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Tiffany – A tatuadora pioneira que quebrou paradigmas num espaço dominado pelos homens, no Acre

Publicado

em

Por Wanglézio Braga

“O lugar de mulher é onde ela quiser”. Nunca uma frase preencheu tão bem uma reportagem do AcreNews para exaltar o 8 de março – Dia Internacional da Mulher. E temos como provar essa nota! Numa área onde os homens são os maiores adeptos e dominam na profissão de tatuar, o mercado brasileiro tardiamente abriu brechas para as mulheres. No Acre, o caminho foi aberto em 2016. A pioneira? Tiffany de Souza, hoje com 29 anos. Para quê? Para quebrar paradigmas e influenciar outras garotas da sua geração que desejam tatuar ou serem tatuadas.

Desde a infância vivida em Rio Branco, sua cidade natal, Tiffany tinha afinidade com desenhos. Mais tarde, por influências do ex-namorado tatuador, a afinidade forçou a jovem a profissionalizar os rabiscos. O princípio de tudo não foi fácil pois sofreu na pele o preconceito velado daqueles que ecoavam a ignorância de não confiar nas mãos e dos trabalhos femininos.

O cenário lentamente foi mudando. Ela estudou, praticou, aprimorou e se especializou. A aspiração de alcançar o grande desempenho é retratada no próprio corpo. Na pele, as mais singelas expressões de arte. O desejo pela tatuagem preencheu também, literalmente, a forma de enxergar as coisas. No olho direito, a evidência. No lugar do branco natural do globo ocular, tinta preta para deixar uma aparência gótica. No restante do rosto, maquiagens que exaltam a pureza feminina. Na cabeça, a imaginação fértil. Nas mãos, o ofício. Por fim, no corpo, a moda através da vestimenta.

Tatuadora pioneira revela como ganhou espaço nos procedimentos dominados por homens no Acre (Fotos: Arquivo)

“Já fui alvo de machismo e de preconceito, mas não deixei abalar a carreira. Nada muito sério, mesmo assim é chato, né? Hoje em dia as coisas melhoraram bastante, sabe? Essa é uma profissão dominante dos homens. Meus clientes são tranquilos nesse quesito. Ainda bem que esse cenário de vermos mais mulheres nos estúdios está mudando (…) Muitas meninas estão virando tatuadoras e isto é muito bom”, comenta.

Para as novatas, Tiffany revela o segredo para ganhar destaque e respeito na área. “Estudar muito, estudar bastante. Isso é algo principal. Para os profissionais, seja homem ou mulher, é preciso estudar e se reciclar. O importante também é entregar um bom trabalho para as pessoas, pois afinal a gente lida com algo que vai marcar para sempre o corpo delas. Outra coisa é saber e gostar de conversar. Isso ajuda no trabalho com os clientes, com os colegas de profissão e até vencer a timidez”, conta.

A profissional cita que as interessadas precisam gostar e dominar os seus respectivos estilos. As técnicas dos desenhos são inúmeras. As mais conhecidas são pontilhismo, blackwork, geométrico, minimalista, single line, glitch, oriental e a conta vai seguindo. A nossa personagem central tem as suas preferências: traços delicados e realismo.

Os livros não revelam ao certo quando a prática de tatuar começou no mundo. A teoria mais difundida remete aos tempos do Egito entre 4000 a.C. e 2000 a.C. Uma das provas arqueológicas mais famosas é do “Homem do Gelo”, uma múmia de aproximadamente 5,3 mil anos que foi descoberta na década de 90 e que havia ‘rabiscos’ pelo corpo.  Com o passar dos anos, a sociedade foi se reinventando nos desenhos, na forma de fazê-los e sobretudo os motivos e as circunstâncias que os tatuavam.

