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EZIO GAMA

COLUNA DO EZIO | A era da pós verdade: a guerra de narrativas e a desinformação

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As notícias falsas, ou Fake News, não são um fenômeno moderno. Tanto na idade antiga, idade média e idade moderna, notícias falsas eram disseminadas para efeito de alteração da percepção coletiva e individual.

O historiador Marc Bloch, durante a primeira guerra mundial, escreveu sobre as notícias falsas que circulavam entre os alemães, principalmente em relação dos tratamentos dos soldados contra seus inimigos franceses. “Como nascem, como se propagam?” Pergunta. De “uma percepção inexata ou, melhor ainda, uma percepção inexatamente interpretada”, responde. Ele fala exatamente de um conceito de psicologia da testemunha, em que, tanto a psicologia individual, quanto a coletiva pode ser afetada pela imprecisão e percepções distorcidas.

Segundo ele, o erro só se propaga numa sociedade quando encontra nela as condições favoráveis para sua disseminação. E inconscientemente, as pessoas expressam seus medos, seus preconceitos e seu ódio. Isso se dá no inconsciente coletivo, com o poder de transformar distorções em aparente verdade na sociedade.

Na própria Bíblia, a Torá dos judeus, já declara nos conhecidos Dez Mandamentos, “Não dirás falso testemunho”. Também, pela boca de “duas ou três testemunhas” toda acusação deve ser considerada, além de testada a idoneidade das testemunhas. Num mesmo sentido disse o mestre Yeshua (Jesus). Ele ratificou que, onde tivesse duas ou três testemunhas presentes, ele estaria no meio. Ou seja, ele daria o veredito, atestando as decisões como verdade concreta. E não existe arma contra a verdade.

O próprio julgamento do Mestre estava contaminado por falsas notícias e falsas acusações, de vários lados. Quando ele falou com Pilatos e usou o termo “verdade”, Pilatos questionou: “o que é a verdade?”. Diante de um julgamento, o que se esperaria seria os fatos e nada mais que a verdade. Para Pilatos talvez não. Porém, ali só tinha testemunhas de acusações falsas e não testemunhas de defesa, principalmente em defesa da verdade. Mas, de que adiantaria o Mestre responder sobre a verdade, se Pilatos estava predisposto a “lavar as mãos”, relativizando os fatos em prol de sua isenção de responsabilidade? Por isso, a história o julga como um dos maiores “isentões” da história.

O poder da palavra falada e escrita pode destruir uma nação inteira. Assim, tem sido a guerra de dados e de informações. A verdade tem sido negociada e violentada pelas agências governamentais de muitos países. A guerra de narrativas é uma guerra cultural, em que vence quem tem o controle da informação, mesmo que seja manipulada.

A expansão tecnológica e o fluxo rápido de informações têm criado uma indústria da desinformação ou das Fake News. Muitos lucram, não só com falsas notícias, como com a desinformação. Outro fator gerador de lucros são as grandes empresas, através da venda e disseminação de dados pessoas dos usuários, com seus gostos e preferências detectados pelos algoritmos: a chamada economia de vigilância.  Os dados que deixamos nas redes são negociados sem o nosso consentimento e a produção de bens e serviços segue a lógica de novas “formas de modificação de comportamento”. Uma verdadeira arquitetura digital.

Agora, a mentira política, no contexto de transição entre o século 20 e século 21 sim é um fenômeno a ser considerado como subproduto de ideologias e da manipulação da mídia. A grande mídia e seus conglomerados estão aliados aos políticos e poderosos detentores do poder e que não importa mais o compromisso com a verdade. Se dobram e se vendem aos financistas de suas estruturas. Para isso, não se importam se manipulam os dados, distorcem as informações e fazer recortes do que interessa mostrar, para criar a narrativa correta e moldar o pensamento da população.  

Por outro lado, muitos são mais propensos a notícias falsas por descontentamento com o globalismo. Se tornam presas fáceis de teorias da conspiração e muitos disseminam notícias falsas somente para criar ou manter essa polarização política em defesa de suas crenças.

A pós-verdade pode ser caracterizada como um fenômeno em que acreditar em informações, conceitos e notícias baseadas mais em suas emoções e crenças do que em fatos, muitas vezes negando-o. Uma “Era”, segundo Eric Hobsbawm, era um momento histórico marcado por rápidas e drásticas mudanças em que as sociedades se veem perdidas, sem saber como se portar diante dos desafios de seu presente histórico. É um tempo em que a verdade vem recheada de mentiras, ou meias-verdades, falsificadas ou manipuladas pelos experts em comunicação e psicologia social.

Então, qual seria o caminho para evitar cair numa fake News? E qual o caminho para não cair nas garras de uma relativização moral da informação no período do pós-verdade? Em primeiro, analisar apenas o relato de fatos e eventos ocorridos, numa postura de distanciamento em relação ao objeto investigado, em que a pessoa poderia agir com neutralidade e imparcialidade diante dos acontecimentos históricos. Outra postura seria a de não se deixar levar pelas paixões inflames das ideologias ou preferências pessoais. Pois, esse apego cego a um extremo seria muito propício para absorver falsas informações, pois é mais fácil acreditar em notícias que se alinham com o que você já acredita. Em terceiro, não duvide, mas questione, busque as fontes e pergunte de onde veio isso? Em quarto, não passe adiante sem uma comprovação prévia. Cheque outras fontes que sejam mais neutralidade e passem mais confiança. E, por fim, defenda seus princípios e valores, da integridade e da verdade, pois, por cada palavra frívola que dissermos seremos julgados na mesma medida.

Ezio Gama – Sociólogo e escreve sobre geopolítica.

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