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ELEIÇÕES

Rubby Rodrigues – A candidata que sonha em ser a primeira trans deputada federal

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Por Wanglézio Braga / Fotos: Arquivo Pessoal

ELA quer ser a primeira mulher trans deputada federal do Brasil. ELA quer entrar no plenário da Câmara dos Deputados com um vestido branco, simbolizando a paz, para tomar posse e representar o Estado do Acre, na próxima legislatura. ELA quer continuar a fazer história e quebrar paradigmas típicos de uma sociedade contemporânea e desigual. ELA tem nome: Rubby da Silva Rodrigues.

Rio-branquense de nascença, moradora da Baixada da Sobral, Rubby, aos 35 anos é bastante conhecida pelo trabalho social que desempenhou e continua desempenhando junto ao público LGBTQIA+ no Acre. Profere palestra para médicos, policiais, autoridades, servidores públicos, estudantes de escolas públicas e diversas universidades onde defende uma sociedade mais justa, igualitária, e de oportunidades para todos. Se autointitula educadora mesmo com formação em Recursos Humanos.

Quem assistiu à propaganda eleitoral partidária obrigatória na televisão, nos últimos dias, deve ter percebido a sua presença no vídeo na ala do PSB. Nos poucos segundos a que tem direito, ela enfatizou que é uma mulher trans, moradora da periferia e que deseja lutar pela garantia da dignidade humana, manifesta a necessidade da representatividade, sobretudo as que vivem nas comunidades carentes e defende veemente a bandeira da educação como um pilar de mudança social. O AcreNews conversou com ela e procurou saber: Estamos preparados para eleger uma mulher trans?

AcreNews – De onde surgiu esse desejo pela política partidária?

Bom, essa não é a minha primeira candidatura. Eu fui candidata à vereadora de Rio Branco em 2020, mas não fui eleita. Apesar de sair desse processo bastante decepcionada da política, pude enxergar nisso uma forma de lutar e fazer a história mudar. Pois veja bem, o mundo político ainda é visto como lugar de pessoas com muito dinheiro que estão dispostos a trocar favores e eu não faço coisas que são contra as minhas condutas. Até a forma como a gente é abordada por algumas pessoas na rua já é com interesse em algo, querendo ou não, isso faz parte da história.
Precisamos mudar esse pensamento, para que possamos evoluir e renovar os espaços e reeducar a sociedade.
O lugar de qualquer mulher, seja cis ou trans é em todos os lugares, precisamos ser iguais e de ter representatividade.

Sabe, faço política social há muito tempo, busco dias melhores e situações melhores as pessoas. Nesse tempo todinho, se você for analisar, não tem quem faça política por nós LGBTQIA+, por isso entrei na luta. Eu sou da Baixada da Sobral. Eu sei da dificuldade de várias pessoas e fico machucada quando não consigo ajudar a quem me pede por ajuda. Isso me entristece muito.

AcreNews – Como foi o processo da pré-campanha? Teve algum apoio?

A primeira coisa foi pedir orientação espiritual, pois sigo uma religião ancestral, e tive a resposta de que deveria, sim, ser candidata. Depois, minha família e em seguida as pessoas com quem convivo. Hoje, na campanha, estou tendo importantes apoios. Bem diferente do início. Quando entramos no pleito eleitoral, muita gente perguntou porque não sai como candidata à deputada estadual, primeiro motivo é porque eu tenho palavra e já havia manifestado meu apoio ao Gabriel Santos para ser sua aliada. Segundo foi porque analisando os fatos observei que a dificuldade não seria maior e nem menor do outro lado, então decidi mudar o rumo da luta e aceitei o convite para ser candidata a Deputada Federal.

AcreNews – Por que você quer ser deputada federal?

Quero ser deputada federal para lutar pelo direito de todos, não somente pela sigla LGBTQIA. Eu já sofri varias violências e hoje vivo a simplicidade, as dificuldades no meu dia-a-dia. Deixei o meu emprego para ser candidata, mesmo sendo uma pessoa que trabalhava num bom lugar, por que uso o transporte público, caminho pelas ruas da cidade, do meu bairro e não deixo de observar o avanço da violência e a crescente desigualdade social. Tem muita gente aí falando em humildade, em busca de direito, que levanta bandeiras, mais que não vive, não sente na pele.

AcreNews – Você se sente preparada para esse desafio quando passar pelo crivo dos 588 mil eleitores do Acre?

Quando fui estudar o que faz uma deputada federal, de pronto percebi o quanto é importe o cargo, a primeira batalha será vencer o machismo, o preconceito e a discriminação. Isso é difícil em Brasília para uma mulher deputada, imagina para uma mulher trans! Por isso, quero ocupar esse espaço, dentro da política, para promover a igualdade entre as pessoas, lutar por elas, por nós.

E se estou preparada? Sim, estou para esse desafio! A Rubby não tem medo de lutar pelas pessoas que são menos favorecidas. Não tenho medo algum de enfrentar os pares no Congresso Nacional. Meu medo, talvez, seria de não corresponder aos anseios da população.

AcreNews – Qual a logística da sua campanha eleitoral?

