ACRE
Sentir com o coração: em um pedacinho da floresta renasce o povo da onça na aldeia Recanto Verde, da etnia Nukini
Marcos Vicentti
No Acre, com a chegada dos seringalistas, os povos indígenas passaram por mudanças com muitas intervenções do homem branco, que quase dizimaram os indígenas e muitos povos abandonaram suas tradições.
No alto Rio Moa, próximo ao Parque Nacional Serra do Divisor, no município de Mâncio Lima, renascem 17 famílias indígenas da etnia Nukini, sob a liderança do cacique Xiti Inukunui.
Firme no propósito de organização comunitária e fortalecimento da cultura de seu povo, em busca do resgate das antigas tradições como a língua, dança, espiritualidade, artesanato com belas pulseiras, brincos e cocar. Além das medicinas da floresta como o rapé, a Sananga (um colírio natural que espiritualmente e energeticamente ajuda a limpar o canal ocular e contribui para a percepção do terceiro olho ou visão interior), banho de argila e ervas sagradas, o sipá (incenso natural da floresta), a caiçuma (bebida fermentada) e a ayahuasca fazem parte da cultura e valorização do povo Nukini ou povo da onça.
No sistema de compartilhar da aldeia Recanto Verde, todos têm energia solar, água e tudo que se planta é dividido. Para manter a floresta viva, o reflorestamento acontece diariamente com o plantio de mudas, para que as futuras gerações também possam usufruir desse presente. Com sorriso no rosto, os guerreiros fazem tudo com alegria e disposição. Foi o que presenciei nesses dias de luz, uma luz que vem da floresta.
Pude vivenciar uma das mais incríveis experiências de vida. Foram seis dias intensos na aldeia. Ajudei no preparo da caiçuma, tomei banho de argila, mergulhei no rio, fiz uso de rapé, tomei ayahuasca, lavei a alma com banho de chuva e recebi na pele várias tatuagens de proteção.
Participar da cerimônia no kupichawa (local sagrado ou centro espiritual) foi algo extraordinário, uma experiência vivida com músicas, danças e meditação.
O cacique Xiti Inukunui, um guerreiro à frente do seu tempo, com um trabalho intenso, está conseguindo resgatar a cultura do seu povo.
Cada vez mais aprendo que nesta vida o simples e o belo andam juntos. Só gratidão ao universo por me proporcionar este momento.
Marcos Vicentti, repórter fotográfico
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