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Em sua coluna de hoje Nené Junqueira publica entrevista exclusiva que fez com a adida agrícola do Brasil no Peru, Ângela Pimenta

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O produtor rural Nene Junqueira, diretor executivo do Sindcarnes e ex-secretário de Agricultura do Acre, traz em sua coluna desta sexta-feira, 8, uma entrevista exclusiva que fez com sua amiga, a auditora fiscal do Ministério da Agricultura, Ângela Pimenta Peres, adidia agrícola do Brasil no Peru. No bate papo entre os dois, boas revelações sobre o comércio do Acre com o País vizinho.
Veja o artigo:

O Peru está para o Acre, igual a China está para o Brasil

Nene Junqueira*

A estrada do Pacífico é o elo na ligação do Atlântico-Pacífico. Além de contribuir com o turismo e o comércio bilateral entre o Brasil e o Peru, a estrada garante o acesso dos produtos peruanos ao Oceano Atlântico e o acesso dos produtos brasileiros ao Oceano Pacífico. O maior beneficiado com a estrada do pacífico sem dúvida é o estado do Acre, por ter uma posição geográfica privilegiada com o Peru, já que estamos a 2.154 km de Lima, capital peruana que concentra 1/3 da população do país, cerca de 12 milhões de habitantes. É uma capital em cima do deserto, às margens do Oceano Pacífico, e com uma beleza divina. Os portos mais próximos da fronteira do Acre com o Peru são Ilo (1.226 km) e Matarani (1.419 km), dois importantes portos que encurtam o caminho do Brasil com a Ásia.

Observo no Peru um grande potencial econômico para nós acreanos e precisamos cada dia mais interagir o comércio entre os dois países. Passamos muitos anos de costas um para o outro e agora temos a oportunidade de estar frente à frente e impulsionar o comércio bilateral entre Acre e Peru.

Para abordarmos mais sobre comércio exterior, confira nossa entrevista com a Adida Agrícola da Embaixada do Brasil em Lima e auditora fiscal federal agropecuária do Ministério da Agricultura e Pecuária-MAPA, Ângela Pimenta Peres, que é engenheira agrônoma com mestrado em Fitossanidade e doutorado em Ciência de Alimentos. Ela possui especialização em Gestão Agroindustrial e pós-doutorado em Análise de Risco e Segurança de Alimentos pela Universidad Politécnica de Madrid, Espanha.

Agronews – Em 2022 o Acre conseguiu habilitar duas Indústrias frigoríficas para o Peru, com essa abertura de mercado, podemos ampliar o comércio bilateral entre o Acre e o Peru em outros produtos?

Ângela Pimenta – Essas habilitações de frigoríficos de carne bovina e suína representaram um passo importante para o comércio bilateral entre o Acre e o Peru. A abertura desses mercados abrirá portas para ampliar o comércio bilateral em outros produtos. Mas isso depende de vários fatores tais como a identificação de produtos que possam atender às necessidades e preferências dos consumidores peruanos; a infraestrutura de transporte, logística e dos postos fronteiriços para facilitar ainda mais o escoamento dos produtos; além de fortes ações de promoção dos produtos acreanos no mercado peruano. Isso inclui a participação em feiras comerciais, campanhas de marketing e parcerias comerciais. Tudo isso é fundamental para atrair compradores e investidores. Além disso, a diversificação da pauta exportadora do estado é muito importante. O Acre precisa diversificar sua oferta de produtos para exportação, não se limitando apenas à carne bovina e suína, milho, castanhas ou produtos florestais. Artesanatos e outros produtos manufaturados, além de carne de aves, por exemplo, podem ser explorados para aumentar o comércio bilateral. Por outro lado, a importação de produtos peruanos escoados pelos caminhões que levam cargas ao Peru, poderá contribuir com o abastecimento do Acre, além de minimizar os custos dos fretes, tornando os produtos brasileiros mais competitivos.

Agronews – Temos um grande problema hoje na fronteira entre o Acre e o Peru, que é a falta de servidores do Vigiagro (Vigilância Agropecuária Internacional), de que forma podemos solucionar esse entrave?

