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RAIMUNDO FERREIRA

Professor Raimundo Ferreira vai no fundo do baú da memória buscar lembranças dos adjuntos, uma prática na zona rural

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ADJUNTO

Vamos relatar mais uma história pitoresca, que acontecia em plena floresta amazônica, nos seringais nativos, onde a solidariedade era praticada na forma da mais autêntica cooperação e os problemas eram resolvidos civilizadamente entre os trabalhadores seringueiros.
Todos os anos, a partir de maio, estendendo-se até junho, início do verão amazônico, os seringueiros se organizavam, convidavam os amigos da redondeza e promoviam as reuniões de trabalho, que se repetiam em várias localidades. No local onde iria acontecer o evento, o anfitrião já se preparava com vários tipos de comidas com animais domésticos e com carne de caça, incluindo-se um robusto porco capado, gordo, que já vinha sendo cevado há alguns meses.
Todos os participantes compareciam muito cedo da manhã, munidos de facões (terçados) afiados. Geralmente esse dia era sábado. Após saborearem um reforçado café da manhã, o popular quebra jejum, partiam para o local previamente escolhido pelo organizador da reunião e iniciavam a roçagem (limpeza) do terreno: corte raso da mata nativa, limpando onde seriam feitos os plantios, denominados de ‘roçado’.
Vale ressaltar que, após o corte dos arbustos menores, alguns dias depois, quando essa primeira limpeza já estava seca, acontecia a derrubada das árvores maiores, com a utilização de machados, pois, na época, não havia motosserra e algum tempo depois, quando toda a mata derrubada já se encontrava seca, aí era o momento de atear fogo, isso já em meados de agosto e início de setembro. Cumpridas essas etapas, era chegada a hora de plantar as sementes de milho, arroz, feijão, mandioca, jerimum, maxixe, cana de açúcar entre outros, que iriam produzir a lavoura de subsistência. Entre os seringueiros, essa atividade se repetia em várias localidades e era popularmente conhecida como ‘adjunto’.
Nos tempos atuais, essa prática é conhecida como mutirão. E para concluir, ou melhor, para o anfitrião agradecer e comemorar esses eventos, uma animada festa era oferecida aos convidados. Iniciava ao anoitecer e se estendia até ao nascer do sol do dia seguinte.
Como toda atividade organizada, as festas de adjunto tinham suas normas. Antes de iniciar a dança, o dono da casa pedia a palavra e solicitava que os homens entregassem as armas, geralmente facas peixeiras e também advertia às mulheres para não ‘dar canelada’, ou seja, não se recusarem a dançar, quando fossem convidadas (tiradas). A partir dai, ao som da sanfona, violão, zabumba, pandeiro e xeco xeco, o forró dava a partida e perdurava até o dia seguinte. Quem trabalhava durante o dia na roçagem, brincava e comia à vontade, mas quem aparecia somente à noite para usufruir da festa, era obrigado a pagar uma cota em dinheiro para auxiliar no pagamento dos músicos (tocadores). Para garantir a animação da festa no meio da selva, o estimulador vinha por conta de uns goles de cachaça, que os homens traziam e camuflavam na mata em locais próximos, os populares ‘barreiros’. De vez em quando, iam lá com os amigos mais chegados para uma golada na pinga.
Conforme descreve a letra da música de Luiz Gonzaga, “nessa brincadeira, vai a noite inteira, mulherada cochicando e homem pensando besteira”.

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