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Arroz: entenda a polêmica que causou anulação do leilão de importação e demissão no governo

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  • O governo anulou o leilão para compra de 263 mil toneladas de arroz importado ocorrido na quinta-feira (6).
  • Um dos motivos foram indícios de incapacidade técnica e financeira por parte de algumas empresas vencedoras do processo.
  • Essas companhias – que não têm histórico de atuação na importação de grãos – receberiam recursos do governo para comprar arroz e entregariam o produto em unidades da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
  • Uma delas é uma loja de queijos que arrematou R$ 736 milhões no leilão e que alterou, no site da Receita Federal, o seu capital social de R$ 80 mil para R$ 5 milhões dias antes do evento.
  • Outro motivo foi a participação de um ex-assessor parlamentar do secretário de Política Agrícola, Neri Geller, o advogado Robson Luiz de Almeida França. Ele é dono da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e da Foco Corretora de Grãos, que intermediaram a venda de 44% de arroz no leilão.
  • Por causa dessa ligação entre Geller e França, parlamentares de oposição ao governo e associações de produtores apontaram que houve favorecimento à empresa do ex-assessor.
  • O ex-assessor nega que tenha tido vantagem indevida no processo. “Não tem impedimento nenhum de eu ser presidente de uma bolsa de mercadoria, de eu ser dono de uma corretora por eu ter trabalhado com um parlamentar”, disse França.
Arroz — Foto: Reprodução/Freepik
1 de 1 Arroz — Foto: Reprodução/Freepik

Arroz — Foto: Reprodução/Freepik

leilão de importação de 263 mil toneladas de arroz foi anulado pelo governo federal nesta terça-feira (11) após indícios de incapacidade técnica e financeira de algumas empresas vencedoras. O governo pretende fazer um novo leilão.

O evento também tem sido criticado pelo fato de um ex-assessor parlamentar do secretário de Política Agrícola, Neri Geller, ter intermediado a venda de 44% de arroz no leilão. Por causa disso, o Ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, disse na terça que Geller havia deixado o cargo à disposição. No entanto, portaria publicada na madrugada desta quarta-feira (12) indica que a exoneração partiu do próprio governo.

Oposição e associações de produtores alegam que houve favorecimento do ex-assessor de Geller, Robson Luiz de Almeida França, que nega as acusações (entenda abaixo).

Em relação à capacidade técnica das vencedoras, o que se tem apontado é que três das quatro vencedoras não são do ramo de arroz ou de importação, o que, segundo analistas de mercado, poderia gerar problemas na operação. Essas empresas receberiam recursos do governo para importar e entregariam o produto em unidades da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).

Por outro lado, nenhuma companhia tradicional participou do leilão, segundo uma das bolsas que operou a negociação (veja detalhes abaixo).

A Conab explicou que, no atual modelo de leilão, a estatal só fica sabendo quem são as empresas vencedoras após os resultados da operação. Isso porque quem intermedia as negociações são as bolsas de cereais.

O arroz seria vendido em pacotes de 5 quilos por um preço tabelado de R$ 20 e teria o rótulo do governo. Nos supermercados de SP, o pacote de 5 quilos tem sido vendido, em média, por R$ 30.

O governo decidiu importar arroz poucos dias depois do início das enchentes no Rio Grande do Sul para evitar alta nos preços do alimento, diante da dificuldade pela qual o estado passava para transportar o grão para o restante do país.

A decisão contrariou os produtores, que têm afirmado que há arroz suficiente para abastecer o Brasil. O RS é responsável por 70% da produção nacional do grão e já havia colhido 80% do cereal antes das inundações.

Entenda a seguir as duas principais polêmicas do leilão que envolvem:

