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GERAL

A personalidade do Juruá deste domingo é o autonomista, deputado constituinte, desportista e intelectual Osmir Lima

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Por Ere Hidson

Ele é filho de Osmir D’Albuquerque Lima e da dona Marfisa Nunes de Melo, dos Melo de Ipixuna, no Amazonas, sendo prima legítima do ex-governador daquele Estado, José Melo. Ele,
Osmir D’Albuquerque Lima Filho, casado com Maria Elizabeth do Vale Lima. Pai do músico Osmir Neto, da administradora e funcionária pública Roberta Lima, da mestra em agronomia Soraya Lima e do advogado George Lima.

Osmir Lima na atualidade em sua casa em Rio Branco com a bisneta Isabella


Nascido em 30 de março de 1945, exatamente no final da segunda guerra mundial, Osmir é um sectagenaro muito lúcido, com uma capacidade intelectual de derrubar o queixo de
qualquer interlocutor e surpreendentemente bem humorado. Adora repetir que veio ao mundo pra trazer a paz. Ele dá exemplos do que vive. Fez o que pôde para materializar isso como deputado federal constituinte, quando apresenta uma emenda a constituição que torna o crime de tortura imprescritível.
Aplicado aos estudos, Osmir formou-se técnico em contabilidade pelo então colégio Flodoardo Cabral, em Cruzeiro do Sul (1973), e Instituto Augusto Meira, Belém-PA (1976).
Hoje, quando abre a pasta do currículo, são dezenas de folhas preenchidas. Assumiu muitas funções na vida pública e profissional. Na lista, presidente do Banco do Estado do Acre (Banacre), entre 1983 e 1986); presidente do Centro de Apoio à Pequena e Média Empresa-CEAG, Rio Branco, entre 1983 e 1986.
É reconhecido por muitos feitos nesse mais de meio século de atividades, por outros nem tanto. É condecorado com a Ordem da Estrela do Acre, no Grau Comendador (1984), tem diploma de cidadão de Rio-Branquense (1983) e no parlamento desempenhou atividades, inclusive internacionais. Foi membro da delegação oficial acreana ao Peru em 1983, da delegação do Planacre – Programa de Desenvolvimento do Acre, em Washington, EUA no ano de 1985. Foi eleito em 1986 para a Câmara Federal com 6.111 votos, uma votação extraordinária na época.
Estreante na vida política, participou da Assembleia Nacional Constituinte na Comissão da Organização Eleitoral Partidária e Garantias das instituições, subcomissão de garantias da constituição, reformas e emendas.
Na ocupação de constituinte, apresentou 102 emendas, 14 delas aprovadas, um feito histórico para um deputado de primeiro mandato. Aproveitou a oportunidade para se aprofundar sobre a vida política acreana e brasileira. Essa vivência lhe permitiu discutir como um dos vice-líderes do PMDB na Assembleia Nacional Constituinte, sendo liderado pelo grande Mário Covas (PMDB-SP) na época, de quem se tornou um amigo pessoal.
Destaca que o PMDB sozinho teria condições de ter feito a constituição.
Na lista de outras figuras de expressão nacional com quem Osmir conviveu e se tornou amigo pessoal estão Delfim Neto e Roberto Campos, com quem discutiu os interesses do país e, sobretudo, do Acre. Foi, também, amigo pessoal de Antônio Brito, que depois foi porta-voz dr Tancredo Neves, encarregado de comunicar o falecimento do mesmo a nação.
Figuras notáveis como Bernardo Cabral, que foi o relator da constituinte,
Jarbas Passarinho, acreano que fez carreira política no estado do Pará, também faz parte do rol de grandes personalidades com as quais Osmir discutiu o Brasil. Participou de uma comissão que ele era o presidente.
Pelos feitos, Osmir Lima passou a ter a honra de conviver com os homens que fizeram o País andar nas décadas de 1980 e 1990. Ele cita o ministro do Supremo Ilmar Galvão, que inclusive é casado com uma acreana, Teka Lavocat.


