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POLÍTICA

Osvaldo Gomes: o filho de seringueiro que comeu o pão que o diabo amassou na cidade, mas deu a volta por cima

De engraxate a padeiro e vendedor de peixe, ele também foi jornalista e agora é um empresário de sucesso com o Bar e restaurante “Quintal do Osvaldo”; convidado a entrar na política, disse que topou ser candidato a deputado estadual

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Por Tião Maia, para o AcreNews            

Aos 61 anos de idade, agora um empresário de sucesso na área de entretenimento e gastronomia Osvaldo Gomes de Oliveira, o dono de uma das casas mais visitadas em Rio Branco na atualidade, é um desses homens do qual pode se dizer que já fez de tudo na vida e mais um pouco. É o único homem de uma família de quatro irmãos, filho de um casal de seringueiros – Francisco das Chagas Gomes e Sebastiana Gomes de Oliveira – já falecido, nascido no Seringal Nova América, na região do Arachá, município de Xapuri, o dono do chamado “Quintal do Osvaldo”, no Bairro Seis de Agosto, chegou à cidade de Rio Branco aos cinco anos de idade, sem conhecer a energia elétrica e tampouco o gelo.

Tão pobre, junto com a família, que só veio conhecer o sabor de um sorvete e sentir a dor e a delícia do gelo em sua boca já quase adulto, quando trabalhava duro para ajudar no sustento de casa, já que seu pai, já doente – uma das razões de ter saído do seringal – não podia trabalhar no pesado para garantir o sustento absoluto da família. Com os Gomes morando num quarteirão do então empresário Amadeo Barbosa, no bairro Quinze, o quartinho da família ficava próximo a única padaria o bairro, que descartava muito pães de dias anteriores, o chamado “pão velho”. “Minhas irmãs catavam aquilo onde era jogado e levavam para casa. Naqueles dias, haveria café da manhã para toda a família”, conta, sem vexame. “Mais tarde, quando a gente já morava no Palheiral, vínhamos, com alguns amigos de situação parecida, às lixeiras de descarte do então Supermercado Dois Oceanos, no centro de Rio Branco, e catávamos mercadorias, frutas e até frangos, com validade vencida e levávamos para casa. Naquele tempo, havia banquetes em nossas casas”, acrescentou.

O tempo de vacas magras e de comidas com o prazo de validade vencida só teve fim ou diminuiu quando Osvaldo começou a trabalhar no pesado, após uma experiência como engraxate, quando a família ainda morava às margens do Igarapé Judia, no Segundo Distrito da cidade. A interrupção em relação à atividade de engraxate se deu, aliás, por um motivo insólito: “o rio estava cheio e eu estava ali, na rua que hoje é chamada de Eduardo Assmar, nas imediações da Gameleira, admirando a enchente e a fim de encontrar algum cliente que quisesse lustrar os sapatos, porque ali era a parada final dos ônibus que vinham para o interior. Mas, por pura maldade, um homem chamado Alicate, que já morreu, pagou alguém para jogar aquele neguinho, que era eu, dentro d’agua. Jogaram-me com caixa de engraxar e tudo. Ainda bem que eu sabia nadar. Mas parei de engraxar naquele dia”.

Após o episódio, veio um tempo de vendas, de produtos diversos, pão e peixe, principalmente. “Nossa família foi uma das primeiras a participar da invasão do Bairro Palheiral, que ainda tinha poucas casas. Eu vinha de lá, comprar peixe na beira do rio, no mercado da Cidade, para depois ir revender no bairro onde a gente morava. O mesmo eu fazia com pão. Comprava pão na Estação Experimental e revendia aos nossos vizinhos e amigos”, conta. “Também vendi muito açaí. A dificuldade é que, sem ter onde conservar peixe ou açaí, por falta de recipiente com gelo, o risco de perder os produtos, se não vendesse logo, era real. Em relação ao açaí, vendido em garrafas que logo apresentava uma cor quase preta, na oxidação por falta de conservação, eu já carregava um saquinho de suco de groselha para misturar e devolver a cor avermelhada do açaí”, revela o segredo, entre risos. “Deus há de perdoar por causa dessas pequenas canalhices”, espera.

