Atendimento Integrado ajuda crianças com TEA a superar seletividade alimentar

Camila Oliveira (*) 
Hilária Alcântara (**)
Paula Ananda (***)

Foto/Acervo Camila Sá

Uma experiência inovadora realizada em Maracanaú, Ceará, está transformando a vida de crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) que enfrentam dificuldades alimentares. A iniciativa envolve um atendimento compartilhado entre duas profissionais de Terapia Ocupacional e uma nutricionista, buscando melhorar a seletividade alimentar e a disfunção sensorial desses pacientes.

Os atendimentos, realizados de julho a dezembro de 2024, ocorreram semanalmente e intercalaram atividades que estimulam os sentidos da criança, como tato, olfato, paladar, visão, audição, vestibular, propriocepção e interocepção. Além disso, as mães receberam orientação para continuar os estímulos em casa, reforçando o progresso conquistado nas sessões.

Crianças com TEA frequentemente apresentam dificuldades sensoriais que afetam sua relação com os alimentos. O processamento sensorial alterado pode levar a reações exageradas ou, ao contrário, à falta de resposta a estímulos. Assim, alimentos de certas texturas, temperaturas ou sabores podem ser rejeitados, dificultando a diversificação da dieta e comprometendo a nutrição.

As terapeutas ocupacionais iniciaram o trabalho estimulando os diferentes aspectos sensoriais através do brincar simbólico, permitindo que a criança vivenciasse a interação com os alimentos de forma lúdica. A integração sensorial ajudou na organização das informações recebidas pelos sentidos, facilitando a aceitação gradual dos alimentos.

Durante os atendimentos, foram usados recursos como alimentos coloridos e com formatos divertidos (avião, flor), além de materiais como massinha, bolinhas de gel e amoeba, permitindo que a criança explorasse os diferentes estímulos de maneira natural e sem pressão. As profissionais de Terapia Ocupacional trabalharam a combinação gradativa dos sistemas sensoriais, enquanto a nutricionista orientou as estratégias para ampliar o repertório alimentar com base nas preferências individuais de cada paciente.

Os resultados foram animadores: houve redução da hipersensibilidade, ampliação do repertório alimentar e evolução cognitiva das crianças, que passaram a interagir melhor com os alimentos e a aceitar novas opções em suas dietas.

Os desafios enfrentados por crianças com TEA vão além da seleção alimentar: o ato de se alimentar também tem um forte componente social e emocional. Muitas crianças evitam permanecer sentadas durante as refeições, tornando o momento menos prazeroso para elas e para a família.

A terapia de Integração Sensorial mostrou-se eficaz ao permitir que as crianças modulassem seus sistemas sensoriais de forma segura. A estimulação olfativa antes do paladar, por exemplo, foi uma estratégia fundamental para preparar a aceitação de novos alimentos.

Para que a criança se sinta segura ao experimentar um novo alimento é essencial seguir um processo gradual: interagir com o alimento, observar, cheirar, tocar, explorar de forma lúdica, provar e, por fim, consumir. Com esse método, o momento da alimentação deixa de ser um desafio e passa a ser uma experiência positiva de aprendizado e descobertas.

A experiência em Maracanaú comprova que o atendimento multidisciplinar é um caminho promissor para melhorar a qualidade de vida de crianças com TEA e suas famílias. O trabalho em equipe entre terapeutas e nutricionista amplia as possibilidades de inclusão alimentar e social, promovendo bem-estar e desenvolvimento integral para esses pequenos.

Terapeuta Ocupacional (*) 
Terapeuta Ocupacional (**)
Nutricionista (***)