Ativista do movimento autonomista no Juruá, Osmir Lima conta que teve a honra de conhecer Guiomard dos Santos, governador do território do Acre que conseguiu a autonomia do Estado junto ao presidente João Goulart. Não chegou a fazer amizade com Guiomard devido a diferença de idade. “Meu tio Osvaldo D’Albuquerque Lima foi amigo dele”, conta. Lembra dos almoços na casa do seu tio, quando tinha por volta dos 16 anos e já era locutor do Movimento dos Autonomistas, com atividades fortes entre 1957 a 1962.
Osmir Lima dar aula de como era a política na época: era quase um bipartidarismo.
PSD muito forte de um lado, PTB muito forte de outro lado e a UDN muito fraca. “Minha família era do PSD, partido comandado pelo Guiomard Santos”, revela.
Também conheceu o senador e deputado federal Oscar Passos, que era do PTB.
Quando o Guiomard conseguiu a aprovação do Acre estado, o PTB pregou em todo canto que a miséria iria reinar porque a Blborracha já não tinha riqueza nenhuma, havia decaído e os funcionários federais seriam demitidos. Isso gerou um clima ruim, de descrença.
Foi necessário as lideranças da época do movimento autonomista, entre eles Geraldo Mesquita, Omar Sabino, e o próprio Guiomard Santos, tentar mudar o quadro. Montaram um sistema de alto-falantes nos sete municípios que existiam no território e começaram a pregação, dizendo que a autonomia do Acre significaria novos e bons ares, a começar pelo direito dos acreanos de eleger seus políticos, ao invés de serem nomeados na capital federal, que era no Rio de Janeiro.
Osmir Lima e Benjamin Ruela montaram e assumiram os microfones do serviço de alto-falante em Cruzeiro do Sul. Essa história está no livro que o saudoso governador Orleir Cameli mandou publicar. Ruela acabou deputado estadual da primeira legislatura, entre 1962 e 1966. Suplente, assumiu a cadeira de Milton de Matos Rocha, que morreu em um desastre de avião.
Embora seja um procere do movimento dos autonomistas, Osmir Lima não teve convivência com o primeiro governador eleito, o também cruzeirense José Augusto Araújo de Farias. Dois motivos asseguraram a distância, a diferença de idade e o fato serem filiados a partidos adversários. Acabou sendo colega de bancada, em Brasília, da viúva dele, deputada Maria Lúcia Araújo, também membra da Assembleia Nacional Constituinte, em 1988.

Rompimento com o PMDB

Em 1990 Osmir perde a eleição para governador do Acre. Vão para o segundo turno Jorge Viana e Edmundo Pinto.
Ambos procuram Osmir em sua casa em busca de apoio para o segundo turno. Primeiro recebeu Jorge Viana e sua resposta foi que não tinha condições de apoiá-lo, uma vez que a turma do PT inventaram muitas mentiras a seu respeito no primeiro turno. No caso do Edmundo Pinto, foi ao contrário. “Recebi ele em minha casa também. Disse a ele: eu falei muito mal de vocês, falei que vocês apoiavam a ditadura/regime militar etc…Então não tenho como ir apoiar vocês agora”, disse ao então candidato Edmundo, que acabou ganhando a eleição.
O PMDB deliberou, então, que seus membros ficassem a vontade para apoiar quem quiser. O já eleito senador Flaviano Melo optou por apoiar Jorge Viana no segundo turno.
Quando chegou no PMDB, Osmir Lima formou uma espécie de triunvirato com Vagner Sales e Aluísio Bezerra. “Aluísio era o nosso Senador, eu deputado federal e Vagner estadual. Nossos grupos trabalhavam unidos torno da gente. Depois houve um distanciamento, algo normal na política. Vagner e eu rompemos com Aluísio por causa da eleição do Pedro Negreiros, em 1988. E há uma passagem interessante nisso, repara: um dia estávamos no escritório do Dadau, aí o Orleir Cameli entrou, me pegou pelo braço, me levou lá fora, e disse: olha o prefeito que vocês tem aqui. O cara tinha feito um negócio de madeira no meio da praça, tipo um criador de jabuti. Rapaz criem vergonha, coloquem gente que sabe trabalhar, esbravejou o Orleir, que disse mais: se candidate que eu te apoio. Isso, logo depois da minha eleição perdida para o Governo. Já mais a frente, em 1992. Aí levei a proposta para o partido, o partido se entusiasmou, mas o Aluísio e eu já tínhamos criado atrito, por causa do mandato tampão. Ele queria o Osmar Bandeira e nós queríamos o Pedro Negreiros. E nós vencemos no diretório. E isso ficou os resquícios de mágoas da eleição de 1988”, historia Osmir.
Em 1992, indicado pelo MDB para a prefeitura de Cruzeiro, Osmir bateu de frente outra vez com seu correligionario Aluísio. “Ele queria o Osmar Bandeira. Respondi que tive o apoio integral do diretório quando fui candidato a governador, não era justo eu ficar criando resistência em relação a candidatura do Osmar Bandeira. Disse a ele: estou fora, fique com o seu candidato. Fui ao Orleir Cameli e disse que estava fora, e falei os motivos pelos quais estava fora. E agradeci o apoio. Aí o Orleir disse: pois agora quem será candidato sou eu. E eu levava tão a sério a questão de partido, que não pude retribuir o apoio e estímulo que ele me deu. Fui apoiar o candidato do partido, o Jerônimo, que é meu primo, quando eu deveria ter apoiado o Orleir”, conta. Osmir destaca que não houve da parte do Orleir nenhum ressentimento.
Já em 1994, candidato a Câmara Federal, Osmir diz que sentiu-se apunhalado pelas costas mais uma vez dentro do PMDB. Inclusive pelo próprio Flaviano, que era o candidato a governador e pedia votos para Regina Lino. “Naquela eleição o único do PMDB que me apoiou de verdade foi o Vagner Sales. Aí me perguntei: é essa a retribuição que estou recebendo, pelo meu sacrifício? Chego no aeroporto de Cruzeiro do Sul, encontro o Eládio e disse a ele: diga a seu irmão, independente de perder ou ganhar, vou estar apoiando ele no segundo turno. Uns três dias depois encontrei o Orleir e ele me disse que havia recebido o recado, e perguntou: é pra valer? Eu disse, é pra valer, é a minha palavra. Minha votação no Juruá caiu 40% e fiquei como primeiro suplente e passei a apoiar Orleir Cameli no segundo turno”, revela.


