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GERAL

Cruzeiro festeja em 2024 os cem anos da professora Fátima, responsável pela alfabetização de um grupo de garotos que, hoje, produzem o maior PIB do Acre

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Eré Hidson, especial para o Acrenews

Filha de Mamed Cameli, um prodígio em negócios como regatão e seringalista, e de Francisca Ferreira Cameli, dona de casa, a professora Fátima Camely de Messias nasceu em 15 de abril de 1924. Casou-se com Rubens Carneiro de Messsias, próspero comerciante, relação que gerou os filhos Francisco Camely Messias, comerciante;
Engracia Camely Messias, professora;
Maria Elvira Camely Messias, aposentada;
Zuleide Camely Messias, empresária; e Zilmar Camely Messias, bancária e empresária.
Começou a lecionar aos 29 anos, exatamente no seringal Porto Said, atualmente território de Porto Walter.
Destacam-se como seus primeiros alunos exatamente seus sobrinhos, entre os quais o ex-governador Orleir Messias Cameli (in memorian);
Francisco Cameli, o “Chiquinho” (in memorian);
Eládio Cameli, empresário; Engracia Camely, professora que foi inspetora de ensino; e
Pedro Barbosa Viga, empresário.
A professora Fátima Camely trabalhou aproximadamente 45 anos de muita dedicação e louvor.

Para o filho Francisco Messias, o “Chiquinho do Rubens”, seu legado perpassa as fronteiras da educação que foi sua grande marca registrada. Também foi uma excelente mãe, uma exemplar esposa e uma filha que desde muito cedo ajudou seu pai Mamed, na contabilidade no Seringal, uma espécie de guarda-livro. “Meu avô não queria que a mamãe saísse do seringal, porque ela ajudava muito ele e nao tinha custo pra ele”, conta a nossa reportagem.
Além de dar aulas regulares, ainda encontrava tempo para cuidar da casa, lavava roupa, fazia comida e era também agricultora, gostava de plantar na praia.

“Minha mãe fazia de tudo. Falar da minha mãe é muito fácil, porque ela sempre fez de tudo desde muito cedo.
Os outros filhos do meu avô, ele não pôs para estudar. Mas minha mãe veio estudar em Cruzeiro.
Depois voltou para o seringal, onde casou-se com meu pai, Rubens Carneiro de Messias, aí que foi dar aula”, conta a filha.
Na época alfabetizou seus sobrinhos Orleir, Eládio, Chiquinho e tantos alunos no seringal, inclusive o seu próprio filho, Chiquinho do Rubens.
Foram 30 anos dando aulas no seringal, até mudar-se com a familia para Cruzeiro do Sul, em 1983.
Lembra que se destacaram em Cruzeiro do Sul, pela força da dedicação ao trabalho.
Destaca que a professora Fátima Camely era a terceira filha de nove que seu pai teve e que formou essa gigantesca família, talvez umas das maiores do Vale Juruá.
Nazira Camely (in memorian) morreu aos 24 anos; Marmud Cameli (in memorian), pai do ex-governador Orleir e dos empresários Chiquinho é Eládio.
Fátima Camely, professora;
Calila Camely (in memorian); Armédio Camely (in memorian);
Mansura Camely (in memorian;
Maria Camely (in memorian) morreu com câncer, ainda muito jovem;
Racene Camel, comerciante;
Ercen Camely (in memorian), que é pai dos empresários Manú Camely, Assem Camely, Tião Camely e Sandro Camely.
Lembra ainda que seus irmãos mais novos, Ercen e Racene, também foram alfabetizados pela professora Fátima Camely. Certamente sua sabedoria, desprendimento e dedicação, ajudaram de maneira ativa a desenvolver o Juruá e o Acre, pois vieram dois governadores da família Cameli.
Seu legado é inestimável, sua contribuição ficará eternizada na história real de Cruzeiro do Sul.

Já a Filha Engracia Camely Messias, professora que foi inspetora de ensino, em suas palavras disse:
“Minha mãe sempre foi uma batalhadora, primou pela a nossa educação, pelo ensino, apesar de morar no seringal, ela sempre fez questão que a gente estudasse. Portanto, isso foi maravilhoso. Chegamos aonde chegamos, pela força dela, pelo trabalho dela, pela educação que ela nos deu. Ela e meu pai Rubens Messias, sempre nos ensinaram honestidade. Nunca mexer em nada de ninguém, e isso a gente carrega até hoje. Então a mamãe é um exemplo de mulher batalhadora, guerreira, virtuosa, que nunca conheceu a palavra não posso. Sempre estava a disposição pra estender as mãos a quem a procurasse. Uma altruísta por convicção, e no Juruá, muitos passaram pelas mãos delas”, diz.
Uma lista interminável de alunos, destaca-se as aulas de matemática que tinha um método próprio de ensinar no seringal, inclusive os filhos. Na sexta-feira ela fazia roda de matemática com os alunos, fazia uma pergunta sobre matemática para a filha e professora Engracia Messias, se ela não soubesse responder, o aluno ao lado se soubesse, dava um “bolo” na mão de Engracia.
“Então a gente se preparava a semana inteira pra vingar aquele “bolo” então essas fórmulas foram boas porque nos fizeram aprender. Muita gratidão a minha mãe, que foi e é uma mulher excepcional, que mesmo aos 99 anos, ainda tem alguns momentos de lucidez, não mudou os valores, suas convicções ainda são as mesmas”, concluiu Engracia.