Ângela Pimenta – Creio que uma das soluções mais diretas é aumentar o quadro de servidores do Vigiagro na região. Isso requer a articulação política para novos concursos com vagas garantidas para fiscais federais agropecuários do Ministério de Agricultura e outros profissionais na fronteira com o Peru, com tempo de permanência mínimo estabelecido em regulamento. Além disso, uma outra solução poderia ser a redistribuição de recursos humanos de outras áreas do Brasil onde a demanda seja menor.
Penso também que, em alguns casos, empresas privadas poderiam contribuir com recursos, infraestrutura e tecnologia em troca de uma colaboração estreita com as autoridades de fiscalização, garantindo assim condições mais atrativas para a retenção dos fiscais do MAPA na fronteira. As autoridades locais e nacionais deveriam ainda priorizar a alocação de recursos para a região fronteiriça, reconhecendo sua importância estratégica para a facilitação do comércio internacional.
 
Agronews -* O Peru tem muitos produtos que podem ser exportados ao Acre, estamos mais perto de Lima (2.150km) do que de São Paulo (3.500km), o que falta na sua visão para aumentar o interesse dos empresários acreanos no mercado peruano?

Angela Pimenta – A proximidade geográfica do Acre ao Peru e a variedade de produtos que o Peru pode exportar representam uma oportunidade significativa para o desenvolvimento do comércio bilateral. Para aumentar o interesse dos empresários acreanos no mercado peruano é importante identificar as oportunidades, a partir de estudos de mercado que envolvem a análise das preferências do consumidor e tendências de consumo. Promover os produtos peruanos no Acre por meio de campanhas de marketing e eventos comerciais é fundamental. E as feiras comerciais, missões empresariais e seminários podem atrair interesse dos empresários.
Um outro ponto que merece ser ressaltado é o necessário apoio do governo do Acre que poderia oferecer incentivos fiscais, subsídios ou assistência técnica para empresas que desejam iniciar ou expandir operações comerciais com os peruanos. Além disso, o investimento em capacitação empresarial com a oferta de programas de treinamento para empresários locais que desejam entrar no mercado peruano é básico. Os empresários acreanos precisam estar seguros ao realizar negócios com o país vizinho e isto envolve conhecer os regulamentos peruanos de importação, a logística e gestão de negócios internacionais. Compreender a cultura de negócios peruana e estabelecer relações comerciais com respeito à cultura local é fundamental. Isso pode melhorar as relações comerciais e a confiança entre os empresários de ambos os lados.
A criação de redes de contato e parcerias comerciais entre empresários acreanos e seus homólogos peruanos pode ser facilitada por meio de câmaras de comércio, associações e programas de intercâmbio empresarial.
É importante que o governo, as instituições comerciais e as empresas locais trabalhem em conjunto para explorar o potencial dessa relação comercial próxima.
 
Agronews – Além das indústrias frigoríficas, o Acre conta com indústrias de ração, calçados, argamassa, vidros (blindex), polpa de frutas, madeireira, carrocerias, bolachas e café, esses produtos são de interesse do mercado peruano?

Angela Pimenta – Todos os produtos mencionados podem ter potencial de interesse no mercado peruano, mas a viabilidade de exportação de cada produto dependerá de diversos fatores, incluindo a demanda do mercado peruano, a concorrência, os regulamentos de importação e outros fatores comerciais.
Por exemplo, como o Peru importa somente 5% da carne de frango que consome, significa que tem uma produção local forte, portanto, pode haver demanda por ração animal. Produtos alimentícios de maneira geral, como polpa de frutas, podem ter mercado, pois está crescendo a preferência por produtos naturais e saudáveis no Peru. Para outros alimentos como bolachas e café, acredito que qualidade, sabor e estratégias de marketing podem ser diferenciais importantes.
Para demais produtos como calçados, importante considerar que a concorrência global é intensa, assim vale a pena destacar características exclusivas e promover a qualidade e o design dos calçados acreanos. Para calçados usados no serviço rural, creio que poderia ter muito mercado, especialmente se considerarmos a grande produção de frutas peruana que demanda alta mão de obra no campo.
Materiais de construção, como argamassa e vidros blindex, podem ser procurados, pois o Peru tem voltado a investir em construção e infraestrutura, especialmente pelo interior do país, com a reativação de projetos de irrigação e de outras obras que estavam paradas nos últimos anos.
Em todos esses casos, é fundamental realizar pesquisas de mercado detalhadas, entender as exigências de importação, as preferências do consumidor peruano e estabelecer canais de distribuição adequados.
 
