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Gaúcho de 70 anos encara 4 mil km de estrada para pagar uma promessa no Acre

João Nazário pretende passar um mês no estado para vivenciar o Daime e mergulhar na cultura indígena

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Por Wanglézio Braga / Foto: Wanglézio Braga

Foi num posto de gasolina em Rio Branco, base para caminhoneiros e andarilhos, que conhecemos o aposentado João Nazário e sua rica história que mistura fé, devoção e perseverança. No auge dos seus 70 anos, o gaúcho de Porto Alegre cumpriu mais uma de suas promessas: viajar até o Acre para agradecer. Mas, para chegar até aqui, ele encarou 4 mil quilômetros, cerca de 1 mil km por dia, sozinho, fez mudanças na vida e aproveitou para pregar às pessoas que a Ayahuasca é muito mais que um simples chá, tem poderes de cura, de libertação.

Antes de pegar a estrada, Nazário passou anos executando a concepção de sua nova casa, um motorhome. Alguns meses designando pessoas para zelar por sua unidade religiosa instalada numa chácara na capital gaúcha. E mais alguns dias elaborando um roteiro de viagem que teve início no Rio Grande do Sul com destino ao Acre. Como símbolo de tudo isso, João prometeu fazer a barba somente quando botasse os pés em Rio Branco. Deu certo! O momento em que ele retirou o ‘adorno’ do rosto foi acompanhado por nossa reportagem o que nos rendeu um bate-papo interessante que você lerá agora.

AcreNews – O que provocou no senhor, tamanha emoção em poder fazer a barba?

João Nazário – A fé e a possibilidade de cumprir mais uma promessa na vida! Isso me deixa emocionado. Foram meses planejando vir ao Acre. Hoje estou aqui e muito feliz! Confesso que não foi fácil a caminhada, ainda mais para um senhor de 70 anos, aposentado, sozinho, solitário! E simples ato de fazer a barba é a prova, é um símbolo, de que eu consegui. 

AcreNews – Por que o Acre?

João Nazário – Não é a primeira vez que venho ao Acre. Eu conheci esse estado maravilhoso através de uma amiga que abriu um ponto de Daime em Porto Alegre, isso há 28 anos. Desde então, visitei este lugar para poder vivenciar verdadeiramente a religião do Daime, conhecer a cultura do uso do chá pelos indígenas e por nossos irmãos. Foi mágica essa busca, pois no primeiro contato pude ver a figura de Jesus. Eu tô falando de Jesus! E ele disse pra mim que este contato seria a realização de um pedido feito na década de 90 e num momento difícil da minha vida.

AcreNews – Que pedido foi esse e como mudou a sua vida? 

João Nazário – Eu fui empresário bem-sucedido sócio em uma empresa, vendi minhas ações e abri um bar noturno, talvez o mais bem frequentado de Porto Alegre. Nele eu lucrava cerca de 10 mil dólares por mês. Perdi tudo, larguei tudo de uma hora para outra! Nesse processo, a religião católica sempre esteve presente na minha vida, passei a frequentar a missa diariamente para não cair em depressão. Eu ia à missa, não ficava satisfeito nela, mesmo rodeado por mil pessoas que também buscavam ficar perto de Deus. Daí, redigi uma carta com sete pedidos e coloquei num altar. Passou três anos para a realização de um dos pedidos. Meu objetivo era ficar bem, estar alegre na religião, queria algo que pudesse cantar, sorrir e acalmar o meu coração. Veio então o primeiro contato com o Santo Daime, foi amor à primeira vista. Eu tirei um peso das minhas costas, pude ver a minha vida mudar significativamente, foi impactante. Mas, eu precisava fazer mais. No meu coração eu tinha que largar tudo que conquistei e seguir a religião. Foi um chamado!

AcreNews – E a promessa da barba?

João Nazário – Se eu recebesse uma cura, se eu pudesse chegar até aqui, eu tiraria a barba e voltaria ao Acre. As curas chegaram! Saiu todas as dores do meu corpo. Eu tô falando de dores físicas, dores no corpo. Eu prometi que voltaria só para agradecer. Aqui estou depois de anos, de ter encarado quatro mil quilômetros de estrada, sendo 1 mil por dia, dormindo dentro do meu motorhome construído por mim, idealizado por mim, feito exclusivamente para isso, para a viagem. 

AcreNews – Para ter esse benefício da cura, das graças alcançadas, o senhor teve que mudar de vida! Isto incluiu o quê?

João Nazário – Sim, com certeza! Eu tive que perdoar aqueles que me deviam, ainda do tempo do bar noturno. Fui de um por um e zerei as dívidas deles. Eu virei camelô em seguida. Eu passei a vender redes de dormir e mantas nas ruas, de casa em casa. Com o dinheiro arrecadado, investi nas ações religiosas do Daime. Isso só aconteceu porque tinha que aprender a começar do zero, conforme testemunhei em uma das visões que obtive. Foram 12 anos vivendo assim. Alcancei a dependência financeira, comprei uma propriedade em Porto Alegre, uma chácara a 15 km do centro da cidade, que foi transformada em um centro espiritual. Para fazê-lo, gastei sete anos. Foram anos de preparação. Eu pensei em tudo! Desde um local que pudesse passar ônibus que o pobre pudesse frequentar até como seria a permanência das pessoas neste ambiente.

AcreNews – E a preparação do espaço, como aconteceu?

João Nazário – Foi tudo trabalho das minhas mãos, meu suor! Eu limpei o terreno, construí a sede com cinco dormitórios para as visitas, com banheiros, cozinha, com altar, construí também um galpão para fabricar gesso e outras coisas que dão suporte ao centro. Depois de construído, iniciei as reuniões. Quem frequenta o Centro de Educação Cristã Sagrado Coração de Jesus não paga nada! Tudo é gratuito!

AcreNews – Acredito que o seu esforço foi recompensado! O pagante de juramento ainda tem promessas a cumprir?

João Nazário – Tem sim! Na realidade tenho bons planos. Assim que voltar para o Rio Grande do Sul vou empenhar na plantação de legumes, verduras, de tudo um pouco. Parte da colheita vai ser vendida para investir na manutenção do templo, o restante será doado aos pobres da região. Feito isso, vou seguir o meu plano de morar à beira mar junto com os meus irmãos aposentados que estão aguardando a minha chegada.

AcreNews – Para finalizar a nossa conversa, não poderia deixar de citar que a “fé move montanhas!”. Que mensagem o senhor deixa para os nossos leitores?

João Nazário – Que vale a pena largar tudo em busca da felicidade, da paz, na tentativa de achar a cura para as feridas da vida, das dores. Imagina só o meu caso, um sujeito que era bem de vida, que vivia muito bem, que tinha uma vida louca a ponto de ter relacionamento com seis mulheres ao mesmo tempo, lucrar 10 mil dólares por mês, não falo em real, estou dizendo dólar, abandonar tudo e seguir os passos da fé, da religião! Hoje me sinto feliz por ter abandonado tudo que me fazia mal, entrei para o Daime e vivo uma vida significativa. As dores passaram. Hoje eu sou um homem de Deus, ofereci a minha vida a ele. Sou grato por tudo! E ao povo do Acre fica a minha eterna gratidão.

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