ESPORTE
Cézar Limão – O “Pelé” do campo de peladas do Maracutaia que brilhou nos grandes clubes do Acre
O ex-craque Carlos Cézar Bezerra de Pinho, o Cézar Limão, tem 52 anos e reside em Rio Branco
Na Marca da Cal / Foto: Manoel Façanha
Nos campeonatos infantis, ocorridos na década de 1980, no campinho de areia do Maracutaia, localizado no espaço da Fundação do Bem Estar Social do Acre (Funbesa), um craque promissor, apelidado de Cézar Limão, já chamava atenção pela elegância a qual tratava a senhora bola. Nascido em Rio Branco-AC, dia 23 de julho de 1969, Cézar Limão começou sua trajetória futebolística vestindo a camisa do São Paulo, equipe infantil do saudoso desportista Osmar Correa, o Galvão Bueno do Maracutaia, que narrava jogos numa cabine improvisada e instalada no alto de uma seringueira à beira do campo. O futebol fino o levou para outras três boas equipes que disputaram nos anos seguintes a competição: Flamenguinho do Cosmo (1982), Santa Cruz do Sr. Dário D’Avila (1983) e Vasquinho do Zequinha (1984).
Na busca de novos horizontes, em 1983, Cézar Limão e amigos ficaram sabendo de uma peneira na categoria denominada dente de leite que ocorreria no Juventus e então resolveram ir a pé até o Clube do Povo, mas apenas ele foi aprovado. “Eu acredito que levei até um pouco de sorte, pois eu já era conhecido dos campeonatos da Funbesa”, lembrou ele.
Carreira iniciada na base do Juventus e Rio Branco
César Limão desfilou o fino do futebol por três temporadas na base do time juventino (1983, 1985 e 1986) e uma no Estrelão (1984), onde foi campeão, antes da estreia na equipe principal do Juventus em 1987. Segundo ele, não foi fácil garantir um espaço no elenco de estrelas do Juventus. “Fomos formados dentro de uma geração com grandes atletas e de vasta referência no nosso futebol”, disse orgulhoso Cézar Limão.
O jogo de estreia de Cézar Limão pelo time principal do Clube do Povo ocorreria ainda na época do amadorismo, precisamente em 1987, contra o Atlético-AC. “Entrei aos 30 minutos do segundo tempo, quando o Juventus perdia por 1 a 0. Logo na primeira vez que toquei na bola quase deixei tudo igual no placar, mas a bola passou tirando tinta da baliza superior do grande goleiro Tidal. Em seguida, o Neivo foi ao fundo pela esquerda, do lado onde ficava a torcida do Juventus, e cruzou à meia altura. Dominei a bola, antecipando a defesa e, com um toque sutil, a coloquei com a parte interna do pé direito no canto esquerdo do Tidal para empatar o jogo. Logo em seguida, em outro cruzamento do Neivo, o Vidal Batatinha fez o gol da virada juventina”, relembrou o ex-meia-atacante.
Artilharia, três títulos e o fim da carreira aos 28 anos
Depois de disputar o segundo estadual com a camisa do Juventus, na temporada de 1988, Cézar Limão fez sua estreia numa edição de Copão da Amazônia. O torneio foi dividido em dois grupos e a chave juventina foi disputada na cidade de Ji-Paraná (RO). O Juventus terminou na segunda posição e o Atlético-AC levou o título da chave, mas acabou perdendo a decisão diante do Trem-AP.
No ano seguinte, César Limão migrou para o Independência, onde fez sua estreia como atleta profissional. O título não veio, mas Cézar Limão cravou seu nome na história do futebol acreano ao dividir a artilharia do primeiro campeonato estadual de profissionais com Nilson, do Rio Branco, ambos com quatro gols. O retorno para o Juventus veio no ano seguinte, quando Cézar Limão conquistaria seu primeiro título na elite do futebol local.
Na temporada de 1991, Cézar Limão vestiu as camisas do Rio Branco e do Independência. No Estrelão, ele fez parte do time que fechou a competição na terceira posição. Já pelo Tricolor de Aço, Limão disputou o Campeonato Brasileiro da Série B.
Nos anos de 1992 e 1993, Cézar Limão teve duas grandes temporadas, conquistando o título estadual com as cores das camisas do Rio Branco e do Independência, respectivamente.
Na temporada de 1994, Limão não teve muito a comemorar. Foi reserva do Independência na primeira partida da Copa do Brasil diante do Ariquemes-RO. No retorno ao Acre aceitou um convite do Gama-DF, então comandado por Jota Alves, ex-técnico do Rio Branco. No entanto, ele nem chegou sequer a estrear pelo clube candango com a queda do treinador. “Com a saída do Jota Alves eu peguei minhas coisas e resolvi retornar ao Acre”, relembrou o ex-jogador.
Cézar Limão deu um tempo na carreira futebolística e retornou aos gramados somente na temporada 1996 para vestir novamente a camisa do Rio Branco, último clube brasileiro na carreira, pois no ano seguinte, ele recebeu um convite para jogar no Leça de Portugal, mas ficou pouco tempo devido uma grave lesão de meniscos e ligamentos dos dois joelhos, encerrando a carreira aos 28 anos.
Momentos inesquecíveis, seleção ideal e os melhores parceiros
Sobre momentos inesquecíveis na carreira, Limão citou a estreia com gol na vitória sobre o Atlético-AC, assim como um lance espetacular seu com a camisa do Independência diante do Clube do Remo, no estádio Baenão, em Belém, em 1991, pelo Campeonato Brasileiro da Série B. “Certo momento do jogo dei uma arrancada de uma área até a outra com a bola nos pés e, mesmo podendo finalizar o lance, preferi passar a bola para um companheiro que chutou a bola sobre a baliza”, relembrou o ex-jogador.
Com formação acadêmica no curso de geografia da Universidade Federal do Acre (Ufac) e hoje trabalhando como funcionário público, Cézar Limão explicou que o esvaziamento das arquibancadas em nossos estádios está associado a vários fatores, onde citou que a facilidade de assistir variados jogos em emissoras de TV aberta e fechada deixou o torcedor acomodado no sofá de casa. É, somando a tudo isso, a ausência de justiça social e a péssima distribuição de renda no país, também associado às questões de racismo, homofobia, xenofobia e entre outros tipos de violências, seja nos estádios ou aos seus arredores, tem contribuído para afastar o torcedor.
Outro fator, não menos importante, segundo o ex-meia-atacante, é a ausência de investimentos na base. “Quero deixar claro que a boa base é primordial para a formação de um grande jogador, atleta e homem, pois também é uma escola. E, como escola, é a extensão em todos os sentidos, humanos e sociais. Portanto, o torcedor também vai aos estádios para ver grandes artistas, mas na atualidade ele sente essa falta”, opinou Cézar Limão.
A respeito da sua seleção ideal, o “Pelé do Maracutaia” não fez arrodeio e elegeu a seguinte formação: Klowsbey; Toninho, Paulão, Neórico e Mauro; Emilson Brasil, Carioca, Carlinhos Bonamigo e Dadão; Mariceudo e Roberto Ferraz. Sobre o melhor dirigente do futebol local ele citou o saudoso empresário Sebastião de Melo Alencar (Rio Branco). E quanto ao melhor árbitro, ele apontou o saudoso José Ribamar Pinheiro de Almeida.
Quanto aos melhores parceiros em campo, Cézar Limão elegeu um sexteto formado por Renísio, Carioca, Mariceudo, Carlinhos Bonamigo, Artur Oliveira e Jader.
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