CULTURA & ENTRETENIMENTO
RESENHA A Máquina de Barro de Alessandro Gondim: uma ode à existência e o poder da criação.
Por Eanes Henrique Enes
Como se molda a vida? Com as mãos inquietantes e olhar atento? Entre a perplexidade da realidade a enlamear os sentidos? Dos retalhos da carne sob os fluxos de sangue? Não me arrisco a dizer, mas ergo com sinceridade estas breves reflexões.
Quem moldaria a máquina de barro senão o próprio devir? A poesia escorre perante os elementos da própria imanência. Assim Gondim tece os fios de sua poesia e molda as palavras na inevitabilidade da própria existência.
Ao percorrer o caminho do devir, Máquina de Barro, se sustenta nas potencias e potencialidades da palavra. Entre a feitura do poeta e a criação que advém das reflexões contemporâneas. Como mesmo se diz, transbordando paradoxos apaixonados pela própria existência. Claro que se apresentam questões corroborada às características também dos desencantos e ilusões, que são questões que não se pode fugir. E muito pelo contrário, Máquina de Barro se joga e se choca com a própria inevitabilidade, e deste encontro a belo gosto de sangue e lama, nasce a poesia que está sendo cultivada no caminho do texto. Se fossemos nos arriscar a identificar o que se apresenta como poesia, usaríamos as palavras do próprio eu-lírico: eu escrevo como um homem que sangra; Meu corpo sangra poesia. Diz em “Meus olhos choram letras”.
A poesia como a metáfora da própria imanência, ao escorrer pelas carnes a produzir sentidos, ou correndo pelas veias lhe potencializando no aspecto do corpo. É somente isso? Se é que podemos chamar de “somente”. Nunca! Mas o resto você vai ter que ler! Ah! Pra não esquecer de falar nas ilustrações fodásticas de Danilo de S’Acre! Nossa! Uma união de destreza, delicadeza e força. As entidades da própria natureza se apresentam em faces de aterrorizante beleza! A quem se agradece a existência de uma obra se não à própria necessidade de ela fluir sobre o rio do devir a beijar as margens de nosso ser?
Excelente obra para refletir o que é ser humano. Nas palavras de Cioran, em Nos cumes do desespero, o lirismo é uma expressão bárbara: seu verdadeiro valor consiste, precisamente, em ser somente SANGUE, SINCERIDADE E CHAMAS!
E para não parecer distante, trago uma poesia da obra que se chama “Semeando carne humana”. Porque lugar de poesia é na calçada, mesmo que seja virtual e no meu caso também marginal.
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