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CULTURA & ENTRETENIMENTO

Pinturas do acreano Chico da Silva em exposição no Museu de Arte Sacra

Exposição com curadoria de Simon Watson resgata a obra do artista e sua visão sobre o milagre do mundo natural

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Chico da Silva 1970 / Óleo sobre tela 68 x 96 cm – Divulgação/Chico da Silva: Conexão Sagrada, Visão Global

Pássaros, peixes e dragões; criaturas quiméricas, muitas vezes devorando uma à outra, ou em posição de combate, compõem as cenas concebidas na obra de Chico da Silva, combinando fábulas populares amazônicas com cosmologias do Norte e do Nordeste do Brasil.

A exposição Chico da Silva: Conexão Sagrada, Visão Global, com curadoria de Simon Watson, será apresentada no Museu de Arte Sacra de São Paulo, entre 12 de novembro de 2022 e 8 de janeiro de 2023. As pinturas visionárias do imaginário de Chico da Silva, representadas por criaturas em ambientes naturais luminosos, são conhecidas por trazer uma conexão entre o sagrado e o natural.

Exibida em duas das galerias de exposições especiais do museu, a exposição vai focar em imagens das criaturas características da obra do artista, que foram descritas como “visões vívidas e alucinatórias, enraizadas nas cosmologias amazônicas e que vão desde figuras folclóricas e espirituais até plantas e animais antropomórficos”.

A galeria de entrada do museu trará uma instalação em estilo de salão, uma “piscina” das pinturas de peixes do artista, sugerindo uma imersão em algum tipo de aquário. Em seguida, a longa galeria com mais de quarenta pinturas será dividida em duas zonas: uma de criaturas míticas e outra de pássaros e outras criaturas aladas.

Vida Única

Francisco da Silva (1910-1985), conhecido como Chico da Silva, foi um artista brasileiro de ascendência indígena. No final da adolescência deixou sua casa no Acre, Amazonas, e mudou-se para Fortaleza, onde morou o resto da vida. Desde cedo, Chico pintava criaturas fantásticas nas paredes das casas dos pescadores.

Foi na década de 1940 que o crítico de arte suíço Jean-Pierre Chabloz conheceu a obra visionária de Chico no Brasil; e foi Chabloz, um emigrante europeu, vindo de um continente que se encontrava devastado pela guerra, quem primeiro introduziu Chico à pintura e ao papel. O crítico exaltou as pinturas de Chico como pura manifestação da arte visual brasileira e, posteriormente, tornou-se um defensor das obras do artista.

A vida de Chico foi uma gangorra entre a fama internacional – ele foi celebrado na Bienal de Veneza de 1966 e participou de inúmeras exposições pelo Brasil e pela Europa – e as lutas contra o alcoolismo e a instabilidade mental, que em certo momento exigiram uma longa internação.

Em seus últimos anos, Chico viveu quase que como um sem-teto. Morreu em 1985, aos 75 anos, e nos anos seguintes à sua morte o reconhecimento de sua produção artística caiu no esquecimento. Por muito tempo suas pinturas foram depreciadas e tidas como arte popular simplória.

No entanto, os tempos mudaram e, nos últimos anos, após uma pandemia global e o aumento da conscientização sobre a depredação do meio ambiente, as criaturas visionárias do universo fantástico de Chico nos revelam o poder absoluto e a maravilha de nosso planeta. — tanto a sua fauna como a sua flora.

Conexão Sagrada

Conexão Sagrada, uma Visão Global nos mostra o imaginário de Chico da Silva que envolve pássaros, peixes e dragões – criaturas quiméricas que muitas vezes aparecem se devorando ou em posição de combate. Este é um universo composto por cenas que mesclam fábulas e cosmologias populares amazônicas do norte e nordeste do Brasil, representando um pleno florescimento do traço sofisticado e das cores vibrantes usadas pelo artista, que remetem ao espírito interior das criaturas retratadas e de nós mesmos, espectadores humanos.

Neste momento sombrio da história que vivemos, a arte humanista e visionária de Chico dialoga com o telespectador de forma pungente, direta e clara. Para o público do século XXI – especialmente para os jovens, cujo desafio ao longo da vida será curar um planeta ferido por seus antepassados – a visão de Chico do mundo natural brilha de forma intensa.

Um dia, em maio do ano passado, o curador internacional Simon Watson se deparou com uma pintura de um “dragão dourado” feita por Chico e decidiu na hora criar uma exposição do trabalho do artista. Desde então, Watson tem focado em apresentar as obras de Chico em um contexto relacionado ao sagrado, devido à interpretação envolvente e sublime do artista da maravilha natural que é o nosso planeta.

Além disso, Simon quis que a exposição estreasse no Museu de Arte Sacra, que há muito é reconhecido por sua dedicação e exibição de obras sacras históricas e que, além disso, guarda uma extensa coleção de arte e objetos datados de até quatro séculos atrás. Ver as pinturas de Chico da Silva através do olhar exclusivamente dedicado à arte sacra do museu proporcionará ao público uma oportunidade especial de entender e apreciar as obras deste artista, que traduzem de forma alegre o espírito milagroso do mundo natural.

Renascimento Global

As pinturas de Chico da Silva contam histórias mágicas que tem impacto internacional – obras de arte poderosas que precisam se tornar conhecidas para além das fronteiras brasileiras. No contexto de crise global, de devastação do planeta e o distanciamento emocional das almas humanas, anestesiadas por distrações digitais, o público de hoje anseia por uma arte visionária que os ajude a lembrar da vitalidade do mundo natural que sustenta nossas vidas.

Simon, com mais de trinta anos de experiência ensinando e apresentando arte, trabalhando com instituições de ensino curatorial para ampliar a compreensão e o público interessado em arte, planeja simultaneamente levar a visão de Chico da Silva de São Paulo para os Estados Unidos. Após passar pelo Museu de Arte Sacra, a exposição “Conexão Sagrada, uma Visão Global” viajará para a América do Norte e outros lugares.

Além disso, Watson e sua equipe estão debatendo com instituições internacionais de ensino a criação de alianças para a apresentação de uma série de seminários baseados neste trabalho no próximo ano, como forma de envolver uma nova geração de curadores e críticos de arte internacionais.

[Aventuras na História]

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