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60 anos de Judiciário no Acre: conheça a servidora que registrou 24 mil pessoas e casou outros 20 nos seringais do Juruá em dois meses

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Ere Hidson, especial para o Acrenews

O Tribunal de Justiça do Acre está completando neste dia 15 de junho 60 anos. A data vem sendo comemorada desde o início do mês com uma vasta programação. O site Acrenews apurou, em relação a data festiva, a existência de servidores antigos laureados ou esquecidos por atos de bravura da época em que viver no Acre era difícil, imagina fazer funcionar a máquina do Judiciário. Um desses é a funcionária Lindaura Pinheiro da Silva.
Nascida em Cruzeiro do Sul em 1937, Lindaura Pinheiro é filha do guarda territorial Idalino Silva e da dona Amélia Bezerra da Silva. Casada com Alírio Rodrigues Pinheiro, é mãe de Maura Maria, a primogênita, Dinaura Maria, Pedro Pinheiro, Alinaura Maria, Daura Maria, Alisson José e Idalino Neto, o caçula. Formada em pedagogia e letras, a professora Lindaura morava no Rio de Janeiro e voltou ao Acre para trabalhar no TJ como oficial de registro civil, em 1968. “Tempos difíceis e tudo muito dificultoso devido ao nosso isolamento histórico e até mesmo a carência da população”, conta ela.

Cruzeiro do Sul em 1976, auge da dona Lindaura como servidora do TJ no município


Segundo contou à reportagem, um dos primeiros atos ao ingressar no Judiciário foi procurar o então prefeito de Cruzeiro do Sul, Moacir Rodrigues. Solicito, ele, de pronto, atendeu o seu pedido, doando quatro instantes para acomodar os livros de registros. Era tudo muito primitivo, lembra ela, mas com muita garra foi possível vencer esses gargalos e hoje ver um Tribunal consolidado, servindo a população com a mais moderna tecnologia.


Dona Lindaura lembra que quando tudo começou, pessoas dormiam na fila, com lamparina, poronga e até vela em busca de atendimento. Foi aí que ela procurou a então assistente social da L.B.A no Juruá, Maria das Vitórias, que vinha a ser futuramente primeira dama de Cruzeiro do Sul, deputada estadual, secretária de assistência social e senadora da República. Vitórias conseguiu os recursos para custeio dos registros daquela população, conseguindo zerar as filas. Com esses recursos foi possível, também, contratar mais umas moças pra ajudar nos registros.
De 1968 até a aposentadoria, dona Lindaura viveu momentos marcantes, alguns dos quais marcados para sempre em sua lúcida memória. Um dia, conta ela, ajudou senhora a dar a luz no banheiro do Fórum. Não sai da lembrança, também, o dia em que casou um senhor de 85 anos com uma moça de 15. Na época, a garota foi questionada se não estava se casando por interesse. Ela negou, afirmou amar o noivo diante do Juiz. A autoridade então liberou o casamento, mas a nota fora da curva da história foi o retorno da “noiva’ ao Tribunal, quanto anos depois, com três filhos para registrar. Todos filhos do octogenário. “Milagre da multiplicação, como preceito das sagradas escrituras, que em Gênesis 9.7 determina: Crescei e multiplica-vos”, conta ela com muito humor.


Os tempos foram passando e dona Lindaura mais experiente como servidora foi vendo coisas do arco da velha e trabalhando. Enquanto servidora do registro de pessoas, ela lembra de nomes estrambolicos desejados pelos pais. Um dia um pai insistiu em colocar o nome do filho de Seul, capital da Coreia do Sul. Pior: um nativo, da etnia Katukina, queria, por fim a força, registrar o filho com o nome do aparelho excretor humano. Questionado por qual motivo queria colocar aquele nome no filho, o indígena responde que na língua deles isso significa abençoado e guerreiro. O Juíz, claro, permitiu e foi registrado o garoto com o nome de Cu Katukina das tantas…

Registro de 24 mil pessoas em dois meses nos seringais

Um dos momentos também marcantes na vida de dona Lindaura em 40 anos de TJ foi uma viagem de barco que fez de Cruzeiro do Sul a Foz do Breu, na fronteira com o Peru. Foram perto de dois meses rio acima. Foram registradas 24 mil pessoas, e 20 casamentos realizados. “Casamentos foram poucos se comparados com os registro, subindo e descendo barrancos do Juruá, dormindo em redes nas casas das pessoas, nas comunidades, buscando de maneira empírica, tentar descobrir em que ano nasceram aquelas pessoas, pois a maioria não tinham essa noção, mas tudo feito com muito carinho e atenção”, conta.

Amizades conquistadas nesses anos todos trabalhando no TJ

A lista de amigos conquistados dentre os colegas de trabalho é grande ao ponto de dona Lindaura não querer nem citar alguns para não cometer injustiça. Mas isso é impossível, depois de alguma insistência. Ela, enfim, começa a citar alguns, como o Adiles Nogueira Maciel, com quem trabalhou por muitos anos no cartório eleitoral de Cruzeiro do Sul. “Pessoa muito dedicada e atenciosa com a população, o seu Adiles, que dar nome ao CEANON de Cruzeiro do Sul, falecido há 2 anos, aos 109 anos de idade”, conta ela, saudosa.
Outro grande amigo dela no Judiciário é um ex-Juiz da Comarca, Pedro Ranzi, hoje Desembargador aposentado. “Foi um homem bom para Cruzeiro do Sul, um excelente Juíz, inclusive foi prefeito de Cruzeiro do Sul”, lembra.


Além dos amigos conquistados, dona Lindaura tem muitas outras vitórias particulares enquanto servidora e sua história deixa um legado, que ela economiza ao comentar, por pura modéstia. Ela conta que constantemente é parada nas ruas de Cruzeiro do Sul, ou até quando viaja a Manaus ou a outros lugares, pessoas lhe agradecendo a maneira gentil e cordial pelas quais foram atendidas por ela. “Isso é algo que não tem preço. Faria tudo novamente se preciso fosse”, diz ao Acrenews, para encerrar nosso bate-papo tão histórico e agradável.

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