Num dia qualquer, quando trabalhava como plantador de seringueiras num projeto da Emater-Acre, um amigo, que já era cinegrafista na incipiente TV Acre, o convidou para ser seu auxiliar. “Agarrei aquela oportunidade com todas aas forças que eu tinha e aprendi a filmar e fotografar, profissão que exerci por mais de 30 anos”, revelou o jornalista autodidata que estudou só até a primeira série do antigo segundo grau. Assim, Osvaldo Gomes foi um premiado repórter cinegrafista na TV Acre, afiliada da Rede Globo, e da TV Rio Branco, do SBT. Alguns dos prêmios foram ganhos ao lado do redator da presente matéria, como no caso em que a reportagem retratava a situação de miséria e fome no Bairro Taquari, em Rio Branco. A reportagem, a partir de um homem que entrou no bairro vendendo panelas e outros utensílios, perguntava, pela falta do que as pessoas cozinharem, “panelas para quê?” A matéria foi ao ar no antigo TJ Brasil, carro-chefe do telejornalismo da TV do apresentador Silvio Santos e só foi premiada, justiça seja feita, graças às imagens e à sensibilidade de Osvaldo Gomes ao flagrar, por exemplo, um menino, ainda muito criança, correndo, em fuga, após furtar um pão de um comércio local.

Mas, um dia o repórter de imagens cansou da atividade e dos baixos salários e resolveu então montar sua própria empresa, a OG Produções, há mais de 15 anos atuando no mercado publicitário do Acre. É esta empresa que é dona da marca “Radio Calçadão”, mantida através de cabo e transmitido via Internet no chamado Calçadão do centro da Cidade, que foi transformado no chamado Shopping Aquiri – ou dos Camelôs -, a qual foi também vencedora do primeiro prêmio de Jornalismo “Jorge Said”, da Prefeitura de Rio Branco, em 2019. A rádio é dirigida apela esposa de Osvaldo, a jornalista Mirley Castro – aliás, seu segundo casamento, com a qual tem três filhos, além de outros cinco do primeiro casamento.

Com tanta gente em seu entorno e sempre dependendo dele, Osvaldo resolveu então partir para o projeto mais ousado de sua vida: montar um bar e restaurante no mesmo local em que passou a viver coma família, ainda com sua mãe viva, na Rua Primeiro de Maio, no bairro Seis de Agosto. O bar funciona há mais de um ano e é sucesso absoluto, principalmente aos finais de semanas, principalmente pela beleza do espaço, às margens do rio Acre, e pela qualidade da cozinha. “Vendo uma média de 200 almoços num único dia do final de semema”, confessa.

Mas o começo não foi fácil. Sem experiência, suas cozinheiras erravam na dose e acabavam fazendo comida demais, a qual, sem a venda, acabava indo para o mato. “Mas, depois, pegamos jeito e tudo vai bem agora”, conta Osvaldo, que já emprega diretamente 16 pessoas, todas elas ganhando a média de um salário mínimo – exceto os garçons, que ganham a percentagem de 20% sobre as vendas, e a cozinheira, que pediu e recebeu um aumento para R$ 2.500,00 mensais.

Mas Osvaldo vem chamando à atenção no lugar por terceirizar, por exemplo, a venda de sucos. Todo o suco vencido no local é produzido por uma vizinha sua, a qual, desempregada, agora tem uma renda média de até R$ 600,00 nos dias de grande movimento. Mais que isso, o menino que um dia passou fome no bairro hoje é um filantropo que ajuda as pessoas mais pobres do entorno. “O pão e o leite eu garanto aos que não tem”, conta, ao pagar, semanalmente, a conta do que manda doar na padaria e mercearia do bairro.

As boas relações com os vizinhos e a clientela chamaram a atenção dos políticos. Por isso, o empresário foi convidado a ser candidato a deputado estadual pelo União Brasil e, no primeiro momento, aceitou o desafio. “Se eu for candidato, quero ser um deputado diferente, daqueles que não saem de perto de sua gente nem muda sua forma de ser, mas aí não depende só de mim. Depende de Deus e dos eleitores”, disse.

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