A logística de campanha tem sido algo difícil para mim. Saí do meu trabalho para me dedicar à política. A gente não tem dinheiro, pois não sou de família política e nem tenho “madrinha” ou “padrinho”. E como todos podem ver no portal da transparência o fundo eleitoral sempre é favorável aos grandes políticos, os grandes partidos. Eu recebi uma estrutura que não é suficiente pro tamanho da necessidade. Por isso, neste processo, tive que analisar o que faria com tão pouco.

Decidi que trabalharia mais com as redes sociais, com vídeos, com cards feitos através do meu celular. Tenho amigos voluntários, parceiros, nesta campanha que praticamente me ajudam em tudo quando o assunto é marketing. Isso é bem diferente, é um trabalho gostoso. Temos uma estrutura simples, mais feita com muito amor, de coração.

AcreNews – O foco é a capital? Como conquistar o interior?

A concentração está mais na capital por causa dos recursos. É aqui em Rio Branco onde vivo, porém, estou vendo a possibilidade de fazer uma vaquinha para ajudar nos gastos com os trabalhos no interior. Esse dinheiro serviria para pagar hospedagem, locomoção e até material gráfico. Enquanto isso não acontece, tenho me esforçado junto com a minha equipe em trabalhar com as redes sociais.

AcreNews – Muitos candidatos reclamam da dificuldade em acessar as pessoas e até de conversar com elas. Tens sofrido isso também?

Com toda certeza. Está difícil trabalhar na campanha porque as pessoas estão sem esperança. Elas estão analisando muito os candidatos, às suas propostas, estão exigentes. Vivemos um cenário político muito polarizado. No meu caso, quando chego entregando os meus materiais de campanha, elas, as pessoas, ficam surpresas, quando digo que eu sou a candidata, pois acabam pensando que estou trabalhando para outra pessoa. Percebo também que isso parte da cultura, pois ninguém imagina que uma mulher trans, da periferia seria candidata à deputada federal. Quando olham para o material e veem a minha foto, muitas ficam visivelmente surpresas!

Isto tem uma explicação. Por muitos anos, a sociedade só viam nós, as mulheres trans, como pessoas que estão sobrevivendo da prostituição ou que são cabeleireiras. Sabemos que muitas fazem isso porque é um meio que encontraram para sobreviver. Particularmente não aceitei isso para mim. Existe um preconceito grande sobre esse tema, inclusive. E por conta disso, alguns acreditam que as mulheres trans não podem alcançar um cargo importante na sociedade como deputada federal. Daí, fico analisando e buscando essa identificação no meio político. Não temos! Por isso, sou candidata para mudar esse cenário. Quero conversar, defender minhas bandeiras e apresentar propostas.

AcreNews – Fora a bandeira do LGBTQIA+. O que podemos esperar de você caso seja eleita?

Esperar muita disposição para promover o bem estar das pessoas. O tema da minha campanha é “amor e confiança pelas pessoas”. Quero lutar com esse lema. Quero mudar a realidade das periferias dando aos jovens oportunidades, trazendo cultura, lazer, saúde e principalmente educação. A educação liberta. Ela ajuda na vida, liberdade da ociosidade, da falta de dinheiro, de muita coisa. A educação é a saída real dos nossos problemas. O país está enriquecendo os mais ricos e deixando os pobres cada vez mais pobres. Acredito que tendo oportunidades, as pessoas que passam fome, que sofrem violência, as mais oprimidas, as pessoas que vivem na periferia vão mudar de vida.

Por tanto, meus três temas na Câmara serão o combate à violência contra Mulheres e contra a minha comunidade LGBTQIA+, criação de projetos e leis que garantam emprego e oportunidades aos jovens, principalmente os das periferias e o fortalecimento da Educação e Saúde do meu Estado do Acre. Como falei, eu faço trabalho social sem muito suporte. Com um mandato, isso será possível.

AcreNews – Você acredita que a renovação na Câmara vai ser o ponto alto desta eleição?

Acredito que sim. A gente sabe que o domínio profissional de alguns políticos tenta não deixar seguir esse caminho. E aí surge também o fato de que muitos eleitores buscam nessas pessoas uma forma de auxílio imediato, financeiro. Eles, os candidatos profissionais, têm o poder e o dinheiro. Mas muita outras pessoas querem algo a mais.

AcreNews – Essa é outra reclamação dos candidatos. Muitos eleitores vivem da cultura da troca de votos. Como tem lidado com isso?

Infelizmente tem muita gente pedindo o famoso PIX. Já me pediram ajuda para pagar luz, comprar sacolão, gasolina, etc. Tem gente que pede auxílio para pagar dentista, para comprar rifa. Eu me sinto incapaz e as vezes fico assustada com algumas abordagens. A política de troca, infelizmente ainda é presente nos nossos dias. Lamentavelmente muitos visam o individual e esquecem o geral. O eleitorado ainda está acostumado a esse sistema.

AcreNews – Muitas mulheres trans costumam se vestir muito bem em ocasiões atípicas e especiais. É uma característica! A pergunta final é: Vislumbrando um bom resultado nas eleições, a roupa já está pronta?

A roupa sempre esteve pronta!
Eu sou vaidosa, mas sou livre de ostentação. Aprendi com a minha mãe que o importante é ter uma roupa bonita, cuidada, elegante e confortável. Não quero mentir, mas imagino um vestido grande e branco. A cor branca é para representar e pedir a paz no Brasil. O branco enaltece, ele purifica. E é claro que não vai faltar as minhas bandeiras do Acre e a bandeira LGBTQI.

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