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EZIO GAMA

Ezio Gama | A Copa no Catar e a geopolítica do esporte

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O amor ao futebol e ao esporte conecta povos e nações. Seria um momento singular para a promoção da paz. No entanto, não é simples assim.

A Fifa vem negociando a Copa do Catar e impondo uma série de exigências, muitas delas em relação à legislação trabalhista do país. Após oito anos de trabalho conjunto com a Fifa, em 2020, o Catar aprovou a lei do salário mínimo e removeu alguns obstáculos à mudança de um emprego, principalmente em relação ao trabalhador estrangeiro.

A Fifa, na pessoa do presidente Giovanni Infantino, negocia com o Catar, não somente os calendários esportivos e os lucros na Copa, mas principalmente questões de progresso social, em busca de uma moderna legislação trabalhista no país, como também em outros países do Golfo. Há uma forte interferência em questões internas que só o futebol tem conseguido de forma mais rápida.

Em junho de 2017, os saudistas lideraram um bloqueio econômico ao Catar, acusado de financiar o terrorismo, levando Emirados Árabes Unidos, Bahrein e Egito a também cortarem relações com Doha. Isso durou até 2020, quando finalmente fizeram um acordo razoável entre ambos.

Por outro lado, existe questões geopolíticas históricas travadas nas entrelinhas da Copa de 2022 em outro aspecto. A Copa está sendo realizada em um país muçulmano que não mantém relações diplomáticas com Israel, dentre outras proibições em relação a homossexualidade, mulheres e álcool. Além da presença de torcedores do Irã, inimigo regional de Israel, que se faz presente e sem temor de expor seu ódio contra Israel. 

Segundo o Ministério das Relações Exteriores de Israel, os israelenses que viajassem para o Catar deveriam esconder ou evitar de usar bandeiras israelenses e símbolos como estrelas de David.

No jogo de abertura, entre Catar e Equador, chefes de estado que até outro dia eram inimigos, viraram amigos de conveniência. Já os marroquinos tremulavam uma bandeira da Palestina. Os torcedores levaram faixas escrito “Palestina Livre”. Os emblemas palestinos apareciam nos ombros das pessoas, em lenços, em camisetas. Os israelenses se sentiram ultrajados, o que esse tipo de “guerra fria” desperta mais tensão ainda.

O lado positivo foi que foi que a FIFA anunciou um acordo para que torcedores israelenses pudessem viajar ao Catar para a Copa do Mundo sem precisar de visto. Foi autorizado para a Copa o primeiro voo comercial direto de Israel para o Catar. O voo contou com torcedores israelenses e palestinos. Os passageiros receberam bilhetes impressos com as palavras “fazendo história” em hebraico, inglês e árabe.

As relações internacionais passam por muitos embates e no momento de uma Copa esportiva seria o período ideal para demonstrar que todos somos “uma grande família” povoando o planeta. Somos todos, de certa forma, “irmãos”. As separações seriam apenas geográficas, política, linguística e cultural. A solidariedade universal, a cooperação internacional, os direitos universais e a tão sonhada paz mundial ainda estão longe de ser consolidados e se tornar uma realidade efetiva.

O que vemos ainda é uma verdadeira torre de Babel, com cada império buscando dominância. Se separam e fazem guerra, mesmo que seja uma guerra fira (não tão fria assim), para ameaçar com ódio, armas e bombas.

O que vemos é que, mesmo em escala micro, nem mesmo o futebol e uma copa do mundo escapa de manifestações de ódio e separação. O que o mundo precisa é de mais espírito esportivo e menos temor de ameaças contra um inimigo irmão.

Ezio Gama é sociólogo e escreve sobre geopolítica.

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