ELEIÇÕES
Acordo entre WhatsApp e TSE ‘é inaceitável e não será cumprido’, diz Bolsonaro
O WhatsApp anunciou na quinta-feira que vai lançar uma nova funcionalidade, chamada Comunidades, no próximo ano. O recurso vai possibilitar que administradores reúnam diferentes grupos sob um só guarda-chuva, ampliando o alcance de mensagens. O novo recurso, em fase de testes, pode facilitar a circulação de notícias falsas. Atualmente, os grupos de WhatsApp podem ter no máximo 256 integrantes.
Bolsonaro participa de um passeio de moto com apoiadores em São Paulo nesta sexta-feira, num trajeto que vai da capital até Americana. No meio do caminho, ele parou para falar com outros motociclistas e afirmou que o acordo do WhatsApp com o TSE “não será cumprido”.
— E já adianto. Isso que o WhatsApp está fazendo no mundo todo, sem problema. Agora, abrir uma excepcionalidade para o Brasil, isso é inadmissível, inaceitável, e não vai ser cumprido, este acordo que por ventura eles realmente tenham feito com o Brasil, com informações que eu tenho até o presente momento — declarou.
Na chegada a Americana, destino do passeio, Bolsonaro discursou para uma multidão de apoiadores e retomou o assunto. Ele chamou o acordo entre o WhatsApp e o TSE de “censura”.
— O WhatsApp passa a ter uma nova política para o mundo, mas uma especial para o Brasil. Censura, discriminação, isso não existe. Ninguém tira o direito de vocês, nem por lei, quem dirá por um acordo — declarou.
Bolsonaro não deu detalhes de como pode “descumprir” uma decisão firmada por uma empresa privada. O WhatsApp integra o Programa de Enfrentamento à Desinformação da Justiça Eleitoral, junto de outras empresas como Google, Twitter e Facebook. A iniciativa tem como foco a educação midiática, identificação e checagem de informações, aperfeiçoamento de recursos tecnológicos e outras medidas para tentar frear a disseminação de mentiras e ataques virtuais na eleição de outubro.
Em janeiro, O GLOBO mostrou que especialistas brasileiros demonstraram preocupação acerca da nova funcionalidade, ao serem procurados pela empresa, no mês anterior, para uma pesquisa de mercado. Segundo eles, o Comunidades pode turbinar a disseminação de notícias falsas e ataques virtuais, já que o aplicativo está presente em 99% dos smartphones no Brasil, segundo levantamento da Opinion Box, e figura como principal fonte de informação dos brasileiros, de acordo com pesquisa realizada pelo Congresso em 2019.
A circulação em massa de mensagens com conteúdos falsos, especialmente em ambientes fechados, como o WhatsApp, foi apontada como uma ameaça às eleições de 2018, o que levou autoridades a se mobilizarem para evitar o mesmo cenário este ano.
No julgamento da ação que pedia a cassação da chapa que uniu Bolsonaro e o vice, Hamilton Mourão, sob a acusação de disparos em massa, o ministro Alexandre de Moraes, que presidirá o TSE ao longo do processo eleitoral deste ano, foi direto ao tratar do assunto: “Se houver repetição do que foi feito em 2018, o registro será cassado, e as pessoas vão para a cadeia”.
Custo de R$ 1 milhão
Bolsonaro participa pela segunda vez de uma motociata na capital paulista. O presidente chegou por volta das 9h45, e colocou um capacete sem viseira e sem proteção para o maxilar — o que é proibido para motociclistas e pode render multa grave segundo o Código Brasileiro de Trânsito. O trajeto previsto, que saiu da capital em direção a Americana, deixa parte da Rodovia Bandeiras interditada até as 15h.
De acordo com a Secretaria de Segurança Pública, o evento vai custar R$ 1 milhão aos cofres públicos, e mobilizar 1.900 policiais militares. O esquema de segurança para o evento conta com 22 Bases Comunitárias Móveis, quatro drones, quatro cães e até mesmo três helicópteros Águia.
O governo federal gastou R$ 2,5 milhões em sete viagens nas quais o presidente Jair Bolsonaro fez passeios de motos com apoiadores, ao longo do ano passado. Os dados são dos gastos totais das viagens do presidente, e não apenas dos passeios em si. Geralmente, Bolsonaro combina as “motociatas” com algum evento oficial na cidade visitada. As informações foram apresentadas pelo gabinete pessoal de Bolsonaro via Lei de Acesso à Informação (LAI) em resposta a um pedido do GLOBO e envolvem “transporte terrestre, passagens, telefonia, diárias”. Os gastos são investigados pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
[Extra]
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