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ARTIGO | Posso te contar uma história? Vem comigo ver os 92 anos do Palácio das Secretarias

Publicado

em

Por Suellen Medeiros Agência AC

A vida é feita de histórias.

Histórias que são relatadas por fotos antigas, documentos, relatos do próprio povo que vão se estendendo de geração em geração. Tudo tem uma história, até a mais simples pedrinha que você vê foi deslocada do seu local de origem e teve seu trajeto modificado inúmeras vezes até chegar ali. Com o prédio da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão não foi diferente. Para chegar até essa estrutura moderna, na qual se encontra hoje, ocorreram várias mudanças em sua estrutura e no público atendido.

Na década de 20, quando o estado ainda era “o Território do Acre”, esse prédio era apenas uma grande casa de madeira onde funcionou por vários anos o Grupo Escolar 7 de Setembro, uma escola de ensino fundamental, onde a maioria de seus alunos precisava atravessar o Rio Acre em uma catraia para chegar ao seu destino. O grupo escolar foi uns dos primeiros a ser criado e só fechou suas portas depois que uma tragédia comoveu toda a comunidade. Uma das professoras do lugar, a mais querida dos alunos, foi assassinada na frente da escola por um ex-presidiário que se apaixonou pela mesma e não teve seus sentimentos recíprocos. A população conta que o choque foi tão grande e a repercussão tão intensa que ninguém queria estudar ou trabalhar mais no lugar. Assim, o casarão de madeira deixou de ser o Grupo Escolar 7 de setembro.

Em pouco tempo, nessa estrutura passou a funcionar o Departamento de Obras e Viação (DOV), o que agilizou bastante a conclusão das diversas construções ao redor do Palácio Rio Branco, na época. O Fórum de Rio Branco e a Assembleia Legislativa são apenas alguns exemplos. A cidade vinha crescendo rapidamente no decorrer dos anos: ruas sendo pavimentadas, prédios erguidos e a necessidade de trazer para mais perto desses grandes núcleos as secretarias do Estado.

Após o fechamento do Grupo Escolar, a estrutura foi aproveitada para a primeira sede da Secretaria de Obras. Foto: Arquivo Museu da Borracha, digitalizado pelo Patrimônio da FEM.

A capital do estado estava se desenvolvendo e, com o passar dos anos, todos os órgãos importantes, tanto da administração direta como indireta, passaram a funcionar, também, próximos ao Palácio Rio Branco. A partir desse momento a região passou a se chamar o “Centro da Cidade”.

E foi nesse ápice de desenvolvimento que a antiga casa de madeira que abrigou o Grupo Escolar 7 de Setembro e o Departamento de Obras e Viação foi demolida para dar espaço à construção de um prédio moderno e espaçoso para a década de 70. No início, o local foi nomeado como “Palácio Coronel Fontenelle de Castro”, governador do território acreano, tendo ocupado o cargo de 10 de outubro de 1958 a 18 de março de 1961. A partir desse momento,  todas as secretarias do Estado passaram a funcionar no local, entre elas a Secretaria de Obras e Serviços Públicos, a Secretaria de Educação, a Secretaria de Saúde, a Secretaria de Administração, e outras. Foi por esse motivo que a população passou a chamar o prédio de “Palácio das Secretarias”, e posteriormente o nome foi alterado e mantido com tal.

Primeira estrutura do então Palácio das Secretarias, moderna para a época em que foi construído. Foto: Acervo Museu da Borracha, digitalizado pelo Patrimônio da FEM.

Com o passar dos anos, o número de funcionários e o fluxo de pessoas buscando atendimento foi aumentando, fazendo com que, aos poucos, várias secretarias tivessem sua sede própria, o que não diminui a quantidade de servidores e nem do serviço oferecido, já que, conforme o estado ia se desenvolvendo, as demandas das secretarias que ali funcionavam também seguiam o mesmo ritmo. O grande problema era que as acomodações do local já não eram tão modernas como no início.

Os servidores mais antigos contam sobre as fiações inadequadas e das diversas vezes que o prédio ia pegando fogo. Relatam também que sentiam as estruturas balançarem e tinham medo de que tudo caísse por sobre suas cabeças. Claro que esses fatos causavam sempre correria e tumulto pelos corredores e escadas, com funcionários nervosos e receosos para voltar ao trabalho. Sem esquecer dos roedores e insetos que vinham das ruas e invadiam as salas do subsolo, causando transtornos para uns e pânico para outros.

