Política & Economia
“Onde estavam os golpistas em 08 de janeiro?”, questiona o nosso artículista Valterlucio Bessa Campelo
No Brasil de meu Deus, rasgaram “O Espírito das Leis” (1748) e apagaram Montesquieu da história e a Constituição Federal Brasileira de 1988 foi junto. De emendas parlamentares a projetos de Lei, de medidas rotineiras de segurança pública ao decoro de vossas excelências, tudo passa pelo SIM ou NÃO dos supremos. Quem fala, o que fala, onde e como fala, idem. A censura está no ar como uma gripe que pode atacar qualquer um, inclusive este pobre escriba em suas inquietações. A perseguição, prisão, silenciamento e multa são o nosso dia a dia. Alguns não percebem, outros percebem e fazem de conta que são idiotas para ver o que lucram com a situação, outros percebem e gostam porque é da sua natureza a corrupção, seja material ou ideológica.
Vivemos em uma ditadura consentida por uma parte da população (sempre há) que em seu ódio ao conservadorismo, ou por adesão estúpida ao politicamente correto, vai levando, arranjando desculpas, papagueando analistas da velha imprensa transformada em assessoria de comunicação do lulopetismo, contra a maioria da população. Os golpes de estado sempre foram dados por gente armada, lembremo-nos dos jacobinos, dos bolcheviques, dos nazistas, dos fascistas… enfim, é sobre uma maioria embasbacada e inerte, desprovida dos meios de ação que se instaura poderes autocráticos e não ao contrário.
De outra parte, sempre haverá serviçais prontos para se prostrarem diante do novo ditador. É assim que vejo a quadra brasileira dos dias atuais. Se a testemunha é tida na justiça criminal como a prostituta das provas, imagine o que se pode dizer de delações obtidas sob ameaça e chantagem, mesmo assim elas são usadas pelo sistema como irrefutáveis e repetidas ad nauseam pelos sequazes e idiotas da imprensa. Versões sem nenhum sentido lógico são aceitas compulsoriamente por quem por dever de honestidade intelectual deveria criticá-las.
Esse servilismo acabrunhado, indigno, chega ao cúmulo de aceitar docemente que o STF atribua a si mesmo o papel moderador. Isso não existe na República! O STF só adentra aos outros poderes livremente como faz no Brasil quando sai de sua caixinha, exorbita de suas funções e mistura-se indevidamente na política como prevê a Constituição Federal. Se políticos e imprensa dão isso como normal, é porque se borram de medo ou foram devidamente adquiridos pelas verbas torrenciais que escorre do esgoto subterrâneo do Estado.
Não, meus caros. Não havia entre os manifestantes de 08 de janeiro o ânimo nem a pretensão golpista como quer fazer parecer a sabujice espalhada por aí. Não havia o que depor em um domingo à tarde, com o presidente Lula fora de Brasília, com as forças militares sob seu comando no lugar mais protegido da república. Ainda que, estrategicamente, o próprio governo tenha agido para facilitar a invasão da praça dos três poderes, atraindo os manifestantes e oferecendo aguinha gelada, ainda que as câmeras de segurança tenham sido deletadas por quem devia guardá-las a sete chaves, ainda que agitadores de esquerda tenham sido identificados pelos manifestantes, não se poderia produzir em 08 de janeiro o resultado golpe de estado. Isso é uma fantasia e uma calhordice hermenêutica digna de risada fora do Brasil e do nosso nojo aqui mesmo.
Aqueles homens não têm a cara de Che Guevara, mas a do Clesão, pequeno comerciante morto pela desatenção do Estado que deveria protegê-lo. Aquelas mulheres não têm a cara da cubana Haydée Santamaria, mas a de Débora Rodrigues, condenada pelo uso de um batom. Querer fazer daqueles idosos e pessoas do povo, desarmados, em pleno exercício do direito de manifestar sua indignação, um exército popular de derrubada do governo recém-instalado, é atestado de burrice ou de servilismo.
Esse servilismo é comum na história, foi identificado em todas as ditaduras, é formado por pessoas de baixa cultura ou de alta esperteza, ou seja, gente que não sabe do que se trata e vai com a maré e gente que sabe e vai para tirar algum proveito. O resto é patranha.
Enquanto isso, no supremo andar da república, se resolve soltar um mafioso búlgaro, notório criminoso, para dar reciprocidade à Espanha que não topou deportar o jornalista perseguido no Brasil, José Eustáquio. O Ministério das Relações Exteriores foi para o lixo sem serventia. Isso tem nome e não é bonito, um nome que assusta os medrosos da política e da imprensa, um título que escancara a podridão do regime e antecipa um futuro de dor e sofrimento. Adivinhem qual.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.