Paulo reprovaria evangelismo de carnaval, diz Nicodemus

A polêmica em torno da presença de evangélicos no Carnaval de 2025 ganhou destaque após a Oitava Igreja Presbiteriana de Belo Horizonte realizar uma ação evangelística e um desfile de blocos na capital mineira. O debate se intensificou após o pastor e teólogo reformado Augustus Nicodemus Lopes manifestar-se publicamente sobre o tema, citando o apóstolo Paulo como referência para sua crítica à iniciativa.

Sem mencionar diretamente a ação da igreja mineira, Nicodemus utilizou sua conta na rede social X para expressar sua posição teológica, afirmando que iniciativas de evangelismo em eventos carnavalescos poderiam configurar uma desobediência às Escrituras. Em sua argumentação, o pastor citou 1 Coríntios 10.20-21, enfatizando a proibição paulina à participação em festivais pagãos, mesmo que a intenção fosse evangelística:

“Se seguirmos a postura de Paulo, que proibia participar de festivais pagãos mesmo com boas intenções (1Co 10.20-21), os crentes que vão ao Carnaval para evangelizar estariam em desacordo com esse princípio. Para Paulo, a separação do pecado e a pureza do testemunho superam a estratégia de se misturar ao ambiente pecaminoso.”

A crítica de Nicodemus reflete um entendimento teológico que enfatiza a separação do cristão do contexto de festividades seculares que possam comprometer o testemunho da fé. Essa não foi a primeira vez que o pastor se posicionou contra o evangelismo no Carnaval. Em ocasiões anteriores, ele já havia comparado essa prática a servir “sopa no penico”, sugerindo que o ambiente comprometeria a mensagem transmitida.

Na sequência, o pastor publicou outro comentário abordando o princípio da fidelidade na pregação do Evangelho, contestando a ideia de que qualquer método seria válido para anunciar Cristo. Ele citou Filipenses 1.18, um versículo frequentemente usado para justificar diferentes abordagens evangelísticas, argumentando que seu contexto não permite interpretação ampla:

“Vale tudo para pregar a Cristo? Fp 1:18 não justifica métodos mundanos na pregação do evangelho. Paulo se alegrava porque, mesmo em meio à oposição, Cristo era anunciado—não porque qualquer meio fosse válido. Ele jamais aprovaria pregações motivadas por lucro ou vaidade (2Co 2:17; 4:2). O evangelho deve ser pregado com sinceridade e fidelidade, não como mercadoria. Texto fora de contexto é pretexto para o erro.”

Atualmente à frente da Esperança Bible Presbyterian Church, em Orlando, na Flórida (EUA), Nicodemus tem sido uma voz influente no meio reformado e conservador, frequentemente abordando temas relacionados à ortodoxia doutrinária e à prática cristã. Seu posicionamento sobre o evangelismo no Carnaval gerou reações variadas, reacendendo um debate recorrente entre evangélicos sobre a relação entre a igreja e a cultura popular.

A controvérsia levanta uma questão teológica e missiológica amplamente discutida: até que ponto a igreja deve se engajar em eventos seculares na tentativa de alcançar pessoas com a mensagem do Evangelho? Enquanto alguns defendem que a presença em ambientes festivos pode ser uma estratégia válida, outros alertam para os riscos de comprometimento do testemunho cristão.

O episódio reflete um debate mais amplo dentro da igreja evangélica brasileira, que se intensifica especialmente durante o período carnavalesco, quando diferentes grupos adotam abordagens distintas para a evangelização.