Agronews – Com a construção do Porto de Chancay, considerado o maior Porto do Pacífico Sul, quais benefícios ele poderá trazer ao Acre?

Angela Pimenta – A construção do Porto de Chancay, pode trazer vários benefícios potenciais para o Acre, embora a magnitude desses benefícios dependa de como a infraestrutura será utilizada e das iniciativas de colaboração que podem ser estabelecidas, como a instalação de um terminal para o desembaraço de mercadorias, por exemplo.
Com um porto de grande capacidade nas proximidades, o Acre passará a ter uma rota de exportação mais eficiente para seus produtos, especialmente para a Ásia. Isso poderá reduzir os custos de transporte e tornar seus produtos mais competitivos nos mercados internacionais.
O acesso a um porto de grande porte poderá incentivar o Acre a diversificar suas exportações para além das carnes e produtos florestais, que poderão ser mais facilmente exportados.
A proximidade do Porto de Chancay poderá reduzir os custos de transporte para empresas do Acre que importam matérias-primas ou exportam produtos acabados, tornando a produção local mais competitiva.
Importante lembrar ainda que a presença de um porto de grande porte pode atrair investimentos estrangeiros diretos para o Acre, especialmente em setores relacionados à logística, armazenamento e transporte. Com a expansão das atividades econômicas relacionadas ao comércio internacional, pode-se esperar um aumento no crescimento econômico e na geração de empregos no Acre.
 
Agronews – Entre os dias 27 a 29 de setembro de 2023, acontece a Feira Expoalimentaria em Lima, uma das maiores feiras de alimentos da América do Sul, onde vários países sul americanos participam, seria uma oportunidade a mais para os empresários acreanos?

Angela Pimenta – A participação na Feira Expoalimentaria em Lima, pode ser uma excelente oportunidade para os empresários acreanos. Essa feira oferece diversos benefícios e oportunidades para empresas que desejam expandir seus negócios no mercado de alimentos e bebidas na região sul-americana e para todo o mundo, pois circulam pela feira importadores, distribuidores e empresários de cinco continentes, com os quais poderiam ser estabelecidos contatos e parcerias comerciais.
Durante a feira acontecem rodadas de negócios, seminários, workshops e apresentações sobre as últimas tendências e inovações no setor de alimentos, e os empresários poderão aprender com especialistas e obter insights valiosos.
Participar da Expoalimentaria permitirá testar a receptividade dos produtos do Acre no mercado peruano e até mundial, antes de fazer investimentos mais substanciais em exportação. A exposição numa feira deste porte é uma oportunidade para promover as marcas e os produtos do Acre, construindo uma reputação positiva no mercado internacional.
Durante a feira, os empresários poderão identificar potenciais parceiros de distribuição e representantes comerciais que podem ajudar a expandir suas operações no Peru e em outros países.
Tenho certeza de que a presença do Acre na Expoalimentaria ajudará o Brasil a fortalecer as relações comerciais com o Peru, abrindo portas para uma maior colaboração bilateral. Para aproveitar ao máximo essa oportunidade, é importante que os empresários acreanos estejam bem preparados. Isso inclui uma pesquisa prévia sobre o mercado peruano, a definição de objetivos claros para a participação na feira, a preparação de materiais de marketing e amostras de produtos, e a participação ativa durante o evento.

  • Nene Junqueira é produtor rural e ex-secretário de Estado de Agricultura do Acre (2021/2022)
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