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ESPORTE

Há duas décadas o futebol perdia um dos craques de Bragança-PA; Atleta disputou seis Re-Pa e colecionou títulos no Amazonas e no Acre

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Na Marca da Cal – Especial Boleiro, e o tempo levou

Nascido na cidade paraense de Bragança, em 1948, o saudoso atacante Julião Furtado dos Reis, atleta que fez história com as camisas do Nacional-AM, Rodoviária- AM e Juventus-AC (1975-1979), surgiu para o futebol defendendo a seleção de juvenis de Bragança, isso na primeira metade da década de 1960, segundo revelou o ex-craque do Independência-AC, o também paraense Valdir Silva. “Recordo-me que num amistoso envolvendo a seleção de juvenis de Bragança e o Paysandu, em meados dos anos de 1960, o Julião, com apenas 16 anos, fez um partidão pelo time da Terra da Marujada.  Tanto que dias depois já estava integrado ao time de profissionais do bicolor paraense”, revelou Valdir Silva, à época jogador da base do Papão.

Re-Pa com a camisa dos dois clubes

Livro do escritor paraense Ferreira da Costa

O futebol objetivo e veloz, associado ao faro de gols, foram elementos importantes para o atacante ganhar a confiança do então técnico bicolor Santo Cristo. No Re-Pa de nº 340, ocorrido dia 14 de outubro de 1964, no estádio da Curuzu, válido pelo Torneio Quadrangular Interestadual – Taça Francisco Vasques -, Julião figurou entre os titulares do time celeste na vitória do Paysandu sobre o Clube do Remo por 1 a 0, gol de Milton Dias. No entanto, apesar da vitória no seu primeiro Re-Pa na carreira, Julião não guardou boas recordações do clássico, pois acabou sofrendo uma grave lesão no menisco de um dos joelhos, quando de uma dividida com o goleiro remista François, fato esse que o deixou por um longo período na inatividade. Confira a escalação do Papão no 340º Re-Pa: Carlito; Oliveira, Bel, João Tavares e Paulo; Mangaba e Chininha; Vila (Laércio), Julião (Jota Alves), Milton Dias e Ércio.

Alguns anos depois, após uma cirurgia no joelho, Julião recuperou o bom futebol e voltou a fazer boas apresentações pela seleção de Bragança. Os dirigentes do Clube do Remo então o convidaram para vestir a camisa do Leão paraense, onde o atacante chegou a disputar cinco Re-Pa, quatro deles na temporada de 1968 e um no ano seguinte (1969). Veja os resultados: Remo 1 x 1 Paysandu (nº 390 -22/09/1968); Remo 2 x 1 Paysandu (nº 392 -21/1/1968); Remo 0 x 1 Paysandu (nº 393 -06/12/1968); Remo 1 x 0 Paysandu (nº 394 -17/12/1968) e Remo 0 x 3 Paysandu (nº 395 – 02/02/1969).

Chegada ao Sul América-AM e títulos por Nacional e Rodoviária

No ano de 1969, Julião resolveu respirar novos ares e aceitou um convite do Sul América para disputar o Campeonato Amazonense. O bom futebol apresentado nos gramados manauaras chamaram atenção dos dirigentes do Nacional e, na temporada seguinte, Julião já era um dos reforços do Leão amazonense.

Combinado Nacional – Olýmpico (AM) – 1970. Em pé, da esquerda para a direita: Zé Maria, Iane, Rosemiro, Mário Vieira, Eraldo e Tarciso. Agachados: Julião, Valdir Silva, Wilson, Rolinha e Canhoteiro. Foto/Acervo Valdir Silva.

No “Leão da Vila Municipal”, o atacante paraense ficou três temporadas (1970 a 1972) e conquistou um estadual (1972), inclusive, marcando o gol do título do Naça na vitória sobre o Fast Club por 1 a 0. No mesmo ano, o ex-craque também fez parte da equipe nacionalina que disputou o Campeonato Brasileiro, quando o Leão amazonense fechou a competição na 21ª posição entre os 26 clubes participantes (25 jogos, 4 vitórias, 10 empates e 11 derrotas). Entre os companheiros de equipe do atacante paraense no Leão da Vila Municipal podemos citar os seguintes nomes: Mário Vieira (Mário Motorzinho), ex-Rio Branco, hoje residindo no interior de São Paulo, Edson Borracha, Iane, Antônio Piola, Jurandir, Fausto, Tadeu, Mesquita, Jurandir, Almir, Helinho, Walmir Coutinho, Jorginho, Ismael, Lacy, Walmir, Campos, Rolinha e Reis.

Pé quente e destemido, o goleador Julião resolveu aceitar um convite dos dirigentes do Rodoviária para disputar o Campeonato Amazonense de 1973. O clube era conduzido por funcionários do Departamento dos Rodoviários do Amazonas ou Departamento de Estrada de Rodagem (DERAM) e já haviam disputado quatro temporadas na elite do futebol amazonense, inclusive, beliscando o vice-campeonato em 1971. Nascido em Rio Branco-AC, o goleiro nacionalino Iane também resolveu seguir o caminho do atacante paraense e migrou para o Rodoviária. Outro nome já integrado ao time do DERAM era o volante Tadeu, que após o título conquistado migrou para o Rio Branco-AC.