Orleir ganha a eleição para o Governo e Osmir Lima assume a Casa Civil. “Um dia o Orleir me chamou e perguntou: tu queres voltar para Brasília para me ajudar lá? Aí eu perguntei, como assim? Ele disse: estou com vontade de convidar um deputado federal pra ser do tribunal de contas do Estado e você assume a vaga, é o Diogenes.
Ele convidou,o Diogenes aceitou e eu voltei a assumir o mandato na Câmara Federa, o segundo mandato.
Faço uma ressalva que quando tava acabando o mandato do Orleir, o único a ficar ao lado dele fui eu”, afirma.
Bem humorado, Osmir lembra do episódio em que pegou uma “esculhambação” do Orleir, que o chamou em Manaus. Quando chegou la foi recebido na casa da mãe do Orleir, Dona Marieta Messias. “Te chamei aqui pra comunicar que já me reuni com a família e não serei mais candidato ao Governo. Fui o primeiro a tomar conhecimento. Eu disse: não diga uma coisa dessas. E disse; vem cá, tu estás bem avaliado no Juruá? Estou muito bem. Tu estás bem avaliado em Sena Madureira? Muito bem, pois ele tinha levado a BR 364 até Sena. Tu estás bem avaliado em Assis Brasil, Brasileia, Xapuri? Estou muito bem também. Ele também levou a BR 317 até o Alto Acre. Então, se tu passar três meses andando nos bairros de Rio Branco, tu reveste aquele quadro.
Ele disse: não se trata de ganhar ou perder eleição, eu acho que eu me reelejo, o problema todo que não tive paz, não tive sossego”, conta os bastidores que pouca gente sabia até hoje.
Osmir conta que passou pelo Acre um Procurador da República chamado Luíz Francisco que perseguiu muito o governador Orleir junto com o PT e o pessoal da imprensa.
Mas voltando a conversa de Manaus, Osmir revela que disse o seguinte a Orleir: “Bom, já que você não vai ser candidato, tomou a decisão com a familia, eu vou pra casa. Foi aí que ouvi pouca e boas dele. Ele queria que eu fosse candidato”.
Osmir Lima foi um homem político e também desportista de simplicidade notada, admirados por todos, por suas ideias avançadas.
Viveu sempre preocupado com o bem-estar do povo, publicou trabalhos científicos, trazendo sempre o novo.
Homem justo nesse Estado, acreano de renomado valor.

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