ELEIÇÕES
Cacique Ninawa junta povos para engrossar Bancada do Cocar no Congresso Nacional; “Parente vota em parente. O voto é nossa flecha”
Uma chácara na estrada de Porto Acre reuniu cerca de duas centenas de indígenas no último sábado, 20. Com os rostos pintados e ornamentados com cocares e miçangas, eles estavam participando do lançamento da candidatura à Câmara Federal do cacique Ninawa Huni Kuin, de 43 anos, uma liderança do movimento desde que seu povo era denominado kaxinawá, um equívoco linguístico que atacou e escondeu várias outras etnias desde a chegada dos seringueiros ao Acre. Presidente da Federação dos Povos Huni Kuin, seu grupo étnico reúne 17 mil pessoas espalhadas em 118 aldeias e 12 territórios.
“Não era para eu ser candidato, não preciso de um mandato para trabalhar pelo meu povo e por todos aqueles que estão passando por necessidades, mas minha candidatura foi uma articulação nacional, o movimento indígena tem que eleger uma bancada do cocar, temos que parar com o avanço do bolsonarismo sobre os territórios indígenas”, explicou Ninawa, candidato pela Rede Sustentabilidade, o partido da ex-senadora e ministra Marina Silva, que não veio ao evento.
O ato reuniu em sua maioria mulheres indígenas e jovens estudantes que fazem faculdade ou o ensino médio em Rio Branco. Só uma comitiva de Santa Rosa do Purus reuniu mais de 30 pessoas. De acordo com Ninawa, nas eleições de 2020 mais de 9 mil eleitores huni kuin foram às urnas elegendo cinco vereadores em Jordão, Santa Rosa e Feijó, além de dois vice-prefeitos. “Basta o eleitorado huni kuin para eleger um deputado, mas estamos contando com votos de outras etnias, pois não vou ser deputado só do meu povo e nem deputado indígena, vou ser deputado para todos os brasileiros”, argumentou ele.
O candidato a governador Nilson Euclides, da federação Psol-Rede Solidariedade também participou do evento, junto com o candidato a senador Sanderson Moura e outras lideranças da federação. No momento solene do evento os participantes de reuniram em círculo e se pronunciaram em defesa da candidatura. Nilson Euclides lembrou que o presidente Bolsonaro quando ainda era candidato avisou que não daria mais nenhum centímetro de terras aos indígenas. “Agora vocês vão dar a resposta e ocupar o Congresso Nacional”, exortou Nilson Euclides.
O ato foi coordenado pela assessora de Comunicação Mirna Rosário, integrante da Câmara Temática do Conselho Municipal de Cultura dos Povos Originários do Município de Rio Branco. “Parente vota em parente”, apregoava ela, lembrando que os indígenas precisam deixar de acreditar nas promessas dos outros candidatos e eleger um representante autêntico.
Vários outros líderes indígenas participaram do evento como o professor-doutor Joaquim Maná, único indígena que defendeu tese de doutorado em linguística na UnB (Universidade de Brasília). Maná fez um discurso no seu idioma nativo e em seguida traduziu. “Eles querem ocupar nossos territórios e destruir nossa cultura”, disse.
Sanderson disse que estará junto a Ninawa em 2023, na balança do Senado em Brasília. “Juntos nós vamos parar com este desmonte desta política de ataques à nossa cultura, nossa tradição”, disse o candidato. De acordo com Sanderson, o Acre não possui nenhum representante no Senado, porque os três senadores eleitos sequer sabem qual é a função do Senado. “Tanto não sabem que todos eles deixaram o cargo para concorrer às eleições para governador”, afirmou.
O cacique Ninawa, por sua vez, viajou ainda no sábado para Cruzeiro do Sul, de onde percorrerá todo o Vale do Juruá, até Foz do Breu, nesta semana. Vai buscar votos de seus parentes huni kuin, ashaninkas, shanenawas e outros povos originários daquela região.
[Assessoria]