Já a filha, a bancária Zilmar Messias, para ela sua mãe foi uma mulher batalhadora, guerreira que sempre prezou pelos os estudos dos filhos.
Ela ficava sozinha no seringal e nos colocava pra estudar interno em colégio de freiras em Porto Walter.
“Sempre nos estimulou para os estudos e depois nos mandou para estudar em Cruzeiro do Sul, e só depois de três anos que ela veio morar em Cruzeiro com a gente. Minha foi uma mulher incrível, muito religiosa, e sempre dizia que; quem tem Deus, nada é impossível”, historia.
Sempre ia as missas e sempre colocou os filhos no caminho da igreja, ensinando os valores e princípios cristãos como base da vida. Sempre nos ensinou a sermos pessoas honestas. “Portanto, só tenho gratidão pela trajetória dela de vida, e por tudo que fez por nós”, concluiu Zilmar Messias.

Para a filha, a empresária Zuleide, a mãe é tudo na vida. “Foi e ainda é um pessoa honesta e muito trabalhadora, cumpridora dos seus deveres, trabalhou pra nos colocar no colégio de Porto Walter, nos educou e ela é tudo que tenho na minha vida”, afirma.
Destaca que quando vieram do seringal morar em Cruzeiro do Sul, todos já eram adultos, e já tinham sido educados no seringal e também em Porto Walter.
“Só tenho gratidão por tudo que ela fez por nós”, concluiu Zuleide.

Já a filha Elvira Messias Cameli diz que sua mãe é maior exemplo de vida.

“Com imensa alegria e profundo carinho, dedico estas palavras à mulher extraordinária que moldou minha existência com amor e perseverança. Celebramos os 100 anos de vida de minha mãe, uma verdadeira guerreira que trilhou caminhos desafiadores e deixou um legado imensurável. Viveu enfrentando os desafios de uma vida simples no seringal, desenvolvendo uma força interior que seria a base de valores para toda a família, como honestidade, respeito, gratidão, resiliência e a importância do trabalho.Minha mãe, a professora que iluminou mentes e corações no interior do Acre, guiou gerações rumo ao conhecimento, com uma determinação inabalável, ela transformou a sala de aula em um espaço de descobertas, onde a educação era uma oportunidade rara. As mãos habilidosas, que guiavam o giz na lousa, eram as mesmas que lavrava a terra e ajudava meu pai para garantir o sustento dos filhos”, diz. Dessa forma simples ela demonstrava que não havia tarefa humilde demais quando feita com amor e dedicação. “Minha mãe, a mulher batalhadora, provou que a vida é um constante desafio a ser superado. Honramos não apenas os 100 anos de vida de minha mãe, mas também a riqueza de sua trajetória. Que seu legado continue a iluminar nossos caminhos, recordando-nos sempre da importância da educação, do trabalho árduo e, acima de tudo, do amor que permeia cada ação. Obrigado por ser a personificação viva do amor, da coragem e da perseverança”, diz.

Para Racene Cameli, o único irmão da professora Fátima Camely ainda vivo, sua irmã que foi também sua professora foi uma boa mestre, que cuidava muito bem dos seus alunos e que tinha a sua característica e métodos próprios de ensinar.
Uma boa filha, uma boa irmã e uma professora dedicada pelos seus alunos. Tinha amor pelo o que fazia e tinha vontade dentro dela que seus alunos aprendessem muito.
“Eu ainda dei muito bolo na escola. Nunca peguei, mas, ela não passava a mão na cabeça nem dos filhos, se não respondesse corretamente, pegava bolo”, conta o irmão.
Ela ainda foi agricultora. Chegava das aulas e ia para a praia plantar, milho, feijão, melancia.
Também trabalhou na contabilidade do pai. Tirava “talão” do freguês e debitava no “Borrador” e no final do mês distribuía o “talão” com o preço da mercadoria de cada mês.
Ela foi e é uma irmã maravilhosa, desses ensinamentos dela, geraram grandes homens e famílias e desenvolveu a nossa região, concluiu Racene Cameli, de 85 anos.

