Política & Economia
No século XXI, manifestação contra manifestantes é o tema da coluna do Valterlucio Campelo nesta sexta
Ao longo da história as manifestações públicas têm desempenhado um papel crucial, servindo como instrumentos poderosos de expressão coletiva e transformação social. Em condições de liberdade, ou não, o povo leva à praça as suas insatisfações e, também, o seu reconhecimento e aplausos aos seus líderes.
Para se ter uma ideia, há registro de que mais de mil anos antes de Cristo, no Egito antigo, os trabalhadores de Deir el-Medina, responsáveis pela construção das tumbas no Vale dos Reis, organizaram um protesto por atraso no pagamento e abandonaram o trabalho, somente retornando depois de regularizada a situação.
Na Roma Antiga, era comum que protestos, como a queima de estátuas e manifestações públicas movessem a luta por direitos. Já na Idade Média, principalmente as revoltas camponesas na Europa desafiaram os sistemas feudais, em protesto por melhoria nas condições de vida.
Em tempos mais modernos, a Revolução Francesa (1789) talvez seja o melhor exemplo de como o poder do povo pode derrubar regimes opressivos. Teve início ali uma era de valores democráticos. No século XX, as manifestações cresceram, com destaque para o sufragista, que garantiu o direito ao voto das mulheres, e os protestos pelos direitos civis liderados por Martin Luther King Jr. nos Estados Unidos.
Mais recentemente, no Brasil, o maior exemplo vem das lutas pelas eleições diretas. Anos depois, o impeachment de Collor de Melo e o de Dilma Roussef também movimentaram milhões de brasileiros.
Enfim, a decisão autônoma e livre de ir às ruas enfrentar o poder e grupos dirigentes para que direitos sejam reconhecidos faz parte da história do homem, fazendo ver que o aparente sossego das massas pode ser interrompido a qualquer momento desde que eficientemente mobilizado por uma boa causa. Em regimes democráticos, nada está a salvo de transformações nascidas de um verdadeiro sentimento popular.
É claro que o surgimento da comunicação virtual alterou o perfil das manifestações. De um lado, as redes sociais já são, elas mesmas, capazes de realizar uma grande mobilização de vontade, de propósito, alterando com isso projetos e tendências. De outro, elas são um instrumento poderosíssimo de estímulo à realização de eventos públicos, levando-os a contar com milhares ou até centenas de milhares de pessoas.
Nos últimos anos, o Brasil tem assistido dezenas dessas grandes manifestações, quase sempre realizadas em defesa de valores e princípios conservadores, e lideradas pelo líder Jair Bolsonaro. A esquerda que sempre se valeu desse recurso, hoje é refém de ajuntamentos controlados e de pequena expressão, denunciando seu afastamento do povo e marcando uma interrogação enorme em relação à sua efetiva predominância, considerando o resultado eleitoral proclamado em 2022. Como se diz por aí, temos um governo “popular” sem povo.
Decididamente, quem no Brasil consegue, com uma interlocução simples e direta, mobilizar a população ao ponto de realizar grandes reuniões são os partidos e lideranças do campo conservador e, mais especificamente, o ex-presidente Jair Bolsonaro. Infelizmente, do lado contrário, existe um concerto autoritário que aos poucos vem endurecendo o controle sobre a liberdade de expressão e, com isso, limitando, pressionando e intimidando a população.
Neste dia 16/03, teremos uma demonstração de que somados uma causa justa e uma liderança legítima, muitas pessoas estão dispostas a responderem SIM ao chamamento, e formarem uma multidão de apoio causando inegável repercussão política. Curiosamente, o que está em causa é a defesa de manifestantes presos em 08 de janeiro de 2023. Teremos uma grande manifestação em defesa de manifestantes, a maioria pacíficos, transformados em presos políticos, em um processo sabidamente afastado do Direito e da justiça. Em pleno século XXI, pleiteamos a liberdade de nos manifestarmos como se faz em todo o mundo desde antes de Cristo.
Em Rio Branco, a manifestação será in door, em um lugar amplo e capaz de abrigar um grande número de pessoas, e possibilitar a fala de lideranças dispostas a enfrentar pela palavra lúcida e honesta, a tirania dos que há algum tempo foram beneficiados pelo olhar generoso das autoridades brasileiras.
De todo modo, é extremamente importante que, sem preocupação com o número de participantes, haja uma sinalização no sentido de que estamos enfrentando do modo mais amplo possível, essa quadra de tirania que prende e tortura inocentes.
Valterlucio Bessa Campelo escreve às segundas-feiras no site AC24HORAS, terças, quintas e sábados no DIÁRIO DO ACRE, quartas, sextas e domingos no ACRENEWS e, eventualmente, no site Liberais e Conservadores do jornalista e escritor PERCIVAL PUGGINA, no VOZ DA AMAZÔNIA e em outros sites.