Na série imprensa, Pitter Lucena homenageia Campos Pereira, “O rei da bola”

Era uma época em que o rádio ecoava os emocionantes relatos dos jogos de futebol, quando os heróis dos gramados ganhavam vida através das ondas sonoras. Entre os vibrantes narradores, um nome se destacava, reverenciado não só como um grande jornalista esportivo, mas também como um benfeitor do esporte e da cultura no Acre: Pedro Paulo Menezes de Campos Pereira, ou simplesmente, Campos Pereira, conhecido carinhosamente como Campito pelos amigos mais íntimos.

Conheci esse ícone do jornalismo esportivo em 1988, quando ambos trabalhávamos na TV Acre, uma das afiliadas da Rede Globo no estado. Enquanto eu era um humilde repórter, Campos Pereira já ostentava uma carreira consolidada e admirada. Sua genialidade transbordava tanto dentro das quatro linhas do gramado quanto fora delas. Ele não era apenas um jornalista; era um empreendedor de sucesso, um produtor de eventos e um apaixonado pela cultura.

Além de sua atuação nos meios de comunicação, Campos Pereira foi responsável por trazer ao Acre um jovem cantor pouco conhecido do grande público na época: Zezé di Camargo, em 1988. Zezé fez diversos shows na região, e, com o tempo, conquistou a fama nacional. Reconhecido e grato pelo impulso dado por Campito, o cantor presenteou-o com um carro zero quilômetro.

Campos Pereira era um personagem multifacetado. Seu coração era tão generoso quanto sua paixão pelo futebol. Ele sempre estava disposto a ajudar quem precisasse, chegando ao ponto de doar a própria roupa para alguém em necessidade. Natural de Rio Branco (AC), seu amor pelo futebol despertou ainda criança, e ele logo se tornou torcedor fervoroso do Fluminense, do SC Corinthians e do Rio Branco FC.

Sua jornada no mundo do futebol começou nos anos 1950, atuando na quarta zaga do América FC, extinta agremiação da capital acreana. Ao longo dos anos, brilhou nos gramados defendendo equipes como Rio Branco FC, Grêmio Atlético Sampaio (GAS), AC Juventus e Independência, encerrando sua carreira no Rio Branco FC em 1968. Sua força física e garra prevaleciam no campo de jogo, características que posteriormente também seriam evidentes em sua vida profissional.

Após encerrar a carreira de jogador, Campos Pereira trocou as chuteiras pelos microfones, mas sua paixão pelo futebol permaneceu intacta. Ao lado de outros grandes nomes, como Edmir Gadelha, Zé Lopes e José Xavante, ele transmitia os jogos na Rádio Difusora Acreana. A década de 1970 testemunhou a criação do primeiro programa esportivo do rádio acreano, o “Encontro com Esporte”, idealizado por Campos Pereira em parceria com Valdemar Canizo, Albertino Chaves, Delmiro Xavier, Joaquim Ferreira, Chico Pontes, Raimundo Fernandes, M. Costa e Antonio Carlos Batista.

O talento de Campos Pereira não se limitava apenas ao jornalismo esportivo. Ele também revelou talentos, abrindo portas para inúmeros atletas anônimos que, graças a ele, ganharam destaque na mídia. Além disso, foi um grande impulsionador do esporte amador no Acre, contribuindo para o desenvolvimento do pedestrianismo e do futebol de várzea através da criação de eventos como o Intercolonial, o Interbairro e a tradicional Corrida Sebastião Dantas.
Dois eventos marcantes criados por ele foram o “Torneio do Povo” e o “Torneio da Imprensa”. Campos Pereira também teve papel fundamental na criação da Associação dos Cronistas Esportivos do Acre e chegou a presidir a Federação Acreana de Desporto (atualmente Federação de Futebol do Acre) por quase dois anos.

Seu trabalho incansável e dedicado foi reconhecido e respeitado por todos, e sua influência também se estendeu a outras áreas, como a política e a polícia, onde ele fez coberturas memoráveis. Além disso, Campos Pereira foi o responsável pela criação do programa “Vigilante Andirá”, que transmitia notícias de grande relevância para a população.

Sempre dinâmico e prático, Campos Pereira buscava resolver os problemas de forma imediata, como quando promoveu um técnico de som a repórter na Rádio Difusora Acreana após a ausência de um profissional da notícia. Ele era como uma força motriz, sempre presente entre a multidão, organizando eventos e movimentando a cultura local.

Fotos: acervo do historiador e jornalista Manoel Façanha

Contudo, nem todas as suas empreitadas alcançaram o sucesso esperado. Na política, ele tentou obter uma cadeira na Câmara Municipal de Rio Branco, mas não obteve êxito, conquistando apenas 60 votos. No entanto, essa pequena derrota não diminuiu seu espírito solidário e compromisso com a sociedade.

Campos Pereira também deixou um legado no ciclismo do Acre. Em 1990, fundou a Federação Acreana de Ciclismo e, em diversas ocasiões, ajudou financeiramente os atletas para que pudessem participar de competições nacionais. Seu coração generoso sempre o motivava a estender a mão a quem precisasse.

Porém, a vida é efêmera, e em 27 de junho de 2004, o coração de Pedro Paulo Menezes de Campos Pereira parou de pulsar, vítima de um enfisema pulmonar. O esporte acreano perdeu um de seus grandes baluartes, mas seu legado continuaria a ecoar nas mentes e corações daqueles que o conheceram e se inspiraram em sua dedicação e paixão pelo esporte.

Hoje, Campos Pereira vive na memória de todos que compartilharam momentos inesquecíveis com ele nos gramados e nos estúdios de rádio. Seu nome permanece gravado na história do esporte no Acre como o Rei da Bola, aquele que driblou as dificuldades, marcou gols de solidariedade e fez de sua vida uma partida emocionante, repleta de amor pelo futebol e pelo próximo. E assim, ele se torna eterno nas lembranças daqueles que o admiraram e amaram, dentro e fora das quatro linhas.

Pitter Lucena – Jornalista e escritor