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Governador boliviano sugere flexibilizar as regras econômicas para fortalecer a fronteira com o Acre

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Por Wanglézio Braga

Médico de profissão, Régis Germán Richter Alencar (43) tornou-se governador de Pando, um Departamento da Bolívia, localizado na fronteira com o Acre, após vencer o pleito no 2° turno (54,69% dos votos) nas Eleições de 2021. De lá pra cá, o prefeito de Porvenir que virou governador para um mandato de cinco anos (2021-2026), ganhou cada vez mais notoriedade pela gestão que vem realizando – inclusiva e inovadora.

“Papito”, como é carinhosamente conhecido na região, é o primeiro governador cadeirante da história da Bolívia. Um acidente automobilístico forçou a perda dos movimentos das pernas. Desde quando assumiu o posto, no lugar da governadora Paola Terrazas, mudanças nas estruturas do Palácio do Governo, localizado no coração de Cobija, foram realizadas, deixando o chefe do executivo mais próximo da população.

Em entrevista exclusiva concedida ao AcreNews, Regis Richter fez um balanço positivo do seu governo, falou dos desafios econômicos que Pando segue enfrentando mesmo após o período da pandemia do novo Coronavírus. Ele também ressaltou a necessidade de ampliar o diálogo para o fortalecimento econômico da região, por flexibilizar as diretrizes sanitárias e administrativas. Confira a entrevista na íntegra:

AcreNews – Recentemente Cobija foi anfitriã de um evento que reuniu autoridades do Brasil, do Peru, da Colômbia e da Bolívia, que discutiram as questões ambientais. Quais a importância de debater essa temática no atual momento da Amazônia Internacional?

É de extrema importância para a nossa região essas discussões para vermos e tirarmos algumas conclusões, enviar aos nossos mandatários, aos presidentes e obviamente aos países industrializados, afinal, é importante preservar, conversar, reflorestar a Amazônia para continuar a ser o pulmão do mundo. Mas, é importante que os países industrializados possam mandar mais recursos para a Amazônia. Nós moramos aqui e preservamos a floresta e precisamos viver bem. É a contrapartida! Já nascemos com o conceito de que é preciso cuidar da região, no entanto, precisamos do apoio para a saúde, para a educação, para melhorar as estradas, para ajudar na industrialização dos nossos frutos da Amazônia. Estamos de acordo que precisamos continuar cuidando da floresta, mas precisamos também que chegue ajuda internacional. Temos muitas famílias carentes, pobres, povos indígenas que precisam dessa ajuda. A hora é de agir na preservação.

AcreNews – Qual o balanço que o senhor presta do seu governo. Como estamos?

Em 2023, estive no meu segundo ano de governo, já estamos entrando no terceiro ano. Antes, eu era prefeito de um município aqui perto, de Porvenir, por 11 anos, e agora estamos liderando o governo do departamento. Estou feliz em poder ajudar na saúde, na educação, no turismo, estamos encaminhando muita coisa que precisava de um ambiente de coordenação como por exemplo, nas questões dos povos indígenas, dos campesinos, dos moradores da cidade, com o setor privado, estamos indo, porém, sentimos um pouco de dificuldade econômica, a crise econômica mundial e local está afetando o governo, inviabilizando alguns objetivos que traçamos.

AcreNews – Qual foi o maior desafio que o senhor encontrou ao assumir o Governo de Pando?

Sem sombras de dúvidas, no início, foi a Pandemia do novo Coronavírus. Eu tomei posse no meio da pandemia, no auge do covid-19 e a minha necessidade era enfrentar essa doença. Tivemos desafios com relação à vacinação, aos cuidados, às questões de diminuir a taxa de mortalidade. E após o período da Covid-19, tivemos o desafio de ativar a economia. A economia foi atingida em cheio. O mundo inteiro sentiu essa dificuldade. Nosso desafio atual é reaquecer a economia para que as famílias possam ter condições de viver bem.

AcreNews – O que o senhor elenca como algo que realmente é a cara da sua gestão?

Estamos focados na preservação e na conservação, mostrando um estado 100% da Amazônia. Nós somos um estado amazônico, essa é a principal linha. Mas, estamos trabalhando também pela reativação da economia com base na produção, empreendimento e turismo.

AcreNews – Não há como dissociar o Departamento de Pando com o Estado do Acre. Por isso, muitas parcerias foram feitas ao longo dos anos, porém, notamos que muitas delas não foram bem-sucedidas. O que o seu governo mais almeja, de parcerias, com o Governo do Acre?

Nós nascemos de uma mesma região. Por questões políticas temos uma linha divisória que diz que aqui é a Bolívia e lá após a ponte é o Acre. Mas vivemos na mesma região amazônica, temos muitas coisas iguais de cultura, na área da produção, do solo e outras coisas. O que queremos dos nossos vizinhos, é viver em harmonia. Combater a insegurança, combater o tráfico de drogas, e melhorar o intercâmbio comercial. Aqui mesmo, muitas famílias, eu mesmo tenho avô brasileiro. Nós precisamos continuar a viver em harmonia e nos ajudar a viver nessa faixa da Amazônia. Precisamos ter o sentimento de ser uma só região, vivendo bem com os bolivianos, peruanos e brasileiros.

AcreNews – As parcerias econômicas são pautas que mais se falam nesta região de fronteira. Muitos brasileiros relatam dificuldades em entrar no mercado boliviano, o mesmo ocorre do outro lado da ponte. Essa lacuna também é uma preocupação do seu governo?

Sinceramente sim. É muito difícil trabalhar essa questão tanto pelas leis brasileiras quanto pelas leis bolivianas. Esse intercâmbio comercial, econômico, já sai prejudicado por conta disso, pelo excesso de normas, desde a área tributária até sanitária. É ideal flexibilizar um pouco essa questão. Se o Brasil está tendo mercado na China, na Europa, nós também podemos encaixar. Se a Bolívia consegue também esse mercado, podemos encaixar. Nós temos que trabalhar bastante essas normativas de comércio internacional e questões sanitárias. Já vencemos essa barreira com o comércio do turismo. Nós passamos para lá, e vocês para cá. Ainda é pequena essa questão de comércio de produtos locais. Creio que precisamos cuidar disso, por flexibilizar as leis.

AcreNews – A Bolívia segue, muito em breve, numa eleição. Quais são os seus planos para os próximos pleitos?

Estou no meu primeiro mandato de governador e estamos focados em cumprir as promessas, os planos do nosso governo. Queremos melhorar as condições, a qualidade de vida das pessoas. Se no final deste período, de conseguir realizar os nossos planos, ter melhorado a economia do país, quem sabe é algo para se pensar em novas eleições. Se isso não acontecer vamos dar espaços para novas lideranças. Mas, não tem nada definido na questão política. O nosso foco mesmo é terminar o mandato e fazer uma boa gestão.

AcreNews – Deixe uma mensagem aos acreanos e também aos bolivianos que vivem no Acre!

Quero agradecer o espaço, a entrevista. Desde Cobija, a capital do estado, mando um abraço aos amigos brasileiros, em especial aos nossos compatriotas que vivem nesse estado. A gente faz um convite para que todos vocês possam visitar a nossa terra, o nosso departamento. Venham passar um final de semana conosco. Estamos pertinho, duas horas de viagem, da capital acreana Rio Branco até Cobija. A Bolívia e o Brasil são irmãos. Por isso precisamos continuar vivendo nessa irmandade. Obrigado!

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