Comunistas, centro-esquerda e até direita se juntam em Tarauacá para retomar prefeitura em 2024

Evandro Cordeiro

A atual prefeita de Tarauacá, Neia Sérgio (PDT), poderá disputar a reeleição em 2024 sozinha, contra todas as demais forças políticas de sua cimunidade. Aos poucos uma ‘salada’ ideológica começa a se formar com objetivo de ganhar a eleição, evitando a equivocada fragmentação do pleito passado, ocasião em que a atual gestora ganhou com 29% dos votos graças, fundamentalmente, a infantil divisão. Por esta razão, provavelmente, as conversas estão bem adiantadas entre forças de todos os naipes políticos do município, mais de ano antes do pleito, para evitar novo infortúnio. Um dos escalados para a tarefa de juntar inclusive oponentes do passado é o comunista Chagas Batista, de conversa mansa, sempre convincente, com seu português polido e muito conhecimento na cuca. Batista deu uma ‘saidinha’ rápida de seu PCdoB na eleição passada, depois de fiéis 27 anos, mas deve voltar para o seio da sigla amada em breve, no que pese ser mais importante nesse momento ajuntar forças para garantir o sucesso do projeto, que poderá ter na cabeça o médico Rodrigo Damasceno, de filiação marcada no PP. O ex-prefeito está de volta com nova roupagem, com erros do passado corrigidos e com novos sonhos, segundo o Chagas, que bate um papo conosco meio rápido, mas muito esclarecedor sobre a política praticada no centro do mapa do Acre, onde está o município mais politizado do interior, o centenário Tarauacá.
Veja a entrevista:

Acrenews – Chagas, você sempre representou a esquerda em Tarauacá, sobretudo o PCdoB, mas recentemente, talvez para completar uma engenharia política, foi para o PSB. Então na eleição de 2024 o PSB e o PCdoB se comportarão como? Terão candidato?

Chagas Batista – São quase quatro décadas de trabalho e construção de uma linha de pensamento do campo democrático e popular. Acredito que obtivemos muitas conquistas sociais que serão sempre lembradas. De fato, na última eleição, sob a condição de uma conjuntura desfavorável, decidi, após de 37 anos no PCdoB, em um debate coletivo na direção municipal do próprio partido, fazer uma migração para o PSB para disputar uma eleição de deputado estadual. A ideia do nosso grupo era tentar garantir a eleição de um deputado indenficado com nossa história de luta popular, a gente vinha viabilizado há 20 anos. Primeiro com o Moisés Diniz em três mandatos, segundo, o Jenilson Leite, com dois. A idéia era garantir o mandato para dar sequência ao nosso trabalho. Infelizmente, foi a eleição mais difícil, tendo em vista que agente não contava com quase nenhuma estrutura. Mas, bola pra frente, encaro a política, não apenas como um momento eleitoral, mas como um opção cotidiana de lutas e esperanças com intuito de poder mudar as coisas. É com esse espírito que vou participar das eleições de 2024. Minha prioridade no momento é ajudar reunir todas as forças que não estão vinculadas a atual administração para fazer não apenas uma aliança eleitoral, mas um grande adjunto para melhorar a saúde, a educação, a infraestrutura, cuidar melhor do nosso povo carente e da nossa juventude. Uma Tarauacá para todos.

Acrenews – Caso vocês decidam pelo apoio ao médico Rodrigo Damasceno, do PP, nasce em Tarauaca uma composição política inédita. Como vocês vão mexer a mesma panela com as diferenças ideológicas?

Chagas Batista – Nós estamos conversando com ex-prefeito Rodrigo Damasceno, que provavelmente vai se filiar o PP. Acredito nessa conjuntura. Rodrigo é a melhor alternativa não apenas para ganhar a eleição, mas fundamentalmente para fazer um Governo mais presente no dia-a-dia da vida do povo, mais aberto ao diálogo com todos os seguimentos sociais, como mais sensibilidade com os dilemas que o povo de Tarauacá enfrenta. Será uma aliança ampla, que busca unir os partidos que governam o Acre e também os que governam o o Brasil. Isso é importante para Tarauacá, uma aliança majoritária não precisa ser ideológica, porque no final, quem ganha tem que governar pra todos. O que precisamos analisar é o compromisso do candidato com a democracia, transparência e zelo com o dinheiro público, a competência administrativa enfim… e acho que se candidato for o Rodrigo reúne essas condições.

Acrenews – Quais partidos devem formar essa frente por Tarauacá?

Chagas Batista – Como eu disse, vou me empenhar para reunir todos que não estão vinculados diretamente a atual gestão. A federação PT, PCdoB e PV, PSB, Rede, PSOL, MDB, PP e Podemos são os partidos que já fizemos conversas. Mas ainda temos o PSDB e outros que devemos conversar. Claro que todas as conversas ainda estão numa fase de construção. Na última eleição, em 2020, houve divisão entre eu e o Rodrigo e a atual prefeita foi eleita com 29%. Eu e o Candidato que Rodrigo apoiou alcançamos mais de 50%. Se incluírmos os votos do MDB chegamos a mais 70% dos votos. É claro que cada eleição é um cenário diferente. Entretanto, não podemos dar sopa para o azar dessa vez.

Acrenews – Quais as principais críticas que esse grupo faz à prefeita Neia Sérgio?

Chagas Batista – Pessoalmente não tenho nada contra a prefeita Néia Sérgio (PDT). Administrativamente, ela está no lugar errado, não cumpriu as promessas de campanha, é completamente ausente no dia-a-dia da população e insensível aos dilemas sociais. Politicamente, pertence a uma escola política que considero a pior da história de Tarauacá. É a política do negócio que visa tirar proveito pessoal em tudo, misturando interesse público com interesse privado, interesse familiar. Administração pública não é isso, e aí reside minha maior divergência.