de qualidade, música boa. O que é ruim a gente descarta. Letras positivas, que enriquecem essa questão da família, do casamento, o amor entre duas pessoas: isso a gente ouve”, completa Felipe, pai de Enrico, de 3 anos, e Filippa, de 1 ano e 7 meses.
Os artistas também apontam que, pelo fato de serem compositores, procuram manter a cabeça aberta para todo o mercado. Assim, podem se atualizar com facilidade.
“E a gente batalha e luta para que não exista essa barreira na música: quem é católico, quem não é católico, quem não é cristão e quem é cristão. Eu acho que tem que ter esse conceito de saber dividir o que é bom e o que é ruim.”
“Até no gospel tem coisa ruim, que não é legal ou que não é positiva”, cita André.
Gospel no mundo
André e Felipe — Foto: Reprodução/Instagram
Os dois citam o projeto paralelo de Luciano Camargo (irmão de Zezé Di Camargo) e os momentos em que Gusttavo Lima colocou músicas cristãs em seu repertório, como nas famosas lives durante a pandemia de coronavírus.
“Eu acho importante porque a palavra de Deus tem que entrar em todos os lugares. E não sou eu que vou conseguir levar a palavra a todos os lugares, que seja pregada ou cantada.”
“Então é muito importante que tenha peças fundamentais, como o Luciano, o próprio Gusttavo Lima, que às vezes canta uma música gospel no show dele. E ali tem muitas pessoas que precisam ouvir a palavra de Deus”, afirma André.
“Quem sou eu para dizer que isso não é necessário, que isso não é importante? Deus tem os seus meios de trabalhar, que não vão depender só de mim. Às vezes Ele vai usar outras pessoas.”
Dupla André e Felipe durante apresentação no Festival Promessas, em Goiânia (GO), em 2014 — Foto: Reprodução/TV Anhanguera