Rodoviária/1973 – Em pé, da esquerda para a direita: Dirlei, Valter, Joaquim, Toinho, Tadeu e Zequinha. Agachados: Zezé, Julião, Santos, Mário Bacuri e Santiago. Acervo/Tadeu Belém.

Quando a bola rolou, a Associação Atlética Rodoviária do Amazonas surpreendeu e venceu o primeiro turno de forma invicta – quatro vitórias e três empates, mas no returno chegou apenas na terceira posição e teve que realizar finais extras contra o Rio Negro. No primeiro duelo das finais, a Rodoviária venceu por 1 a 0, enquanto no segundo confronto, houve empate por 1 a 1, assim confirmando o título inédito para o clube do DERAM diante de mais de seis mil presentes ao estádio da Colina. O atacante Julião marcou quatro gols na temporada e terminou entre os quatro principais artilheiros do torneio. O time da decisão formou com: Iane; Dirlei, Joaquim, Teo e Zequinha; Tadeu e Sudaco; Laércio, Zezé, Julião e Santiago. Técnico: Edmílson Oliveira.

No ano seguinte, em 1974, Julião resolveu novamente trocar de casa e foi desfilar seu futebol no Fast Club-AM, mas por lá ficou pouco tempo, transferindo-se no ano seguinte para o Juventus-AC.

Transferência para o Juventus e um tricampeonato

Amargando um jejum de cinco anos sem títulos, a diretoria do Juventus resolveu colocar a mão no bolso para reforçar a equipe para a temporada de 1975. O atacante Julião era um antigo sonho de consumo do clube e o martelo foi batido. O atleta paraense, então com 27 anos de idade, chegava ao Ninho da Águia com um currículo constando dois títulos amazonenses (1972 e 1973), seis Re-Pa e uma disputa de Campeonato Brasileiro (1972).

Fac símile do jornal O Rio Branco de junho de 1972

Naquela época, o futebol acreano arrastava multidões para o Stadium José de Melo e o atacante Julião não chegou como nenhum desconhecido. O atleta já havia disputado com a camisa do Nacional quatro amistosos em solo acreano, precisamente no mês de junho de 1972: Nacional 1 x 1 Independência, Nacional 1 x 1 Rio Branco, Nacional 1 x 0 Atlético-AC e Nacional 1 x 0 Andirá. Na época, o técnico da equipe nacionalina era Paulo Emílio, esse declarando na imprensa local que o atacante celeste Euzébio teria sido o único jogador a despertar sua atenção, apesar da diretoria nacionalina demonstrar interesse nas contratações dos seguintes jogadores: José Augusto (Independência), Padreco, Vale e Claudi (Rio Branco).

Em cinco temporadas disputadas com a camisa do Clube do Povo, Julião conquistou um tricampeonato estadual e um vice-campeonato do Copão da Amazônia (1976) e ainda uma coleção de gols e admiradores do seu futebol.

Juventus – 1975 – Em pé, da esquerda para a direita: Mustafa, Mauro, Emilson, Milton, Maurício Generoso e Antônio Maria. Agachados: Walter Prado, Julião, Dadão, Carlinhos e Roberto Pitola. Foto/Acervo Carlinhos Bonamigo

Na sua primeira temporada com a camisa do Juventus, Julião gastou a bola e ajudou o time a conquistar o estadual invicto de 1975. O time juventino fez 19 partidas e marcou 40 gols. O volante Emilson fez o gol do título na vitória sobre o Rio Branco por 1 a 0. Veja a escalação dos campeões: Xepa; Otavio, Maurício, Mustafa, e Antônio Maria; Emilson, Carlinhos e Dadão; Walter Prado, Julião e Roberto Pitola.

Juventus – 1975 – Em pé, da esquerda para a direita: Mustafa, Mauro, Emilson, Xepa, Antônio Maria e Assis. Agachados: Roberto Pitola, Carlinhos, Julião, Dadão e Walter Prado. Foto/Acervo Carlinhos Bonamigo

No ano seguinte, na conquista do bicampeonato, o Juventus perdeu dois jogos (Independência 2 a 1; Atlético 3 a 2), mas levou a taça numa melhor de duas partidas contra o Atlético Acreano (3 a 1 e 0 a 0). O time rubro negro do bicampeonato foi: Milton; Mauro (Otavio), Mustafa, Maurício e Antônio Maria; Carlinhos Bonamigo, Emilson Brasil e Dadão; Walter Prado (Pingo), Julião e Anísio.

O último título conquistado por Julião com a camisa juventina ocorreria na temporada de 1978, quando o Clube do Povo conquistaria seu quinto estadual. Na decisão diante do arquirrival Rio Branco, vitória elástica do rubro negro por 5 a 1. Veja a escalação do time campeão: Milton; Mauro, Neórico, Maurício e Antônio Maria; Emilson, Mariceudo e Roberto Pitola; Julião (Anísio e Carlinhos), Antônio da Loteca e Paulinho. O artilheiro da temporada foi Mariceudo. O atleta marcou 9 dos 34 gols marcados pelo Clube do Povo.

