COLUNA DO PITTER LUCENA — A lucidez do absurdo no século 21

No tumulto caótico do século 21, em meio a um turbilhão de informações, paradoxos e eventos surrealistas, a lucidez do absurdo emerge como uma bússola incômoda que nos guia através das complexidades da realidade contemporânea. Nessa era de contradições gritantes, onde verdades e mentiras dançam um tango perigoso, a lucidez do absurdo torna-se um farol que ilumina os becos escuros da existência humana.

Em um mundo onde a tecnologia nos conecta, mas também nos aliena; onde a busca pela perfeição nos faz enxergar a beleza na imperfeição; onde a informação flui livremente, mas a desinformação prolifera como uma praga insidiosa, a lucidez do absurdo nos força a questionar, a refletir e a enxergar além da superfície.

Percorrendo os caminhos tortuosos da sociedade contemporânea, encontramos situações que desafiam a lógica e a razão. O absurdo se insinua sutilmente em nossas vidas, muitas vezes disfarçado de normalidade. É quando olhamos para o trânsito frenético das grandes cidades, onde carros se transformam em gaiolas metálicas, e percebemos que estamos presos em uma dança caótica e sem propósito aparente.

A lucidez do absurdo nos leva a questionar as instituições que regem nossas vidas. Políticos discursam sobre ética, enquanto escândalos de corrupção se multiplicam diante de nossos olhos. O mundo da política, antes um terreno fértil para o debate e a busca pelo bem comum, parece ter se tornado um teatro de sombras, onde personagens manipulam os fios invisíveis do poder.

No âmbito das relações sociais, a lucidez do absurdo se manifesta quando nos vemos cercados por conexões virtuais, mas incapazes de estabelecer laços reais. Sentimos a solidão mesmo estando conectados a uma miríade de pessoas através de telas brilhantes. O absurdo é palpável quando nos perdemos em um mar de selfies e likes, buscando validação externa em vez de uma conexão genuína com os outros.

Em meio a tudo isso, encontramos a lucidez do absurdo como um antídoto para a apatia e a conformidade. Ela nos desperta do torpor em que nos encontramos, nos incita a questionar o status quo e a buscar um significado mais profundo. Ela nos desafia a encontrar a beleza na contradição, a abraçar o caos e a abraçar a incerteza.

Talvez seja a lucidez do absurdo que nos impulsiona a criar arte, expressões que capturam a essência desse estranho mundo em que vivemos. Através da pintura, da música, da literatura e do teatro, podemos encontrar resquícios de significado em meio ao absurdo, oferecendo-nos um vislumbre de compreensão e transcendência.

Embora a lucidez do absurdo possa parecer desconcertante, ela é, de certa forma, uma dádiva. Ela nos desafia a questionar as estruturas e os sistemas que aceitamos como inevitáveis, incentivando-nos a imaginar um mundo diferente. Ela nos lembra que, em última análise, somos seres livres, capazes de moldar a realidade ao nosso redor.

Portanto, enquanto navegamos por essa era de absurdos, abracemos a lucidez que eles nos oferecem. Permitamo-nos questionar, explorar e encontrar beleza nos paradoxos. Pois é através da lucidez do absurdo que podemos descobrir a verdadeira essência da vida e moldar um futuro mais significativo e autêntico.

Pitter Lucena – Jornalista, escritor e editor literário