Os estudos sociais disponíveis para leituras na internet indicam que as pessoas se tatuam para buscar se sentirem significativas no mundo. Para uns é defesa. Para outros é exaltar teorias que acreditam, questões de fé, pertencimento de grupo ou chamar atenção para si. A aquelas que se tatuam nos momentos marcantes da vida. Foi o aconteceu com a cabeleireira Francilene França, de 48 anos, que atende à alcunha de “Fran”.

Uma desilusão amorosa recente, seguida de um conselho da amiga Patrícia Moreira, despertou na Francisca o desejo de estrear no mundo das tatuagens. O debute passou longe grandes desenhos ou algo do tipo, pelo contrário uma simples frase dita num diálogo: “Seja você sua melhor versão”. Coube a Tiffany Santos fazer as honras da casa.

“Sempre quis fazer uma tatuagem. Chegou num nível que liguei o Fod[*&#] e resolvi sentir essa sensação libertadora. Essa frase foi de uma amiga. A mensagem tem tudo a ver com a minha nova fase de vida (…) Eu fico feliz e gratificada em saber que esse procedimento vai ser feito por outra mulher. Este sentimento comprova que as mulheres podem tudo. Nós precisamos ser empoderadas e podemos tudo, inclusive se tatuar”, explicou Fran.

Francilene: “Seja você a sua melhor versão” (Fotos: Arquivo Pessoal)

Entre várias opiniões, Fran afirma que o empoderamento pode ajudar na luta contra o preconceito. É comum ouvirmos ou presenciarmos julgamentos negativos do tipo que mulheres tatuadas são menos religiosas, menos honestas, menos generosas ou menos confiáveis. Outros consideram as tatuadas como mais promíscuas. “A sociedade precisa expandir, abrir a mente. Quando a gente evolui, as pessoas precisam fazer o mesmo. Devemos sair desse tempo arcaico das gerações passadas. Isso já passou, né? Agora vivemos em novos tempos”, refletiu.

Francilene é chamada para a sala de procedimentos de um estúdio de referência da cidade. Não demorou muito. Seguiu rigorosamente os preceitos sanitários exigidos pelos órgãos competentes. Na preparação, a assepsia do braço, seguida da aplicação de um molde. Na bancada da profissional, materiais novos e descartáveis. Na maca, a ansiedade da cabeleireira imaginando o resultado final. Na cadeira da tatuadora, a concentração cativa dela e suas múltiplas sensações de realização profissional misturada com amor pelo ofício.

Tiffany realizando seu ofício no braço de Francilene (Foto: Arquivo Pessoal)

Em questões de minutos a pigmentação apropriada é aplicada na pele (derme) por agulhas finas, bem finas, quase não se sente, que preenche tudo. O barulho do motor causa, para quem acompanha, leve desconforto. Entre uma conversa e outra, técnica infalível para acabar com os medos e entreter os ansiosos, logo o procedimento termina e a cliente deixa o ambiente com a sensação de realização pessoal.

Questionamos as nossas entrevistadas sobre o que a data 8 de março representa para elas. Para Francilene, o “Dia Internacional da Mulher” é mais que uma data comemorativa, é a oportunidade para que o mundo possa ouvir os anseios e fazer valer os direitos humanos e sociais garantidos por Leis a elas. 

“A data serve para lembrar que a mulher pode tudo! Mulher tem que obedecer apenas a ela e mais ninguém! Não deixe se rebaixar e nem humilhar. Nós somos fortes e vamos mudar esse mundo para melhor, pois juntas somos mais”, comemorou Fran com um semblante de felicidade e mostrando sua aquisição.

Para Tiffany a data serve para influenciar as outras mulheres a praticar mais empoderamento em todas as profissões. É sinônimo de reflexão sobre a luta e as conquistas das mulheres principalmente por respeito e igualdade dos gêneros.

“O lugar da mulher é aqui, dentro deste estúdio. É onde ela quiser. É dentro da cozinha ou fora dela. É ouvindo música ou fazendo música. É ouvindo Rock ou MPB. Lugar de mulher é na política, na segurança, enfim, em todas as áreas. Feliz nosso dia, meninas!”, concluiu. 

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