Para a dona Beatriz Cameli, viúva do ex-governador Orleir Cameli, que se diz uma fã incondicional da professora Fátima, a quem chama de “Fatinha”, essa uma personalidade do Juruá que entra para a história. “Eu posso falar muitas coisas da dona Fátima, eu convivi com ela muito tempo. Eu a admiro por ela ser essa mulher que ajudou o pai, fazia a contabilidade do pai, o seu Mamede Camely. Ela estudou e alfabetizou a muitos como Orleir, Eládio e Chiquinho e outros na época dos seringais. Portanto, para mim, dona Fátima representa sabedoria, conhecimento no Vale do Juruá. Naquela época que era muito difícil que as mulheres estudassem sobretudo por ser descendente de Árabes, ela conseguiu estudar em Cruzeiro do Sul e se formando como professora nesses cursos parcelados daquela época.
Então, ela superou limites daquela época ao trabalho da mulher, ela se formou e formou muita gente. Por isso, a minha admiração por dona Fátima Camely, e ele soube criar seu filho Chiquinho e quatro filhas mulheres: Engracia, Zilmar, Zuleide e Elvira. Portanto ela merece as nossas infinitas considerações”, concluiu dona Beatriz Cameli.

O empresário e sobrinho que também foi aluno da professora Fátima, Pedro Cameli, diz que aprendeu com sua tia a base de seu sucesso. “Eu com a tia Fátima, eu não aprendi só esse pouco de cultura que adquiri, mas aprendi a ser um cidadão, a respeitar as pessoas com ética e moral. E ela ali preparava o homem e a mulher para o futuro. Porque dada as suas colocações precisas com rigidez, porque aquele que não se adequar-se, e a intenção dela era fazer que aquele aluno não prejudicasse os que queriam aprender. Portanto, não havia desrespeito com o professor em sala de aula, porque ela não deixava espaço e ela agia com seus métodos e critérios. E realmente ela preparava o homem e mulher para serem verdadeiros cidadãos”, diz ele.

A professora-doutora Carol Messias diz que sua avó é o alicerce da família. Considera ela muito importante por tudo que fez e representa na vida de cada um, dos conselhos, dos ensinamentos.
“Eu quero agradecer a minha avó por tudo, pois grande parte do ser humano que eu sou hoje, foi graças a minha avó. Que me ensinou a ter princípios, nos momentos difíceis, a senhora estava lá. A senhora me apoiou e nunca me julgou e até mesmo se fosse pra segurar a chave pra não complicar a Senhora estava lá. Portanto, a senhora é o alicerce da nossa família e a gente precisa muito da senhora. E uma pessoa tão boa de coração como a senhora, não é fácil de encontrar e nunca vi falar de alguém que não goste da senhora. Essa mistura de braveza e ternura é o equilíbrio perfeito. Eu te amo muito”, destaca Carol.

O médico Luan Messias, neto da professora Fátima Camely, é só elogios. “Minha avó é a mulher mais forte e guerreira que eu conheço, ela nos ensinou não só as aulas de matemática, e alguns bolos nas mãos. Mas, caráter, honestidade e determinação. E a cada dia eu venho aprendendo com a senhora. E o amor que nos une seja cada mais forte e intenso”, crava.

A médica Isla Messias destaca as melhores lembranças de sua infância na casa de sua avó. Algumas das lembranças, cita a vez que foi tirar gelo do freezer com a língua e ficou com a língua pregada e não conseguia pedir ajuda e não conseguia falar com a língua presa, até que alguém deu a ideia de desligar o freezer e jogar e despregou a língua. “Ela é a minha segunda mãe e nós a amamos sem medida”, afirma.

A funcionária pública federal Mauritânia Messias, que é a primeira neta da professora Fátima Camely, desta o amor incondicional dela.
“Todos sabem que o amor de mãe é incondicional, mas o amor da minha avó é duas vezes incondicional, é dobrado. Por isso, obrigado por todo esse amor, conselhos e broncas, e obrigado também por todas as vezes que a senhora escondeu as colheres que tinham na sua casa, pra mamãe não usar como palmatória. Não adiantava muito porque ela acabava usando as sandálias, mas, eu tinha a dona Fátima pra me proteger”, destaca aos risos.
“Eu agradeço por essa linda história de vida que nos inspira tanto, eu te amo minha avó”, concluiu Mauritânia.

De minha parte, digo que faltam adjetivos para definir a sua magnanimidade. Então recorro a Provérbios 31:10: A mulher virtuosa quem a achará? O seu valor muito excede o de finas joias.

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