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ARTIGO

ARTIGO DO PROFESSOR RAIMUNDO FERREIRA — Benedito (Meia-Légua)

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Conforme podemos constatar, quem está com o poder nas mãos, dá as ordens, desobedece as convenções em benefício próprio, muda as regras do jogo e comanda as ações conforme os seus desejos, ou seja, age de acordo com o que melhor lhe aprouver e quem ousar desobedecer poderá ser alertado e se insistir será punido. No decorrer de toda história da humanidade sempre foi assim e infelizmente continuará sendo, conforme afirma aquele cansado adágio popular, ‘manda quem pode, obedece quem tem juízo e não está disposto a procurar para as costas’. Os heróis da história do Brasil, nos mostram exemplos fenomenais de cidadãos que, além de corajosos e determinados, ainda eram astutos e inteligentes, por sinal, esses ingredientes da criatividade, juntamente com a inteligência, potencializados pela coragem, resultam na fórmula perfeita para se alcançar os objetivos almejados.


Entre 1805 – 1885, existiu um cidadão, filho de escravo, nascido no Espírito Santo, com o nome de Benedito Caravelas, foi um grande líder quilombola e que atuou desde o norte do Espírito Santo até o Nordeste. Transformou-se numa lenda e devido suas andanças e atuações firmes, ganhou o apelido de Benedito Meia-légua. Liderou vários grupos de negros insurgentes que invadiam fazendas para ocupar senzalas e libertar escravizados. Tinha o hábito de carregar consigo uma medalha com a imagem de São Benedito. Se destacou pela estratégia infalível para ludibriar os capitães do mato, que estavam sempre à sua procura. Meia-Légua invadia fazendas liderando pequenos grupos de ex-escravizados, para obter o maior controle dos comandados e utilizava a tática de agir simultaneamente em vários locais na região escolhida, para confundir os perseguidores, vestir os líderes de seus grupos com o mesma vestimenta sua e desse modo atuou por toda a vida, enganando seus inimigos, apesar de alguns terem sido capturados e mortos acreditando que fosse o Meia-Légua, mas o truque funcionava eficientemente junto aos inimigos. Sintetizando um pouco a história, um dos casos mais marcantes foi quando apanharam um desses sósias, trouxeram para cidade amarrado pelo pescoço, puxado por um capitão do Mato a cavalo, fizeram uma grande comemoração, torturaram em público, mataram e entregaram o corpo para os escravos fazerem o sepultamento. O corpo foi colocado na igreja, mas no dia seguinte tinha desaparecido e em seguida já aconteceu outra invasão numa fazenda vizinha. Daí surgiu o famoso ditado popular, “mas será o Benedito?” Concluindo, ele continuou sendo perseguido por toda a vida e segundo os relatos, já com oitenta anos, cocho e com outras comorbidades, dormia num tronco oco de árvore, foi denunciado, os inimigos identificaram o local, ficaram na espreita, quando ele entrou e adormeceu, fecharam a entrada o atiraram fogo. Procurando nas cinzas pra conferir se era realmente o original, encontraram a medalha de São Benedito. Todo primeiro de janeiro, ainda é realizada uma cerimônia em São Mateus/ES., em homenagem à Benedito Meia-légua. A moral da história é que, se não todos, mas a maioria dos homens determinados que se destacaram na defesa de uma causa e durante suas trajetórias e lutas não conseguiram criar um comando robusto, que inclusive servisse para lhes proteger no futuro, geralmente foram alcançados pelos inimigos, humilhados e eliminados. Os relatos históricos são testemunhos do que estamos falando, a exemplo do que aconteceu com Antônio Conselheiro em Canudos e com o próprio Tiradentes em Minas.

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