Política & Economia
Valterlucio Campelo faz um paralelo entre a morte do Papa Francisco e a renúncia de Claus Schwab
Seguro de que não há nada a dizer sobre a morte do Papa Francisco que não tenha sido dito desde essa segunda-feira, trago aos leitores um fato pouco noticiado, mas, da maior importância, que é o afastamento também neste dia 21/04, do fundador e presidente do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, aos 87 anos de idade. Ele possui doutorados em engenharia e economia, além de um mestrado em administração pública pela Universidade de Harvard. Antes de fundar o Fórum Econômico Mundial, Schwab trabalhou na indústria e como professor de política de negócios na Universidade de Genebra.
Frequentemente, Schwab é lembrado por ser filho de Eugen Wilhelm Schwab, diretor administrativo da Escher-Wyss em Ravensburg durante a Segunda Guerra Mundial. A empresa era fornecedora da indústria bélica alemã e utilizava trabalho forçado (imaginem de quem). Apesar disso, não há provas de que Eugen Schwab fosse um membro ativo do Partido Nazista ou tivesse ligações próximas com a liderança nazista. Por outro lado, muita gente acha que tal prestígio não seria dado a um não alinhado.
Em 1971, Schwab fundou o Fórum Econômico Europeu, que mais tarde se tornou o Fórum Econômico Mundial. O FEM é conhecido por sua reunião anual em Davos, Suíça, que reúne os maiores líderes empresariais, políticos, acadêmicos e outros líderes da sociedade para discutir questões globais. Os reais donos e influenciadores do mundo se reúnem no e, normalmente, é lá que seus agentes, aí incluindo presidentes e ministros de outros países vão prestar contas e receber novas determinações.
À frente da instituição que criou há 54 anos, pode-se dizer que o Schwab é a face mais visível do FEM que incorpora suas ideias, publicadas em livros como “A quarta Revolução Industrial” (2016) e “Capitalismo Stakeholder: uma Economia Global que Trabalha Para o Progresso, as Pessoas e o Planeta” (2021). Obviamente, não há como detalhar aqui o seu pensamento, contudo, as ideias principais podem ser indicadas, com a recomendação ao leitor de que as estude e acompanhe, pois são fundamentais para compreender o mundo que vivemos.
No livro “A Quarta Revolução Industrial”, Schwab indica entre muitas tendências a inevitável fusão dos mundos físico, digital e biológico, a expansão e domínio da inteligência artificial e internet das coisas, a nova modelagem de negócios visando a automação do trabalho, governança com novas regulamentações supranacionais, inovação rápida e contínua, exclusão digital e mudanças educacionais.
Para um futuro administrável, Schwab propõe uma virada global no sentido da adoção por todos os países de um pensamento sistêmico, de permanente adaptabilidade, de controle da inovação e colaboração multilateral. Em tudo isso, o que podemos perceber é que, para o presidente do FEM, a quarta revolução industrial não admite nacionalidades fortes, ou seja, há que se perseguir uma governança cada vez mais globalizada a partir de regulamentações e objetivos comuns.
No livro Sobre o Capitalismo de Stakeholders, uma ideia que desde 1971 ele já cultivava, Schwab reivindica que para este novo mundo efetivamente globalizado, será necessária uma alteração importante no sistema capitalista atual que faria uma transição de acionistas para os stakeholders (grupos de interesses).
O objetivo principal das empresas deixaria de ser apenas maximizar o lucro para os acionistas, como aprendemos nos livros de economia, para criar valor a longo prazo para todos os seus stakeholders. Isso inclui clientes, funcionários, fornecedores, comunidades locais e a sociedade em geral, além dos próprios acionistas.
Um exemplo bem evidente dessa tendência é a chamada agenda ESG, com tecnologias para a sustentabilidade ambiental (E), para o impacto social (S) e para a boa governança corporativa (G). A quarta revolução industrial ofereceria ferramentas para os três propósitos.
Um novo capitalismo para um novo mundo. No fundo, em pouquíssimas palavras como permite o espaço, é disso que se trata e assim pode ser resumido, segundo o pensamento de Klaus Schwab, o centro das questões globais de desenvolvimento. Foi esse homem, que durante décadas arquitetou e pôs em marcha, liderando o grupo de pessoas mais ricas e influentes do mundo, um projeto de transformação global da sociedade, que se afastou do comando da organização poucas horas depois que o Papa Francisco morreu.
Então, se nos próximos dias estaremos acompanhando pela TV a sucessão do Papa, em outra banda muitíssimo importante e, discretamente, será preparada a sucessão no FEM, que passou a ser comandado interinamente por Peter Brabeck-Letmathe, presidente emérito da Nestlé, cuja maior preocupação é com a questão hídrica e a ameaça de desabastecimento. O filho de Klaus, Olivier M. Schwab, aquecimentista convicto, também faz parte do Conselho de Administração da entidade.
É bastante razoável esperar mudanças importantes no Fórum para os próximos anos. Apesar de, em certo sentido, o seu fundador e suas ideias animarem a Organização, um fórum com essa dimensão, interesses e participantes (vejam AQUI), muito provavelmente, sofrerá alguns solavancos. Se contarmos ainda com a recente eleição de Trump e uma certa efervescência nacionalista em muitos países, a nova presidência terá, talvez, que se reciclar.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.