Pra quem tem medo da morte, o professor Raimundo Ferreira escreve hoje sobre “O último suspiro”

ÚLTIMO SUSPIRO

• Raimundo Ferreira

Não sabemos se por medo, por causar repulsa, desconforto, ou mesmo por se tratar de assunto incômodo, ou ainda porque naturalmente as pessoas procuram evitar situações que possam causar angústia e tristeza. A verdade é que nesse período da existência humana, que inicia no nascimento, segue pelas várias etapas do crescimento, chega na idade avançada e inevitavelmente nos encaminha para o momento derradeiro, o fatídico último suspiro encerra nossa participação entre os seres vivos. Essa certeza do fim inevitável, forçosamente nos coloca, mesmo contra nossa vontade, diante da narrativa que defende a igualdade para todos, no entanto, ao mesmo tempo, demonstra um aspecto cruel da democracia e igualdade de direitos entre as pessoas, pois, mesmo tendo a certeza de que será uma situação inevitável, as pessoas preferem não aceitar, ou melhor, não adotar essa situação
como sendo
uma das condições que fará parte do menu de convivência de cada indivíduo. Vale apena ressaltar, que em se tratando da possibilidade de perda da existência, as pessoas não se interessam sobre quaisquer análises que trate dessa questão, preferem enfrentar a situação quando chegar a hora. O tal do momento derradeiro, que muitas pessoas sentem-se até desconfortável em aventar nas rodas informais de conversa, em algum momento, alguma hora inesperada, algum dia, alguma noite, no decorrer de alguma atividade de qualquer natureza, no sossego de algum descanso, durante alguma viagem por algum motivo, durante algum momento único de alegria, de estravasamento, de estresse, ou de tristeza, essa momento chegará e conforme somos sabedores, não temos qualquer previsão, aviso de alguém, ou do além, que nos ajude a providenciar alguma prevenção, a única certeza é que o tal do último suspiro motivado por alguma falência patológica, ou acidente fatal, nos incluirá nessa incômoda, incerta e indesejada condição de deixarmos de figurar fisicamente entre os seres vivos.

• Raimundo Ferreira, professor e arquivista