História de boleiro

O ex-zagueiro juventino Mustafa, companheiro de equipe do atacante Julião, fez uma viagem no tempo para contar um fato ocorrido nos primeiros anos da chegada do jogador paraense ao Acre. Segundo Mustafa, os bolivianos da cidade de Riberalta todos os anos convidavam o Juventus para jogos amistosos. Uma das partidas era programada para o sábado e a outra no domingo e, as viagens para a cidade boliviana, sempre aconteciam no início das noites da sexta-feira (12 horas de duração).

Juventus – 1976.  Em pé, da esquerda para a direita: Xepa, Mustafa, Milton, Mauro, Emilson, Abraão, Maurício, Assis e Dadão. Agachados: Otávio, Antônio Maria, Chico Preto, Carlinhos, Julião, Carlitinho, Roberto Quitola e Valter Prado. Foto/Acervo Chico Preto.

No dia da primeira partida, por volta das 10h da manhã do sábado, no reconhecimento do gramado, os atletas juventinos ficaram animados com as condições do gramado do estádio da partida, tanto que o atacante Julião fez o seguinte comentário: “Esses bolivianos são doidos. Trazer o Juventus para jogar neste gramado, tenho até pena, pois não saberão a quem marcar”.

Quando a bola rolou, o time juventino não somente poupou energias para o jogo do dia seguinte, como também fez uma partida cadenciada para administrar o cansaço da viagem à cidade andina, mas suficiente para vencer o time da casa por 5 a 0. Logo após o jogo, segundo frisou o ex-zagueiro Mustafa, havia comentários entre os “patrícios” que a equipe juventina era muito lenta e o próximo adversário, que tinha como base os militares, poderia surpreender e vencer o duelo. Ledo engano, o Juventus fez um jogo espetacular, usando velocidade, inteligência e eficiência para construir um placar de dois dígitos: 11 a 0.

Depoimento de torcedor de arquibancada

Torcedor de arquibancada, o maestro Zacarias Fernandes, hoje residindo na cidade de Manaus-AM, confidenciou à reportagem do Opinião que o atacante Julião foi um dos melhores da posição a qual viu jogar no futebol acreano. “Era um atacante inteligente, habilidoso e veloz. Tinha um posicionamento que antevia o lançamento dos meias, deslocando-se rapidamente e colocando-se em condições de finalizar em gol. Sensacional”, pontuou Zacarias, afirmando ainda que assistiu muitos jogos da campanha do bicampeonato juventino de 1975/76, quando Juliano formou o ataque do rubro-negro acreano ao lado de Walter Prado e Roberto Pitola.

Passagem relâmpago pelo Independência

Quis o destino que os paraenses Julião e Valdir Silva, ambos com passagens pelo Paysandu em meados de 1960, sendo que o primeiro ainda chegou ao time principal, viessem a jogar juntos com as cores do Independência-AC. O fato ocorreria na temporada de 1980. Numa viagem no tempo, o meia-atacante Valdir Silva confidenciou que ambos jogaram vários anos em equipes diferentes durante a disputa do Campeonato Amazonense, inclusive, por duas oportunidades, eles figuraram na seleção da rodada. A respeito do saudoso amigo, Valdir Silva comentou: “O Julião era um cara sensacional, muito amigo, falava pouco e era de uma lealdade fabulosa”.

Há exatos 20 anos o futebol perdia Julião

Numa tarde de 12 de junho de 2002, no Hospital P.S.M – H.M.P, na cidade de Belém-PA, o coração de um dos atacantes que marcou época com as camisas do Nacional-AM e Juventus-AC deixou de pulsar. Refiro-me à figura do goleador paraense Julião Furtado do Reis, simplesmente o Julião, então funcionário público federal e com 54 anos de idade, vítima de insuficiência respiratória aguda, derrame pleural cirrose hepática e hemorragia digestiva, conforme boletim de óbito expedido pelo médico Roberto Amorim de Menezes.

Juventus – 1987. Em pé, da esquerda para a direita: Vidal, Aníbal Tinoco (técnico), Mauricinho, Roberto Ferraz, Carlinhos Magno, Normando, Rocha, Sabino e Diogo Elias (diretor). Agachados: Helinho, Neivo, Zito, Carioca, Renísio, Jáder, César Limão e Siqueira. Foto/Acervo Francisco Dandão.

No último dia 12 de junho deste ano completou exatos 20 anos da sua passagem para outro plano espiritual. Julião era casado com a senhora Cleides Maria Souza Reis e do relacionamento surgiram os filhos Jader, Jailson, Jairo e Juliana. O atacante ainda teve uma filha fora do casamento chamada Silvia Juliana Reis.

Hoje residindo na cidade de Bragança-PA, o filho mais velho do atacante Julião, Jader Reis, que jogou na base do próprio Juventus-AC e superou o vício das drogas para virar uma referência religiosa de uma igreja protestante em Bragança-PA, disse que o pai deixou um legado de um ser humano simples e de atleta que fez história por onde passou.

Fac símile da página de Esporte do jornal Opinião de 19 de junho de 2022.
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