Mas, se não bastasse tudo isso, ainda havia as acomodações inadequadas, a falta de materiais e móveis de escritório, as péssimas condições das instalações e um ambiente nada acolhedor.

Em 2002, na gestão do então governador Jorge Viana, o Palácio das Secretarias foi comtemplado com a primeira reforma. O prédio recebeu alguns reparos e uma nova pintura, o que melhorou a qualidade do trabalho e de atendimento. Porém, o tempo foi passando e como não houve mais reparos o prédio passou a apresentar não apenas os problemas antigos, como também goteiras, rachaduras, parte do gesso havia caído do teto do hall de entrada e existia o problema dos moradores de rua que usavam a secretaria de abrigo para ‘tirar o sono dos justos’ a qualquer hora do dia ou da noite.

Após a reforma em 2002. Foto: Acervo Seplag

Novamente, os servidores passaram a não possuir segurança no ambiente de trabalho, sentiam-se desvalorizados e desmotivados, já que muitos consideram o Palácio da Secretaria sua segunda casa, onde passam a maior parte do dia entre colegas de trabalho e os ofícios a serem exercidos. Em 2017, apenas as secretarias de Gestão Administrativa, Planejamento e Segurança Pública funcionavam no local e, mesmo assim, os transtornos continuavam a assolar não apenas servidores, mas a população em geral.

Em 2019, a Lei Complementar nº 359 permitiu a fusão das secretarias de Planejamento e de Gestão Administrativa. Foi nesse momento que o Palácio das Secretarias passou a se chamar “Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão” (Seplag).

Desde então, surgiu a necessidade da criação de núcleos específicos. Para atender a nova demanda, era preciso realizar a reforma e a readequação física da estrutura dos ambientes da secretaria. E foi justamente para dar comodidade, conforto e inovação no serviço público que, no ano de 2020, o governador Gladson Cameli assinou a ordem de serviço para a execução da obra de manutenção do prédio do Palácio das Secretarias.

Todo o lugar recebeu o investimento de 5 milhões e, com a reforma, foi oferecido um ambiente com instalações modernas e adequadas para o desempenho das atividades realizadas, beneficiando não apenas servidores, mas os usuários do sistema público.

Em 2020, a maior reforma pela qual o prédio já passou foi iniciada, financiada com recursos do BID, pelo Programa PDSA. Foto: Acervo Seplag.

O novo reformado prédio da Seplag foi inaugurado no dia 27 de outubro de 2021, um dia antes da data em que se comemora o dia do servidor público. Um presente para todos eles, que esperavam por esse momento com ansiedade e alegria, pois devido a reforma ocorreu a necessidade de mudar-se para o antigo prédio da Defensoria Pública do Estado do Acre.

A reestruturação incluiu a redistribuição do espaço interno no prédio, revisão da instalação elétrica, manutenção da cobertura e alterações na fachada, além de outros reforços estruturais. Os recursos são provenientes do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), atrelado ao Programa de Desenvolvimento Sustentável do Acre (PDSA) II. A obra foi fiscalizada pela Secretaria de Estado de Infraestrutura (Seinfra).

Iniciadas ao final do ano passado, as obras de reforma e readequação do antigo prédio do Palácio das Secretarias foram concluídas em outubro de 2021. Foto: Cedida.

A inauguração do antigo “Palácio das Secretárias” foi um marco para todos que participaram do evento. Exposição de fotos antigas da história do prédio, bandas de música, homenagens e uma grande solenidade com a participação do governador Gladson Cameli, o secretário da Seplag, coronel Ricardo Brandão, e demais autoridades do governo. Os comentários pelos novos corredores da Secretaria de Estado de Planejamento e Gestão é que agora passaram para uma era de modernização, com um ambiente de trabalho limpo, espaçoso, bem estruturado e que, com certeza, não vai mais balançar como nos tempos passados.

*Suellen Medeiros é formada em Comunicação Social com habilitação em Jornalismo e em Artes Cênicas. É servidora pública e atua no cargo de Técnica em Gestão. É atriz desde os sete anos de idade, dramaturga, contadora de histórias e lidera um trabalho nos hospitais, chamado “Conto com Amor”, levando várias manifestações artísticas como uma forma de trazer alegria aquele ambiente, às pessoas que precisam de atendimento e aos profissionais que lá atuam. Já publicou vários livros, entre eles romances e obras voltadas à literatura infantil.

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