Sobre as empresas vencedoras…

  • Três das quatro empresas que venceram o leilão não são do ramo de arroz e de importação grãos. Essas são a Icefruit, uma fábrica de polpas de frutas de SP; a Wisley A de Souza Ltda, uma loja de queijos de Macapá (AP); e a ASR Locação de Veículos e Máquinas, de Brasília;
  • Todas, no entanto, têm como atividade secundária o comércio de produtos alimentícios;
  • Por outro lado, nenhuma empresa tradicional participou do leilão, disse o dono da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) Robson Luiz de Almeida França;
  • Em relação às empresas vencedoras, uma das principais polêmicas envolve a loja de queijos, que arrematou R$ 736 milhões no leilão, e que alterou, no site da Receita Federal, o seu capital social de R$ 80 mil para R$ 5 milhões dias antes do evento;
  • “O aumento da Wisley A de Sousa Ltda foi feito em função de seu plano de expansão”, disse a empresa ao g1. A reportagem questionou qual seria esse plano de expansão. A companhia não respondeu a esta última pergunta;
  • A Wisley disse ainda que tem “mais de 17 anos de experiência no comércio atacadista, na armazenagem e na distribuição de produtos alimentícios” e que teve um faturamento de mais de R$ 60 milhões em 2023 (veja nota completa ao final da reportagem);
  • O g1 também procurou o dono da locadora de veículos ASR, Crispiniano Espindola Wanderley, que reforçou que a empresa também atua no comércio de alimentos e que quer aumentar a sua participação em leilões públicos;
  • “Temos experiência em participar de leilões do governo federal através da bolsa, fomos ganhadores do leilão realizado pela Conab em dezembro do ano passado”, disse Wanderley. Na ocasião, eles entregaram 211 mil sacas de milho para a Bahia;
  • “As pequenas empresas que ganharam o leilão foram surpreendidas. A gente não acreditava que iria ganhar. Eu acredito que houve um boicote do agronegócio porque as grandes empresas de importação do setor não participaram do leilão”, ressaltou Wanderley;
  • g1 procurou grandes empresas que atuam no mercado de grãos, como a Camil, a Josapar, Bunge, ADM, Cargill e a Dreyfus para saber se essas companhias importam arroz e se cogitaram em participar do leilão. A Cargill e a Bunge disseram que não comercializam arroz. Já as demais companhias não responderam até a última atualização desta reportagem;
  • Em nota, a Icefruit disse que cumpriu todas as regras do leilão previstas pelas bolsas de cereais, que está há 22 anos no mercado e que é certificada pela agência federal norte-americana, Food and Drug Administration (FDA) (veja nota completa ao final da reportagem).
  • Uma outra empresa que venceu o leilão foi a Zafira Trading, que é mais conhecida no mercado de importação. A companhia não respondeu a um pedido de entrevista do g1;
  • Na avaliação de Carlos Cogo, sócio-diretor da Cogo Inteligência em Agronegócio, a participação de empresas desconhecidas numa operação de importação em grandes volumes poderia gerar problemas. Segundo ele, elas teriam lucro se conseguissem comprar arroz de outros países a um preço mais barato do que o da venda ao governo. “Só que não conheciam o mercado e isso era praticamente impossível”, disse;
  • A Wisley, ASR e Icefruit disseram que têm capacidade financeira e estrutural de realizar a operação;
  • A Icefruit destacou que para atender à demanda do leilão “contou com fornecedores internacionais de alta qualificação e capacidade de empacotamento, sendo a logística de distribuição interna uma atividade cotidiana” da companhia.

Sobre a relação de Neri Geller…

  • Outra polêmica do leilão envolve o secretário de Política Agrícola do Ministério da Agricultura, Neri Geller, que foi exonerado do cargo nesta quarta-feira;
  • Seu ex-assessor parlamentar, o advogado Robson Luiz de Almeida França, é dono da Bolsa de Mercadorias de Mato Grosso (BMT) e da Foco Corretora de Grãos, que intermediaram a venda de 44% de arroz no leilão;
  • Ele também é sócio de Marcello Geller, filho do secretário, em outras empresas;
  • Por causa dessa ligação, oposição e associações de produtores apontam que houve favorecimento da empresa de França;
  • Em entrevista ao g1, o advogado disse que trabalhou com o Neri até meados de 2020 e que “de lá para a frente” foi tocar outros projetos. “Nesse meio tempo, surgiu a oportunidade de criar uma bolsa de mercadorias no estado do Mato Grosso. Eu sou advogado, tenho clientes na área do agronegócio e vi uma necessidade do estado de ter uma representatividade no governo federal”;
  • “Não tem relação nenhuma a criação da bolsa de mercadoria com o período que eu trabalhei com o Neri”, disse França. A bolsa de MT foi criada em 2023.
  • “Não tem impedimento nenhum de eu ser presidente de uma bolsa de mercadoria, de eu ser dono de uma corretora por eu ter trabalhado com um parlamentar”, acrescentou.
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