Artigo do Zé Américo: Quando as pessoas vivem na miséria, a sobrevivência se torna prioridade e a preservação ambiental vira um luxo inalcançável

Por José Américo Silva

O Dia Mundial da Água, comemorado anualmente em 22 de março, é uma data que nos convida à reflexão sobre a importância desse recurso essencial para a vida. A Amazônia, considerada o pulmão do planeta, é uma das regiões mais ricas em água doce do mundo. No entanto, paradoxalmente, milhões de pessoas que vivem na região sofrem com a falta de acesso à água potável, saneamento básico, educação e saúde. Essa realidade levanta uma questão fundamental: para garantir a preservação ambiental, é imprescindível priorizar o bem-estar humano.

A realização da COP30 em Belém do Pará na Amazônia é uma oportunidade única para discutir soluções que não apenas protejam o meio ambiente, mas também promovam qualidade de vida para a população local. Atualmente, várias cidades da Amazônia enfrentam alagações e inundações provocadas pelo grande índice pluviométrico da estação chuvosa. Essas mesmas cidades enfrentam severa estiagem durante outros meses do ano.

Rio Branco, capital do Acre, tem, no momento, mais de 30 mil desabrigados e está sob decreto de calamidade pública, alojando famílias inteiras em escolas e abrigos construídos pela prefeitura. A população afetada, em sua maioria, sofre por ocupar áreas de influência natural dos rios e igarapés, destruindo a mata ciliar e construindo casas nas margens desses mananciais. A falta de oportunidades econômicas e sociais na região impulsiona o desmatamento e a exploração predatória dos recursos naturais.

Fala-se em um bilionário Fundo Climático, mas pouco se sabe para onde esses recursos serão destinados e como serão aplicados. Pelo que sabemos até agora, nenhum município terá acesso direto a esses recursos, mesmo sendo nos municípios onde vivem as pessoas. É lá que parte desses recursos bilionários deve chegar e ser aplicada. Quando as pessoas vivem na miséria, a sobrevivência se torna prioridade absoluta, e a preservação ambiental passa a ser um luxo inalcançável.

Investir em educação, saúde, saneamento e oportunidades de emprego é essencial para transformar essa realidade. Uma população informada e economicamente segura tem melhores condições de adotar práticas sustentáveis e proteger o meio ambiente. É necessário que políticas públicas sejam voltadas para o desenvolvimento socioeconômico da região, garantindo que seus habitantes não precisem recorrer a atividades nocivas para garantir sua sobrevivência.

O Dia Mundial da Água nos lembra que preservar os recursos hídricos é um desafio global que não pode ser dissociado do bem-estar humano. Não há sustentabilidade ambiental sem justiça social. A Amazônia precisa ser cuidada, mas, antes de tudo, seus habitantes precisam ser valorizados, incluídos e apoiados. Somente dessa forma, garantiremos um futuro equilibrado e próspero para toda a humanidade.